segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Nasce um novo empresário contábil

Pensar no cliente e fazê-lo se sentir especial, identificar segmentos de mercado ainda inexplorados e com grande potencial de crescimento e ainda oferecer novos serviços à base de clientes já consolidada. Recomendações básicas nos cursos voltados ao empreendedorismo e à formação de executivos de ponta foram amplamente exploradas durante o XII Encontro das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento do Noroeste Paulista, promovido pelo SESCON-SP em Araçatuba, no interior de São Paulo, para as empresas da cidade anfitriã e da vizinhança – regiões de Birigui, Lins, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto.

Desde o início da manhã do dia 20 de Julho, o auditório da Universidade Paulista (Unip) – Araçatuba, foi completamente tomado por empresários e profissionais ligados às organizações contábeis para o encontro anual da região. Com o tema “Conteúdo, valorização e inovação”, o evento contou com palestras técnicas, caso da apresentação de Samuel Kruger – auditor-fiscal da Receita Federal do Brasil e Supervisor do eSocial da EFD-Reinf; e do Painel “Esclarecendo a Reforma Trabalhista”, que teve a contribuição dos advogados especialistas Fábio Lemos Zanão e Jorge Gonzaga Matsumoto; e com outras duas intervenções voltadas à gestão empresarial e ao desenvolvimento de lideranças.

Pensar no outro, seja ele o cliente, o colaborador ou colega de trabalho foi a principal mensagem do evento. Ao longo do dia, os participantes foram sendo brindados com conhecimento de alto nível sobre questões diversas da contabilidade.

Falando a uma plateia com mais de 400 profissionais, Kruger abordou, com riqueza de detalhes, a importância das empresas atenderem as obrigações do eSocial, do DCTF Web e do EFD- Reinf, com qualidade e precisão das informações, e esclareceu várias dúvidas dos contadores.

“É importante lembrar que quem está obrigado ao eSocial também está obrigado à DCTF Web e à  EFD – Reinf. Muito tem se divulgado sobre o eSocial e esquecido que, em paralelo, tem estas duas obrigações. Parte do que nós temos hoje na GFIP está indo para eSocial e a outra parte está indo para EFD – Reinf. Daí a importância de se lembrar da obrigatoriedade destas três declarações”, ponderou.

A DCTF Web é o canal que o contribuinte terá para confessar o seu débito e gerar o documento de arrecadação. Não há a possibilidade de geração de um documento de arrecadação avulso, segundo Kruger, ao dizer que as informações deste canal são consequência da transcrição da EFD – Reinf. “Se o contribuinte tem só uma ou outra, pode transmitir isoladamente. Mas se tem os dois tem que transmitir a DCTF completa”, colocou.

Ele também incentivou a plateia a explorar o ambiente de validação das informações antes de implantá-las em definitivo. “A principal orientação é que este segundo grupo se adiante. Não deixe para a última hora, quando sempre acontece algum imprevisto e ocorrem erros que, se forem antecipados, podem aliviar muitos problemas”, declarou.

Kruger lembrou que o eSocial entrou em sua segunda etapa da implantação, sendo obrigatório para todas as empresas privadas do país – incluindo micros e pequenas organizações, microempreendedores individuais (MEIs) que possuam empregados e segurados especiais. “Este segundo grupo pode se aproveitar das experiências do primeiro grupo, de grandes empresas, que entrou em janeiro com as tabelas e vivenciou algumas situações que podem orientar os processos nesta fase atual”, citou.

Desde o dia 16 de julho, os empregadores estão enviando, mas não obrigatoriamente, eventos cadastrais e tabelas da empresa. Esta fase inicial se estenderá até o dia 31 de agosto. Em 1º de setembro começa a fase de povoamento do eSocial com a informações cadastrais dos trabalhadores vinculados aos mais de 4 milhões de empregadores e, finalmente, em novembro, teremos as remunerações destes quase 3 milhões de trabalhadores e o fechamento das folhas de pagamento no ambiente nacional.

Estão previstos novos portais do eSocial, onde os empregadores poderão inserir diretamente as informações, sem necessidade de sistemas para integração. A Receita criou um portal específico para os MEIs, um ambiente simplificado, que se assemelha ao eSocial do Empregador Doméstico e no qual não é necessário o uso de certificado digital, podendo o empregador acessá-lo por meio de código de acesso. Mas somente os 155 mil MEIs que possuem empregados estão obrigados ao eSocial.

GRANDES EMPRESAS

Desde janeiro deste ano, o eSocial já é obrigatório para mais de 13 mil empresas do país, que possuem faturamento anual superior a R$ 78 milhões anuais. Com a entrada dessas empresas, já existem informações de quase 12 milhões de trabalhadores na base de dados do eSocial. Atualmente, 97% delas integram o eSocial e estão fazendo os ajustes finais para o fechamento integral das folhas de pagamento na nova plataforma.

Sobre a decisão de liberar esse segundo grupo para cumprirem as três fases de implementação do eSocial em novembro, Kruger ressaltou que as empresas do Simples Nacional poderão entregar todas as suas informações a partir daquele mês, mas a obrigatoriedade não foi postergada, ou seja, continuam valendo a partir de julho. “Eu oriento as empresas que não estão preparadas a prestar informações pelo menos a partir de setembro, que é quando inicia a fase da entrega dos eventos não periódicos. Se estes eventos não forem registrados, quando chegar novembro, as empresas terão que informar retroativamente”, ponderou.

REFORMA TRABALHISTA

O presidente do SESCON-SP e da AESCON-SP, Márcio Massao Shimomoto, durante a cerimônia de abertura do evento, destacou o papel dos encontros regionais, que levam o conhecimento e o debate até as empresas associadas, e também o do SESCON-SP, que tem se esforçado para oferecer novos serviços.

