A
proposição de valor para clientes é uma componente fulcral da estratégia das
organizações. Para aquelas que utilizam ou planeiam utilizar o balanced scorecard para gerirem a execução das suas
estratégias, a proposição de valor torna-se imprescindível.
O conceito
de proposição de valor para clientes não é novo. Tem sido usado de forma
generalizada, principalmente pelas empresas do setor privado, a partir do
início dos anos 90 do século passado. Uma definição sintética de proposição de
valor poderá ser «a razão pela qual os clientes compram os produtos e/ou
serviços que determinada organização vende.» Este conceito tem a vantagem de
ser simples e direto, mas pode induzir que se trata de uma prática exclusiva
das empresas privadas executada nas áreas operacionais através dos
departamentos comerciais e gestão de marketing. Na realidade, não é assim. Trata-se de um conceito crucial ligado à
definição e execução da estratégia global e que é aplicável a todos os tipos de
organizações – empresas, serviços públicos e entidades privadas não lucrativas.
Nos últimos
cinco anos a gestão das organizações em geral tornou-se mais complexa, e
perspetiva-se o aumento dessa complexidade no futuro, por força da dinâmica das
mudanças que estão a ocorrer em várias dimensões, nomeadamente: reforço do poder
dos clientes, necessidade de adaptar estruturas organizacionais, novas formas
de coordenação do trabalho, inovação, tecnologias, formas de comunicação e
novos conceitos de valores partilhados. Cada organização, pública ou privada,
terá que definir cada vez com maior clareza perante os seus clientes, parceiros
e outras partes interessadas qual é o seu propósito ou razão de ser. Neste contexto
de mudança de paradigma na gestão, a proposição de valor para clientes assume,
em nossa opinião, ainda maior relevo. Significa que cada organização, independentemente
do setor de atividade, modelo de gestão e sistema que utiliza para gerir a sua
estratégia, terá que definir e comunicar claramente quais os clientes que
pretende servir, que necessidades satisfaz, quais as características
distintivas do seu produto/ serviço, como cria valor através dessa distinção e,
finalmente, deverá executar todo este processo de forma consistente e
sustentável.
Com o objetivo
de abordar a importância da proposição de valor no contexto de mudança na
gestão das organizações, estruturámos o presente texto em três ideias chave:
Descrição
das diferentes proposições de valor, identificando as características de cada
uma e as opções de escolha disponíveis para as organizações;
•
Articulação entre a proposição de valor e o balanced scorecard através dos mapas da estratégia;
• Reflexão
sobre novas abordagens na escolha da proposição de valor em épocas de
turbulência económica.
Diferentes proposições de valor
No início
dos anos 90, Michael Treacy e Fred Wiersema, dois consultores de gestão
americanos, publicaram na «Harvard Business Review» um artigo com o título Customer Intimacy and Other Value Disciplines baseado no estudo que tinham
realizado ao longo de três anos em cerca de 40 organizações. Nesse artigo, que
continua a ser hoje a principal referência sobre o tema da proposição de valor,
os autores expandiram as duas estratégias competitivas genéricas antes desenvolvidas
por Michael Porter - diferenciação e liderança pelos custos – e identificaram
três modelos de estratégias, que designaram por value disciplines:
•
Excelência operacional;
• Liderança
no produto/serviço;
•
Proximidade com o cliente.
A proposição
«excelência operacional » traduz-se numa estratégia totalmente centrada na
eficiência das operações, com o objetivo de produzir bens e serviços de boa
qualidade, fornecidos de forma consistente a um preço baixo. Empresas
frequentemente citadas como exemplos: McDonald’s; American Airlines e outras
transportadoras no segmento low cost.
A proposição
«liderança no produto/serviço» consiste numa estratégia em que a organização
procura desenvolver continuamente produtos/serviços inovadores e de alta
qualidade para os seus clientes. Trata-se, geralmente, de produtos/serviços com
preço elevado, mas cujas características criam valor e atraem clientes que
estão dispostos a pagar esse preço como contrapartida da elevada qualidade
recebida. É frequente serem citados como exemplos desta estratégia algumas empresas
do setor automóvel: Mercedes e BMW.
