Os conselheiros independentes da Petrobras criticaram, durante a reunião do conselho de
administração da semana passada, o prazo curto e a falta de documentos para aprovação das demonstrações financeiras do terceiro trimestre e do ano de 2014.
Os votos em separado dados pelos conselheiros José Monforte, Mauro Cunha (ambos representantes dos minoritários) e Silvio Sinedino (representante dos trabalhadores) foram divulgados nesta terça-feira pela petroleira ao mercado.
De acordo com Monforte, a inexistência de uma reunião anterior para que os conselheiros apreciassem os números inviabilizou a análise dos resultados “dentro do prazo de tempo oferecido”.
“Com a ausência do mínimo de tempo, tornou-se impossível concluir a diligência de revisão das demonstrações financeiras, impossibilitando me posicionar em relação aos documentos apresentados”, diz o voto de Monforte, que se absteve de votar o balanço e votou contra o pagamento de participação de lucros e resultados (PLR) aos funcionários.
Monforte ainda considerou “inadequado” o lançamento da perda de 3% sobre os contratos envolvidos na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
Além de Monforte, Mauro Cunha votou contra o pagamento da PLR, mas também votou contra a aprovação do balanço. Silvio Sinedino voltou a favor da PLR, mas contra a aprovação do balanço.
Superavaliação de ativos
A baixa contábil por imparidade ("impairment", que avalia o que o conjunto de ativos pode gerar de resultados em relação aos valores contábeis) de R$ 44,6 bilhões feita pela Petrobras no balanço de 2014, divulgado na semana passada, “não guarda relação com a dimensão da superavaliação” dos ativos da companhia. A afirmação consta do voto de Mauro Cunha, que não aprovou o balanço da empresa.
Cunha citou como exemplo a refinaria de Abreu e Lima, a RNEST, que estaria registrada nos livros contábeis “ao impressionante múltiplo de 27x Ebitda”. Segundo ele, o "impairment" proposto pela companhia leva esse indicador para 22x, “ainda muito superior a qualquer parâmetro aceitável”.
O conselheiro acrescenta que houve a adoção de “uma série de premissas que, embora até justificáveis isoladamente (em alguns casos), no seu conjunto apontam numa só direção: a falta de conservadorismo na análise”.
Segundo ele, a companhia adota uma taxa de alavancagem consideravelmente superior àquela utilizada pelos avaliadores independentes. Cunha diz que foi usada uma taxa de desconto inferior em quase 300 pontos-base em relação à avaliação feita pelos peritos independentes.
“O que se vê é uma escolha de parâmetros que tem como resultado diminuir os ajustes requeridos às demonstrações financeiras. Considero tais práticas equivocadas”, disse Cunha em seu voto.
Ele também questionou a baixa de R$ 6,2 bilhões feita devido à corrupção. Segundo ele, foi “inoportuno” realizar a “baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente”.
“Entendo que o impairment bem feito teria sido o que esta companhia deveria fazer neste momento para se assegurar que seus ativos estejam adequadamente reportados”, disse Cunha em seu voto.
(Rafael Rosas | Valor)
Fonte: Valor
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