A gestão das empresas vem revelando importantes avanços em sua forma de atuação, saindo de uma postura convencional de busca do lucro e rentabilidade para um enfoque preferencialmente voltado à riqueza dos acionistas. No mundo globalizado, torna-se cada vez mais difícil às organizações viabilizar economicamente seus investimentos através de decisões direcionadas ao aumento de preços e de participação de mercado, conforme consagradas por longo tempo no passado.
Os consumidores em economias abertas sacrificam impiedosamente os produtos caros, exigindo preços cada vez mais competitivos. O crescimento da competitividade ainda costuma exigir vultosos investimentos para ganhos adicionais de market share, avaliados muitas vezes como de difícil recuperação econômica. O conceito de qualidade no mercado globalizado, onde as empresas devem buscar vantagens competitivas, deixa de ter relação direta com a durabilidade do ativo, vinculando-se ao interesse despertado pelo produto e seu preço. A estratégia competitiva de qualidade é oferecer o produto que o consumidor deseja adquirir pelo preço que esteja disposto a pagar, sem maior vínculo com a qualidade material de seus componentes de fabricação.
A redução de despesas tendo como base o corte de valores monetários, outra medida adotada com ampla preferência, não introduz maior vantagem competitiva na nova ordem econômica, onde todas as empresas podem ter acesso e seguir o mesmo receituário de economia de gastos. A supremacia da empresa nesses ambientes competitivos encontra-se em descobrir suas ineficiências operacionais antes de seus rivais de mercado, atividade difícil e que dará o verdadeiro diferencial competitivo diante da concorrência.
O objetivo de criar valor aos acionistas demanda outras estratégias financeiras e novas medidas do sucesso empresarial, todas elas voltadas à agregação de riqueza aos seus proprietários. Criar valor para uma empresa ultrapassa o objetivo de cobrir os custos explícitos identificados nas vendas. Incorpora a remuneração dos custos implícitos (custo de oportunidade do capital próprio investido), não cotejados pela contabilidade tradicional na apuração dos demonstrativos de resultados, e consequentemente a quantificação da riqueza dos acionistas.
Essa visualização da moderna gestão das empresas, voltada à criação de valor aos seus proprietários, passa a exigir uma atuação mais destacada e sofisticada da Contabilidade, devendo cobrir as necessidades de informações dos vários agentes de mercado. Em verdade, a Contabilidade como ciência demonstra enorme potencial de seus instrumentos e modelos teóricos em atender as qualificadas exigências do mercado globalizado, necessitando, no entanto, que seus profissionais tenham melhor interpretação do atual contexto dos negócios. O mundo globalizado promoveu relevantes mudanças na gestão dos negócios, e o conceito de crise está, em sua maior parte, em não se compreender as novas tendências e regras de mercado.
Apesar de derivar de um conceito bastante antigo, a busca de valor para os acionistas constitui-se no objetivo fundamental da empresa moderna. Diversas razões podem explicar esse comportamento:
- a abertura de mercado demonstrou, para inúmeros executivos, que os preços são estabelecidos pela interação de oferta e demanda dos agentes econômicos, e não unicamente do ponto de vista da empresa. É o mercado que avalia os investimentos empresariais, cabendo à unidade decisória a responsabilidade de ser eficiente em suas decisões, selecionando as melhores estratégias financeiras que adicionam riqueza aos acionistas;
- a globalização vem atuando de forma bastante acentuada sobre os mercados financeiros, resumindo-os praticamente a um único mercado mundial. Investidores são capazes, no ambiente globalizado, de mudar rapidamente os fluxos de seus capitais, procurando alternativas mais atraentes em qualquer parte do mundo. Ativos que não criam valor são rapidamente identificados pelos investidores globais, repercutindo sua desvalorização em todos os mercados;
- o mercado competitivo atual deixa espaço somente para empresas eficientes, que se mostram capazes de agregar valor em suas decisões. A melhor medida do sucesso empresarial em mercado competitivo é a criação de valor aos seus proprietários. O lucro somente garante a continuidade de um empreendimento se conseguir, pelo menos, igualar-se ao custo de oportunidade do capital investido;
- o desenvolvimento profissional dos modernos executivos, e a própria preservação de seus postos de trabalho, passam necessariamente pelo atendimento das expectativas dos acionistas de maximização do valor de mercado da empresa.
Algumas dificuldades práticas de consolidação de uma gestão baseada no valor podem ser encontradas. Uma barreira inicial é a própria cultura da empresa que impede maiores modificações em seu controle e processo decisório. Mudanças são sempre questionadas, principalmente se envolvem novos paradigmas de gestão. Experiências recentes com empresas que adotaram o valor como objetivo empresarial revelam grandes dificuldades em adequar a cultura tradicional à meta de valor, demandando às maiores empresas um prazo estimado de dois anos para adequar toda a estrutura da empresa à nova proposta.
Outra dificuldade identificada é o conflito entre lucro e valor. Diversas decisões promovem uma elevação nessas duas medidas, satisfazendo as diferentes correntes administrativas. No entanto, outras decisões são capazes de, ao mesmo tempo, valorizar uma empresa não alterando, ou até mesmo reduzindo, o seu lucro. Esta última situação é de mais difícil entendimento, principalmente ao não ser revelada de maneira explícita pelos demonstrativos financeiros convencionais, exigindo um conhecimento mais apurado de seus usuários e informações mais privilegiadas.
Recomendações para a Utilização de um Modelo de Gestão Baseada em Valor
- Desenvolver uma medida econômica de valor que possa revelar o valor criado ou destruído para os acionistas. A medida mais adequada é o “valor econômico agregado”, resultado apurado pela empresa em excesso ao seu custo de capital.
- Utilizar a medida de criação de valor em toda a organização.
- Criar mecanismos de incentivos aos vários agentes da empresa, premiando aqueles que atuaram na criação de valor.
- Desenvolver e utilizar direcionadores de valor (value drivers) em todos os níveis organizacionais e para todo o processo de avaliação e tomada de decisões.
- Buscar metas e estratégias corporativas que levem à criação de valor para os acionistas.
- Esclarecer e disseminar o conceito de valor para toda a empresa, criando uma nova cultura de gestão.
ALEXANDRE ASSAF NETO
Economista e pós-graduado (mestrado e doutorado) em Métodos Quantitativos e Finanças no exterior e no país. Possui o título de livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP). Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP e atua como professor e coordenador de cursos de desenvolvimento profissional, treinamentos in company e cursos de pós-graduação lato sensu – MBA. Autor e coautor de vários livros e mais de 70 trabalhos técnicos e científicos publicados em congressos e em revistas científicas com arbitragem no país e no exterior. Consultor de empresas nas áreas de Corporate Finance e Valuation e parecerista em assuntos financeiros.
Fonte: Gennegociosegestao.com.br/
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