A
proposição «proximidade com o cliente» baseia-se numa estratégia cujo principal
enfoque reside no tipo de relação que a organização desenvolve com os seus
clientes. A ideia é fidelizar, na base do conceito de «cliente para toda a
vida», através do qual a organização procura, de forma sistemática, criar soluções
que correspondam às necessidades efetivas dos seus clientes. Exemplo
internacional habitualmente citado: cadeia de hotéis Ritz-Carlton.
Treacy e
Wiersema comprovaram no seu estudo de 1992 que as empresas que tinham escolhido
uma das três proposições de valor como estratégia principal, mantendo níveis de
performance
médios nas outras
duas proposições, estavam a conseguir elevado sucesso em termos de quota de
mercado, crescimento dos resultados e retorno do investimento.
A figura 1
representa uma matriz com as principais características de cada uma das
proposições relacionando-as com três fatores críticos:
• Preço;
• Atributos
do produto/serviço;
• Nível de
relação com o cliente.
A figura 1
mostra-nos o seguinte: organizações que optem, por exemplo, pela excelência
operacional como principal estratégia centram-se fortemente na eficiência e
procuram melhorar os seus processos internos de forma a conseguirem praticar o
melhor preço, que constitui o seu principal fator crítico. Relativamente aos
outros dois fatores críticos – 1) atributos do produto/serviço (qualidade e imagem) 2) relação com o cliente – essas organizações terão apenas
que manter níveis médios aceitáveis (standards) uma vez que estes não são os fatores decisivos de sucesso assumidos
perante os seus clientes.
Figura 1 | Fatores críticos e características
das diferentes proposições de valor
Em 2004
surgiu uma quarta proposição de valor designada «inovação de valor» ou
«estratégia oceano azul» (value
innovation/blue ocean strategy) que tem vindo a ser gradualmente adotada por algumas organizações em diferentes
setores de atividade. O desenvolvimento conceptual desta nova opção estratégica
deve-se aos autores W. Chan Kim e Rennée Mauborgne, cuja primeira abordagem
surgiu no artigo intitulado Value
Innovation – The Strategic Logic of High Growth publicado na «Harvard Business
Review» (HBR) em 1997. Em 2004 estes autores publicaram um novo artigo na «HBR -
Blue Ocean
Strategy» – também
baseado no conceito de «inovação de valor» e, no final desse ano, publicam o
livro Blue Ocean
Strategy: How to Create Uncontested Market
Space and Make the Competition Irrelevant que definitivamente consolidou os
conceitos da quarta proposição de valor para clientes.
Esta
proposição de valor - blue ocean - traduz uma estratégia baseada na inovação na cadeia de valor. A organização que escolhe essa estratégia opta por inovar na sua cadeia de valor e criar um novo espaço no mercado no qual a concorrência se torna praticamente irrelevante, em vez de competir com os seus concorrentes no formato tradicional, traduzido nas três primeiras proposições de valor, através de modificações nos produtos, nos processos ou nos preços.
O caso
empresarial que melhor ilustra a proposição de valor blue ocean é o Cirque du Soleil que criou um novo conceito onde se combinam
elementos do circo tradicional com outros elementos mais sofisticados, tais como
abordagens baseadas no teatro, nos temas musicais, luz e som. Paralelamente, a
empresa reduziu a sua estrutura de custos, eliminando por exemplo as partes do
espetáculo tradicional de circo que envolviam animais. Através desta nova
estratégia o Cirque du Soleil
inovou na criação de
valor e captou audiências mais adultas que habitualmente não iam ao circo,
tendo conseguido taxas de crescimento nos resultados líquidos bastante
superiores às registadas pela sua concorrente, a empresa Ringling Bros. and Barnum & Bailey, líder mundial do negócio do circo.
