É comum afirmar que a Análise das Demonstrações Contábeis é tão antiga quanto a própria Contabilidade. Se nos reportarmos para o início provável da Contabilidade (± 4000 a.C.), em sua forma primitiva, encontraremos os primeiros inventários de rebanhos (o homem que voltava sua atenção para a principal atividade econômica: o pastoreio) e a preocupação da variação de sua riqueza (variação do rebanho).
E por se exigir, de início, apenas o Balanço para a Análise é que se introduz a expressão Análise de Balanços, que perdura até nossos dias. Com o tempo, começou-se a exigir outras demonstrações para análise e para concessão de crédito, como a Demonstração do Resultado do Exercício; todavia, a expressão Análise de Balanços já é tradicionalmente utilizada. Como forte argumento para a consolidação da denominação Análise de Balanços, salientamos que a Demonstração do Resultado do Exercício foi conhecida, em certo período, como Balanço Econômico (Balanço de Resultado). A denominação Fluxo de Caixa já foi conhecida como Balanço Financeiro; então, tudo era Balanço.
A Análise das Demonstrações Contábeis, também conhecida como Análise das Demonstrações Financeiras, desenvolve-se ainda mais com o surgimento dos Bancos Governamentais bastante interessados na situação econômico-financeira das empresas tomadoras de financiamentos.
A abertura do Capital por parte das empresas (Corporation-S.A.), possibilitando a participação de pequenos ou grandes investidores como acionistas, leva-os à escolha de empresas mais bem-sucedidas, tornando-se a Análise das Demonstrações Contábeis um instrumento de grande importância e utilidade para aquelas decisões. As operações a prazo de compra e venda de mercadorias entre empresas, os próprios gerentes (embora com enfoques diferentes em relação aos outros interessados), na avaliação da eficiência administrativa e na preocupação do desempenho de seus concorrentes, os funcionários, na expectativa de identificarem melhor a situação econômico-financeira, vêm consolidar a necessidade imperiosa da Análise das Demonstrações Contábeis.
Por outro lado, o Balanço Patrimonial continua sendo cerne da Análise Financeira. Num certo sentido, todas as demonstrações convergem para o Balanço. No item 1.1.1, a seguir, explicamos este fenômeno.
Demonstrações Contábeis que explicam o Balanço Patrimonial
Todas as Demonstrações Contábeis ajudam a explicar o Balanço Patrimonial, conforme podemos ver na figura abaixo:
Demonstrações contábeis suscetíveis de análise
Indubitavelmente, todas as Demonstrações Contábeis (DC) devem ser analisadas:
• Balanço Patrimonial (BP);
• Demonstração do Resultado do Exercício (DRE);
• Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (ou Mutações do PL);
• Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC);
• Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
Maior ênfase é dada para as duas primeiras demonstrações, uma vez que, por meio delas, são evidenciadas de forma objetiva a situação financeira (identificada no BP) e a situação econômica (identificada no BP e, em conjunto, na DRE). O primeiro passo para a análise é averiguar se estamos de posse de todas as Demonstrações Contábeis (inclusive Notas Explicativas). Também seria desejável ter em mãos as Demonstrações Contábeis de três períodos. Com as publicações em colunas comparativas, teremos, de posse de uma única publicação, dois períodos: exercício atual e exercício anterior.
Em seguida, deveremos averiguar a credibilidade das Demonstrações Contábeis. O parecer da auditoria nas Demonstrações Contábeis (DC) dá uma satisfatória margem de confiabilidade para o analista (no Capítulo 19 do livro Contabilidade empresarial, abordamos quanto à qualidade do parecer de auditoria). Todavia, não havendo parecer da auditoria, deverão ser tomados alguns cuidados, recomendando-se ao analista uma dose maior de conservadorismo. Infelizmente, nem sempre as DC refletem a realidade, principalmente nas pequenas empresas.
Recentemente, num programa de treinamento a empresários do interior do Estado de São Paulo, procuramos transmitir algumas técnicas de Administração Financeira com base nas DC. No final do curso, alguns empresários nos procuraram elogiando as técnicas expostas, mas lamentando sua inaplicabilidade, pois as demonstrações de suas respectivas empresas estavam distantes da realidade econômico-financeira da empresa.
O segundo passo é preparar as DC de forma conveniente para a análise. Essa etapa denominamos de Reclassificação de Itens nas Demonstrações Contábeis. É bem verdade que a Lei das Sociedades por Ações veio trazer a tão esperada padronização das Demonstrações Contábeis para todos os tipos societários (sendo estendida pelo Imposto de Renda aos demais tipos societários), facilitando sobremaneira a reclassificação das demonstrações. Antes daquela lei, existia a incumbência adicional de o analista traduzir as demonstrações para um modelo-padrão, porquanto havia diversas formas de estruturar as demonstrações (Lei, Circulares do Banco Central, Tradição Contábil etc.). Pelo fato de nos defrontarmos com demonstrações padronizadas, entretanto, não significa que seja dispensável um tratamento mais rigoroso de ajustes, de reclassificação de contas. É imprescindível a preparação das peças contábeis para uma análise mais realista.
JOSÉ CARLOS MARION
É mestre, doutor e livre-docente em Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/ USP). É professor e pesquisador do Mestrado em Contabilidade na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Dentre os 29 livros publicados na área contábil, é autor de Contabilidade rural, Contabilidade empresarial e Contabilidade básica e coautor de Curso de contabilidade para não contadores, Contabilidade avançada, Introdução à teoria da contabilidade, Contabilidade comercial, Administração de custos na agropecuária, Manual de contabilidade para pequenas e médias empresas, Contabilidade geral para concurso público, Contabilidade da pecuária e Normas e práticas contábeis, publicados pelo GEN | Atlas.
Fonte: Gennegociosegestao.com.br/
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