terça-feira, 19 de maio de 2015

19/05 A escrita, a Contabilidade e os contabilistas nas civilizações antigas do Próximo Oriente – Mesopotâmia (III)

Onde se fala na decisiva contribuição dos sumérios para o desenvolvimento da escrita e dos registos contabilísticos.

Os sumérios foram os primeiros povos das civilizações da Antiguidade, em território da Baixa Mesopotâmia, a inventar a escrita, cómoda e eficaz, talvez no ano 3300 a.C.,1 na cidade de Uruk (atual Warka, no Iraque)2. Essa invenção foi confirmada por dezenas de milhar de placas (ou tábuas) de argila, nas quais, na sua maioria, estão inscritos registos contabilísticos.3

Segundo Samuel Kramer «foi provavelmente cerca do quarto milénio a.C., há cinco mil anos, que os sumérios, compelidos pela necessidade da sua economia e da sua organização administrativa, tiveram a ideia de escrever sobre a argila»4: primeiro, através do desenho esquemático dos objetos (pictografia), utilizado para registos administrativos mais elementares. Nos séculos seguintes, escribas e “letrados” sumérios modificaram e aperfeiçoaram a técnica da sua escrita, de tal modo que a mesma perdeu o carácter pictográfico, transformando-se num sistema convencional e fonético de escrita.

A língua da Suméria não se encontra relacionada com nenhuma das línguas semitas.5 Mas, na cidade de Susa, centro da civilização do Elão, cujos territórios faziam fronteira com a Mesopotâmia do Sul, também apareceram (por volta do ano 2 300 a.C.)6 várias tábuas com uma escrita pictográfica – a escrita proto-elamita7, que era independente da escrita da Suméria, muito embora pudesse ter sofrido algumas das suas influências. Os textos encontrados têm carácter económico e referem-se a «inventários ou a atas de vendas».8 Segundo Lopes de Sá o aparecimento da escrita proto-elamita, tal como o da escrita suméria, estão na origem da escrita contabilística e, consequentemente, do desenvolvimento e aperfeiçoamento da Contabilidade9, não obstante ter sido a Contabilidade não escrita o fator que desencadeou o aparecimento da escrita.10

A partir do III milénio a.C., fruto da experiência e do avanço tecnológico dos instrumentos de escrita, a técnica de escrever ficou facilitada e mais flexível, passando a ser utilizada para outros fins, designadamente para a escrita de obras literárias e de obras históricas mais complexas.11 Os escribas escreveram sobre tábuas, sobre cilindros e sobre prismas de argila e, a partir da escrita, tornou-se possível transmitir as criações literárias até aí conhecidas unicamente por via oral.

Esses escribas aprendiam e ensinavam a técnica de escrever em escolas por eles fundadas (a «casa das tábuas» ou «casa das pranchas»12 - a eduba13). Essas escolas, resultaram diretamente da escrita cuneiforme. Mais tarde (nos anos 2 112-2 095 a.C.), no reinado de Ur-Nammu, as escolas assumiram-se como o centro da vida intelectual do império Ur.

Porém, só na segunda metade do III milénio a.C. é que o sistema escolar se desenvolveu e floresceu.14 A contabilidade acompanhou e aproveitou esse desenvolvimento e aperfeiçoamento da escrita, facto que pode ser observado na maioria das placas encontradas do tipo «burocrático e administrativo», da autoria dos escribas. Essas tábuas, segundo Samuel Kramer, «permitem-nos seguir, uma após a outra, as fases da vida económica da Suméria (…). Temos por elas conhecimento de que o número de escribas que praticavam a sua profissão no decurso desse período atingia vários milhares. Havia escribas subalternos e escribas de alta categoria, escribas afetados ao serviço do rei e escribas ao serviço do templo, escribas especializados em determinada categoria particular e escribas especializados em determinada categoria da atividade burocrática e escribas que poderiam tornar-se altos dignitários do governo.»15

A aprendizagem da arte de contabilizar na Suméria

Na antiga cidade de Shuruppak, situada no sul da Suméria, foi encontrado um número considerável de «textos escolares», datados de cerca de 2 500 anos a.C.. Por essa altura, textos do mesmo tipo foram, igualmente, descobertos no mesmo país, na cidade de Abu Salabih.16 A ideia de formar e aperfeiçoar os escribas tentava responder às necessidades económicas e administrativas do país, principalmente, as do templo e as do palácio. O objetivo da formação profissional dos futuros escribas consistia em dotá-los de “técnicas” que os habilitassem ao desempenho das funções administrativas, tributárias, jurídicas e contabilísticas dos templos e dos palácios, ou então, a exercerem a sua atividade para os «comerciantes ricos e poderosos do país» na gestão do seu património e dos seus negócios. Foi nessas escolas que os escribas aprenderam a arte de contabilizar as operações económicas e a redigir os documentos oficiais e os contratos comerciais. Essa finalidade de gestão patrimonial que foi atribuída à Contabilidade, enquanto elemento integrante de uma ordem social, aprendida e praticada pelos escribas das civilizações da Antiguidade, é descrita por Tavares, nos termos seguintes17: «Desde a época suméria, pode observar-se uma burocracia centralizada que conduziria à criação de um sistema de registo pela escrita. Tal se pode observar nos dois centros do poder económico: o palácio e o templo. É lá que se observa a imagem real da economia e da sociedade.»