Existem,
por consequência, atualmente quatro opções de proposição de valor para
clientes, as quais podem ser alvo de escolha por parte das diferentes
organizações – privadas, públicas ou entidades sem fins lucrativos. O princípio
base que foi sendo consolidado e aceite ao longo das últimas duas décadas é o
seguinte: cada organização deve escolher uma proposição de valor como
principal, definir a sua estratégia e direcionar as operações prioritariamente
para essa estratégia. Relativamente às restantes proposições de valor, a
organização deverá estar atenta e manter apenas níveis médios de performance. O princípio que aconselha optar
por uma proposição de valor única baseia-se na ideia de que «uma organização não
pode ser tudo para todos.»
Proposição de valor e balanced scorecard (BSC)
Cada
organização tem o seu modelo de gestão próprio, com estratégias, sistemas de
planeamento e ferramentas específicas. Independentemente do modelo que cada uma
utiliza, existem evidências que os resultados poderão melhorar se as
estratégias estiverem assentes numa sólida proposição de valor para clientes.
Quando o balanced scorecard (BSC) constitui a principal
ferramenta utilizada por determinada organização para executar a sua
estratégia, a escolha da proposição de valor torna-se verdadeiramente crucial.
Em primeiro lugar, porque essa escolha vai determinar a definição da própria estratégia.
Em segundo lugar, porque a estratégia terá que ficar explícita no mapa da
estratégia, o qual integra temas estratégicos que, por sua vez, deverão estar
articulados com a proposição de valor escolhida. Daqui se conclui que uma
estratégia definida sem ter por base uma proposição de valor consistente irá
muito provavelmente revelar-se desadequada passado algum tempo. Significa que, nessa
situação, o BSC apenas ajudará a executar uma estratégia incorreta, revelando
mais tarde, através dos respetivos indicadores de performance, que os resultados atingidos com a estratégia
não correspondem aos objetivos e metas fixados. A estratégia terá então que ser
redefinida utilizando uma proposição de valor mais consistente. O mapa da
estratégia e os temas estratégicos terão naturalmente que ser também revistos e
reajustados.
A figura 2
representa um esquema de articulação entre a proposição de valor e os temas
estratégicos que integram o mapa da estratégia no balanced scorecard. O conceito de tema estratégico,
que está bastante desenvolvido na bibliografia e práticas de BSC, pode ser definido
como «um conjunto de objetivos inter-relacionados.» Os temas estratégicos mais frequentes
nascem na perspetiva dos processos internos e os seus impactos refletem-se em
sentido vertical e ascendente para as perspetivas no topo do mapa da estratégia
– clientes e financeira. Embora menos frequentes, podem existir também temas
estratégicos na perspetiva aprendizagem e crescimento destinados a alavancar os
temas e objetivos definidos nos processos internos.
Figura 2 | Articulação entre proposição de valor e
temas estratégicos
No topo da
figura 2 constam as três proposições de valor mais utilizadas. Cada organização
poderá escolher uma dessas proposições como sendo a principal, na qual
concentra a sua estratégia. Uma empresa, ao construir o mapa da estratégia
definirá objetivos para as diferentes perspetivas começando pela financeira,
depois clientes. Quando chegar o momento de definir objetivos para os processos
internos vai ser necessário refletir sobre quais serão as operações e
atividades mais cruciais que, estando alinhadas com a principal proposição de
valor escolhida, produzam impactos nos objetivos de satisfação de clientes e
aumento de quota de mercado (perspetiva clientes) os quais, por sua vez,
conduzirão ao crescimento das receitas, resultados líquidos e retorno do
investimento (perspectiva financeira).