“São formas de multiplicar o conhecimento”, ponderou o presidente. Ele também ressaltou as brigas políticas que o SESCON-SP trava no legislativo em prol da categoria, como no caso da reoneração da folha de pagamento, que volta à tona “para virar insumo do PIS/Cofins” e da reforma trabalhista, que ainda gera polêmica e não atingiu o seu objetivo principal de geração de empregos.

Para ele, estas são formas de fortalecer o papel dos sindicatos, algo ainda mais necessário agora que a contribuição sindical se tornou facultativa, devido à Reforma Trabalhista, assunto que também foi abordado em outro painel do evento em Araçatuba.

O assunto é polêmico e reforçado por diversas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) ainda a serem julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para o especialista em direito trabalhista, Fábio Zanão, sócio do Fortunato, Cunha, Zanão e Poliszezuk Advogados Associados, a reforma não foi boa e trouxe pontos de insegurança jurídica.

Segundo ele, a nova legislação trabalhista foi editada com muitas falhas e a revogação da Medida Provisória 808/17, que regulamentava algumas contradições da lei, reacendeu a incerteza. “Parece que o Congresso está para editar um decreto presidencial para que os assuntos da MP voltem, mas isso não resolverá os problemas”, disse.

A solução seria criar uma nova legislação, algo improvável durante este ano, ou esperar que o STF se posicione sobre os pontos inconstitucionais da reforma, explica Zanão. A situação é tão incerta que o advogado aconselha que as empresas usem o princípio do “mal menor”, aplicando a antiga CLT até que o tema seja esclarecido.

Em posição contrária, o advogado Jorge Gonzaga Matsumoto acredita que a reforma está no caminho e não vê qualquer inconstitucionalidade na nova lei. Durante o painel mediado pela diretora do SESCON-SP, Terezinha Anneia, o advogado apresentou pontos positivos da reforma e disse acreditar na geração de empregos a médio e longo prazo.

O NOVO POSICIONAMENTO DO CONTADOR

O lema dos encontros regionais deste ano é “Conteúdo, Valorização e Inovação”. Nas duas últimas palestras realizadas no dia do encontro em Araçatuba, o tema foi amplamente explorado. Primeiro pelo evangelista tecnológico, mentor, professor e consultor Roberto Dias Duarte. Especializado no segmento contábil, ele apresentou à plateia alternativas de gestão empresarial, e defendeu que as organizações busquem enfatizar os seus diferenciais. Por exemplo, com posicionamento em nichos de mercado, ou mesmo estabelecendo verdadeiras parcerias com os seus clientes.

“Por que ao invés de simplesmente enviar uma certidão solicitada pelo cliente, com o dizer ‘segue conforme solicitação’, você não deseja ao cliente que aquele documento lhe gere excelentes negócios?”, ponderou.

Ao prescrever uma nova forma de oferecer o serviço contábil, considerando que a tecnologia vai assumir a rotina de boa parte das obrigações acessórias, Duarte defendeu um novo posicionamento ao empresário contábil e exemplificou utilizando o modelo de gestão da Disney. “Os clientes querem experiências”, disse.

Considerando que o modelo de gestão deve ser pensado e defendido por um líder – o dono da empresa e também os gestores de departamento, Eduardo Shinyashiki, mestre em Neuropsicologia e Liderança Educadora, abriu a palestra de encerramento do encontro apresentando um estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostrando que a probabilidade da contabilidade acabar é de 93,5%. Mas calma! O dado reflete à velha forma de trabalho, com a imputação de dados em sistemas para envio ao governo, coisa que softwares já conseguem fazer sozinhos.

Shinyashiki explicou que a inteligência artificial vai acabar com os processos burocráticos e técnicos, mas não terá capacidade para lidar com situações sociais e criativas. Da mesma forma, profissões que lidam com essas habilidades tendem a crescer, como a direção de empresas e consultoria.

Ele explicou que o futuro da profissão contábil é encontrar clientes para formar parcerias. Para isso, sete passos são necessários, sendo o primeiro deles descobrir o nicho de mercado mais valioso para sua empresa, escolhendo o perfil de cliente mais adequado ao seu negócio.

O segundo passo é compreender cada um de seus clientes e seu modelo mental. Ele é inovador ou conservador? Ele é adepto à tecnologia? Este conhecimento é necessário para oferecer o serviço mais adequado para cada um deles e passar para o seguinte passo, que é inovar o modelo de negócios a partir do digital, oferecendo serviços e experiências como a contabilidade digital. O quarto passo é apostar no marketing de conteúdo, aproveitando o uso de redes sociais para maximizar o alcance da empresa e a presença com seu público final.

Em seguida, Shinyashiki aconselhou criar pacotes de serviço. Dessa forma, é possível atender diferentes tipos de clientes e entregar serviços já definidos, facilitando inclusive a negociação. A estratégia seria parecida com os pacotes oferecidos por empresas de tecnologia, onde um preço mensal é pago para consumir diferentes tipos de produtos. Quanto maior a quantidade de serviços oferecidos, maior o preço.

O sexto passo é a evolução do anterior: o solution selling, uma espécie de venda consultiva na qual o relacionamento entre cliente e prestador de serviço chega ao ponto de parceria. Shinyashiki explicou que, neste ponto, o contador passa a analisar as necessidades do cliente e desenvolver uma solução potencial.

No último ponto, chega-se à experiência do cliente. Shinyashiki foi claro e afirmou que a boa experiência tem que vir junto com todo o benefício da solução/serviço. “Experiência sem sucesso é igual enganação, enquanto sucesso sem experiência é igual sofrimento. O cliente deve ter a sensação de que seu problema foi resolvido e sem estresse”, finalizou sob aplausos.

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