Os índices são relações que se estabelecem entre duas grandezas; facilitam sensivelmente o trabalho do analista, uma vez que a apreciação de certas relações ou percentuais é mais significativa (relevante) que a observação de montantes, por si só. Assim, se a empresa tiver um Ativo Circulante (AC) de $ 396.420 e um Passivo Circulante (PC) de $ 198.210, fica um tanto difícil analisar sua exata capacidade de pagamento. Todavia, se dividirmos o AC pelo PC, encontraremos um índice geral igual a $ 2,00, ou seja, para cada $ 1,00 de obrigação (passivo) há $ 2,00 de Ativo Circulante (dinheiro + valores que se transformarão em dinheiro).
Observe que diminuímos 49 no PC, uma vez que houve pagamentos das obrigações e consequente redução da dívida. Para esse pagamento utilizamos 49 de dinheiro do AC e, assim, reduzimos o caixa da empresa. Na verdade, não houve mudança na situação financeira da empresa. Somente uma redução de 49 do AC no PC (a capacidade de pagamento da empresa é a mesma). Se dividirmos o AC pelo PC, obteremos um índice de $ 51,00, o que não significa que houve melhora na capacidade de pagamento da empresa de 25 vezes, pois a situação é a mesma. Nesse caso, houve uma manipulação, não sendo considerada má-fé.
Outra situação a que o analista deve estar atento é a base utilizada para o cálculo de diversos índices.
Poderíamos dizer que o decréscimo na rentabilidade de X0 para X1 foi de 20%, e que o acréscimo de X1 para X2 foi também de 20%.
Todavia, seria correto tomarmos como base o ano de X0, uma vez que o primeiro cálculo (– 20%) foi realizado com essa base.
Assim, diríamos: houve decréscimo na rentabilidade de X0 para X1 em 20% e acréscimo (recuperação) de 16% de X1 para X2.
Exemplo de interpretação distorcida de índice
O gerente da Cia. Lubrificação foi demitido pelo diretor-presidente, pois o lucro da empresa caiu de $ 1,0 milhão para $ 700 mil. O relatório de análise indica um decréscimo de 30%.
Para o ano de 20X3, foi contratado o Sr. Distorce Tudo, na qualidade de gerente. Como “resultado de seu esforço”, conseguiu atingir o montante de $ 910 mil de lucro. O relatório de análise, elaborado pelo próprio gerente, indica um acréscimo de 30% e um parecer do qual consta a “satisfação” em recuperar plenamente o decréscimo do ano anterior. O relatório é elaborado da seguinte forma:
Você concorda com o relatório acima? Como pode o lucro de uma empresa decrescer em 30% e, no ano seguinte, ser recuperado plenamente, em termos percentuais, se em 20X1 o lucro era de $ 1,0 milhão e do ano 20X3 é de $910 mil?
Reclassificação das Demonstrações Contábeis (DC)
Significa uma nova classificação, um novo reagrupamento de algumas contas nas Demonstrações Contábeis (DC), sobretudo no Balanço Patrimonial e na Demonstração do Resultado do Exercício. São alguns ajustes necessários para melhorar a eficiência da análise. Por meio de agrupamento de contas nas DC, pode-se melhorar a situação econômico- financeira da empresa fazendo uso de certa “esperteza”. Se uma empresa, por exemplo, dispõe vender um imóvel que até o momento estava classificado no Imobilizado Permanente (Ativo Não Circulante), classificando essa conta no Ativo Circulante, o analista terá que reclassificá-lo.
Classificando-o no Ativo Circulante, evidentemente a situação financeira a curto prazo melhorará. Todavia, não é fácil vender o imóvel e receber no mesmo ano. O ideal seria Realizável a Longo Prazo, não obstante seja menos eficaz no momento de mensurar a capacidade de pagamento da empresa a curto prazo. Nesse exemplo, o analista reagrupa “Imóveis à Venda” do Circulante para o Não Circulante (Realizável a Longo Prazo). Outras vezes, mesmo sendo o contador imparcial no agrupamento das contas, há necessidade de interferência do analista.
É o caso de Receita Financeira, que legalmente é Operacional, mas na realidade deveria estar no grupo Não Operacional. Se quisermos apurar a verdadeira taxa de rentabilidade obtida pela atividade operacional, deveremos reclassificar tanto as Despesas Financeiras como as Receitas Financeiras no grupo Não Operacional.
JOSÉ CARLOS MARION
É mestre, doutor e livre-docente em Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/ USP). É professor e pesquisador do Mestrado em Contabilidade na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Dentre os 29 livros publicados na área contábil, é autor de Contabilidade rural, Contabilidade empresarial e Contabilidade básica e coautor de Curso de contabilidade para não contadores, Contabilidade avançada, Introdução à teoria da contabilidade, Contabilidade comercial, Administração de custos na agropecuária, Manual de contabilidade para pequenas e médias empresas, Contabilidade geral para concurso público, Contabilidade da pecuária e Normas e práticas contábeis, publicados pelo GEN | Atlas.
Fonte: Gennegociosegestao.com.br/
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