A interação
entre os objetivos nos processos internos e a proposição de valor torna-se
crucial neste momento. É frequente, e faz todo o sentido, existir provavelmente
o tema centrar-se-á em objetivos direcionados para a melhoria e
sustentabilidade da eficiência nas operações, condição fundamental para a empresa
conseguir custos reduzidos os quais permitirão apresentar aos seus clientes um
preço melhor que a concorrência. Se a opção for a proposição – «liderança no
produto/serviço» – o tema estratégico e os respetivos objetivos estarão
centrados na inovação, com o propósito de alinhar os processos, dotando-os de
potencial para transformarem as novas ideias em produtos/serviços que sejam
rapidamente colocados no mercado. Quando a empresa opta pela proposição – «proximidade
com o cliente» – o tema estratégico estará centrado no relacionamento com o
cliente, envolvendo objetivos que orientem os processos internos para manter um
conhecimento contínuo sobre as necessidades e preferências dos clientes, que
constituem a base para a construção de um relacionamento fidelizado e
duradouro.
Na
perspetiva aprendizagem e crescimento, colocada na base do mapa da estratégia e
que engloba três tipos de intangíveis – capital humano, capital informação e
capital organizacional – podem também surgir temas estratégicos, cuja função
principal poderá também estar direcionada para a proposição de valor escolhida
pela empresa. Neste caso, o tema estratégico na aprendizagem funcionará como
alavanca do tema definido nos processos em sintonia com a proposição de valor. De
acordo com a estratégia escolhida – eficiência, inovação ou relacionamento –
será dado o adequado enfoque nos objetivos ligados aos intangíveis mais cruciais
à concretização do tema definido nos processos internos. A figura 3 mostra um
exemplo baseado na proposição «proximidade com o cliente » que poderá tornar
mais clara esta abordagem.
Figura 3 | Exemplo aplicado à proposição de valor
«proximidade com o cliente»
A figura 3
exemplifica o tipo de temas e objetivos estratégicos que poderiam ter sido
definidos por uma organização que adotou a proposição de valor - «proximidade
com o cliente» – como estratégia principal. A perspectiva dos processos é
crucial em qualquer mapa da estratégia, na medida em que traduz «aquilo que
deve ser feito» pela organização para que os resultados sejam atingidos nas
duas perspetivas do topo. O exemplo na figura 3 mostra objetivos nos processos cujo
enfoque reside no conhecimento do cliente e no desenvolvimento de soluções
(produtos e serviços) que correspondam às suas necessidades e na criação de
relações duradouras (customer
lifetime value). O
título do tema «o cliente obtém exatamente o que necessita» é claro e ajuda a
focalizar e alinhar as equipas encarregadas de concretizar as operações internas
necessárias para o sucesso da estratégia de relacionamento com o cliente.
A figura 3
inclui também um tema e objetivos estratégicos na perspectiva aprendizagem, cuja
principal função é criar uma infraestrutura de intangíveis capazes de
alavancarem as operações cruciais que terão que ser executadas nos processos
internos. Na área do capital humano surgem objetivos direcionados para o
recrutamento e treino das pessoas, dotando- as de capacidades adequadas ao lema
«satisfação contínua do cliente.» As bases de dados e os sistemas de informação
são também extremamente importantes nesta proposição de valor, razão pela qual
surge o objetivo «bases de dados e sistemas CRM» - customer relationship management. No que respeita ao terceiro grupo
de intangíveis – capital organizacional – foram incluídos objetivos
direcionadas para a necessidade de adaptar estruturas e relações de autoridade
na organização, bem como a criação e interiorização de uma cultura traduzida no
lema «satisfazer continuamente para fidelizar clientes e expandir a quota de
mercado.» O título do tema «recursos e motivação para satisfazer o cliente» é também
explícito e consistente com os objetivos que integra.
Proposição de valor em períodos de
turbulência económica
A turbulência
económica que ocorre presentemente a nível mundial está a provocar fortes
mudanças nos negócios, nas organizações e na sociedade em geral. As
organizações sentem necessidade de se adaptarem, de forma a conseguirem manter o
seu lugar num mercado que muda constantemente. Nesta lógica, poderemos questionar
se o princípio consolidado e aceite ao longo das últimas duas décadas baseado
na ideia de que «cada organização deverá escolher e concentrar-se numa única
proposição de valor» continua a ser válido no momento atual caracterizado por economias
e modelos de negócio que mudaram radicalmente. A questão que se pode colocar é
a seguinte: será possível manter hoje, em simultâneo, duas estratégias baseadas
em diferentes proposições de valor?
Vários
autores, com destaque para Michael Porter, têm afirmado que não. Dizem que é
impossível uma organização manter, de forma sustentável, duas estratégias
simultâneas, as quais originam quase sempre opções de investimento
contraditórias, criam desalinhamento nos processos e provocam confusão junto
dos colaboradores e clientes, que deixam de perceber qual é o verdadeiro
propósito da organização. Esta opinião tem vindo a ser aceite, em termos de conceitos
e práticas organizacionais, como um verdadeiro princípio de gestão. Os próprios
criadores do balanced scorecard – Kaplan e Norton – tornaram-se adeptos e
defensores da escolha de uma «proposição de valor única» considerando-a como um
fator crucial para qualquer organização, antes de avançar para a construção do
mapa da estratégia no âmbito do balanced scorecard.
O atual
ambiente de recessão vivido em diversos países desenvolvidos originou mudanças
na procura. As pessoas em geral decidem cada vez mais as suas compras em função
da relação qualidade/preço. Implica que, mesmo as empresas que transacionam
produtos/serviços inovadores e de alta qualidade têm que refletir e tentar
encontrar oportunidades no mercado junto de classes sociais com rendimentos
mais baixos. Esta ideia reforça a questão que colocámos antes: será possível e
adequado manter uma dupla estratégia para conseguir vantagens competitivas em
ambiente de turbulência económica? Mais concretamente, será adequado para uma empresa
que sempre se posicionou na «liderança de produto/serviço» adotar também uma
estratégia de excelência operacional centrada nos processos e na oferta de
preços baixos? E o inverso? Isto é, será vantajoso para uma organização «líder nos
preços e na eficiência operacional» passar a adotar também práticas de inovação
que a direcionem para uma estratégia típica da «liderança no produto/serviço»?
Recentemente
têm surgido algumas referências a casos internacionais de empresas cujas
estratégias parecem evidenciar práticas baseadas na dupla proposição de valor.
É o caso, por exemplo, da transportadora aérea Singapore Airlines cuja estratégia
foi analisada na «Harvard Business Review» de julho/agosto de 2010. A empresa
possui uma grande reputação como prestadora de serviços de alta qualidade,
consolidada ao longo de mais de quatro décadas, tendo sido várias vezes
reconhecida e premiada como «transportadora aérea do ano». Nos últimos anos tem
conseguido executar uma dupla estratégia – liderança no produto/serviço e excelência
operacional - através da gestão de quatro paradoxos:
• Balancear
a prestação de serviços de excelência com a liderança nos custos, que lhe
permite oferecer uma boa relação qualidade/preço;
• Conciliar
duas formas de inovação: centralizada e descentralizada;
• Ser uma
empresa líder nas tecnologias e ao mesmo tempo uma seguidora;
• Conciliar
dois tipos de processos: standard e personalizados.
Talvez seja
adequado trazer este tipo de abordagem e reflexão para as organizações
portuguesas, nas quais os efeitos da crise, nomeadamente o desemprego e a perda
do poder de compra
estão a provocar alterações no mercado, particularmente em termos dos fatores
que mais influenciam a escolha e decisão de compra de bens e serviços por parte
dos consumidores.
Poderá ser
interessante refletir sobre a adequabilidade de duplas estratégias/proposições
de valor, por exemplo em empresas integradas em setores que, apesar da
conjuntura difícil, têm revelado nos últimos tempos bons indicadores de performance, inovação e crescimento, em
particular nos mercados externos, tais como: setores do calçado, vinhos,
hotelaria e turismo. Se essa reflexão estiver suportada na filosofia do balanced scorecard e mapa da estratégia, haverá melhores condições
para que as estratégias que forem definidas sejam consistentes com as
proposições de valor escolhidas. A execução dessas estratégias terá também
maior probabilidade de sucesso, na medida em que o mapa da estratégia permite, como
se viu, melhorar o alinhamento dos processos internos com a proposição de
valor. Por outro lado, esses processos estarão alavancados por um conjunto
crucial de intangíveis definidos como objetivos estratégicos na perspetiva
aprendizagem e crescimento (figuras 2 e 3 anteriores).
Conclusões
No presente
texto desenvolvemos uma abordagem estratégica dos conceitos e práticas
relacionados com a proposição de valor para clientes.
Muito
embora a aplicação prática do conceito não obrigue à utilização do balanced scorecard como principal ferramenta de
execução da estratégia, pensamos que o BSC pode constituir a espinha dorsal de
todo o processo de desenvolvimento da estratégia a partir da proposição de valor
para clientes - definição da estratégia, representação e teste da estratégia
através do mapa da estratégia, envolvendo perspetivas, temas estratégicos e
objetivos, seguindo-se depois a execução, monitorização e reajustamento da
estratégia, em conformidade com os resultados medidos através do Scorecard.
Nesta
lógica, apresentámos exemplos (figuras 2 e 3) de como poderá funcionar a
articulação entre a proposição de valor e o BSC, através dos temas estratégicos
definidos no mapa da estratégia, principalmente nas perspetivas dos processos
internos e aprendizagem e crescimento.
Abordámos
também a hipótese de, no contexto de turbulência e crise económica global, se
poder questionar o princípio da «escolha e concentração numa única proposição
de valor.» A alternativa consiste em conciliar duas estratégias simultâneas
baseadas em diferentes proposições de valor (dual value proposition) e procurar obter vantagens competitivas de forma
sustentável através deste novo posicionamento.
Trata-se de
uma ideia ainda recente, mas que começou já a ser explorada por algumas
organizações internacionais. As empresas que optam por esta nova solução têm
que gerir decisões que, na abordagem tradicional da proposição de valor “única”,
eram consideradas conflituantes, nomeadamente: investimentos, inovação, processos
e tecnologias. Este novo conceito de «dupla proposição de valor» parece ter, à
partida, ainda bastante potencial para explorar e testar na prática diária das
organizações.
Algumas empresas
portuguesas, nomeadamente aquelas que exportam para mercados externos, poderão querer
aprofundar a reflexão sobre este novo posicionamento estratégico e testar a
“dupla proposição de valor” nas suas estratégias futuras, não só no mercado nacional,
mas também no mercado externo onde têm que competir com outras empresas muito diversificadas
e de diferentes origens. Como se referiu no texto, os conceitos e práticas
relativas à proposição de valor para clientes são também aplicáveis às
organizações dos setores público e não lucrativo. Aliás, uma característica
importante do conceito de proposição de valor é a sua transferibilidade entre
organizações pertencentes a setores muito diferentes. Por exemplo, os fatores
críticos que possam ter determinado a escolha da proposição de valor proximidade com o cliente por parte de uma unidade hoteleira, poderiam
servir também de base para a mesma escolha num município ou num lar de idosos
gerido por uma entidade não lucrativa.
Naturalmente
que a aplicação do conceito nestes setores requer uma análise bastante específica,
na medida em que as organizações públicas e sem fins lucrativos apresentam cadeias
de valor diferentes do setor privado empresarial. Por essa razão considerámos
que não seria adequado desenvolver essa abordagem neste texto. Esperamos poder
fazê-lo numa outra oportunidade.
Bibliografia
disponível em («A Ordem – Publicações – Revista TOC – Bibliografia»)
Por Francisco José Simões Pinto - Doutorado em Gestão Docente
convidado na Universidade do Algarve
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