Continua o autor: «A administração centralizada era servida pelo registo da escrita que, especialmente para isso, fora inventada. Esse sistema permitiu controlar pormenorizadamente a produção, a distribuição dos bens e o próprio comércio com o exterior. Templos e palácios tinham autonomia para tal, apesar de o comércio com o exterior pertencer fundamentalmente ao Estado.»

Numa primeira fase, os professors das escolas eram funcionários do templo. Posteriormente, esses professores passaram a exercer a sua profissão autonomamente, ensinando mediante pagamento de uma remuneração, pelo que só os alunos, filhos de famílias mais abastadas, é que podiam frequentar a escola de escribas. Nas placas encontradas, nos anos 2 000 a.C., com registos económicos, administrativos e contabilísticos, estavam mencionados mais de 500 escribas, identificados com o nome do pai e com a profissão deste. Que profissões exerciam os pais dos alunos candidatos a escribas? Eram todos do sexo masculino18 e «homens ricos»: governadores; «pais da cidade»; embaixadores; oficiais de navios; altos funcionários dos impostos; sacerdotes de diferentes categorias; vigilantes; contramestres; arquivistas; escribas de matérias contabilísticas, administrativas, económicas, tributárias e jurídicas; e escribas de outras funções.19

A direção da escola ficava a cargo do professor principal, «pai da escola» (ummia). Os alunos eram os «filhos da escola». Na hierarquia da escola havia também o «professor-assistente», que tinha, entre outras, a função de caligrafar as tábuas que os alunos deveriam copiar, examinar as cópias e obrigar os alunos a recitar de cor o conteúdo daquilo que aprenderam. No patamar abaixo do estatuto docente, a escola ainda empregava o «encarregado do desenho», o «encarregado do sumério» e o «encarregado do chicote», que controlava as presenças e era o responsável pela disciplina dos alunos.20

O «conteúdo do programa curricular» evidenciava vários ramos do conhecimento, divididos em duas secções: na primeira secção escolar ministrava-se aos alunos conhecimentos «semicientíficos»; na segunda secção ensinava-se matérias literárias e artísticas. No que respeitava ao ensino da primeira secção escolar, os alunos aprendiam a escrever e a dominar a língua, para os quais lhes era exigido que decorassem, copiassem e recopiassem as palavras em grupos de vocábulos e de expressões que se ligassem umas às outras.

Valerá a pena dizer que, no decurso do III milénio a.C., os estudos dos candidatos a escribas ficaram mais exigentes, tornando-se obrigatória a aprendizagem de matérias de outras «disciplinas», designadamente, de botânica, de zoologia, de mineralogia, de matemática e de gramática.

Note-se que foi a civilização suméria aquela que desenvolveu, nas escolas, as bases da maioria das ciências práticas da Humanidade. Não só inventou a escrita, mas parece ter inventado também a aritmética e a geometria.21 Deve-se também aos povos da Suméria a criação do sistema de pesos e de medidas, que ainda utilizamos hoje, designadamente a «vara de três pés»22 e a libra.23 Sistema de pesos e de medidas, comum aos povos persas e que, mais tarde, os povos gregos aproveitaram, sem o qual a Contabilidade não se teria desenvolvido nessas civilizações.24

Contar com base de… 60

Por volta do ano 2 000 a.C., no reinado de Gudeia, foi criado, na cidade de Lagash, o sistema duodecimal, ou por dúzias, cuja unidade, o número 12, é divisível por 1, 2, 3, 4, 6 e por si próprio25. Os sumérios não contavam por dezenas, centenas e milhares, mas na base de 60. O sistema decimal não interveio na numeração dos mesopotâmios, mesmo após o desaparecimento da civilização da Suméria. Foram eles que, pela primeira vez, fizeram a divisão do ano em 12 meses, a divisão dos dias em 24 horas, das horas em 60 minutos e dos minutos em 60 segundos.26

Foram também os Sumérios que criaram o círculo divisível em 360 graus. Os arcos e os ângulos foram divididos em graus, minutos e segundos. Dispunham de signos para representar os números: o número 600 (= 60 x 10)27; o número 3600 (= 60 x 60), e o 36000 (= 3600 x 10)28, inferindo-se daí que, para além das operações aritméticas elementares, conheciam também o conceito de potência e, talvez, o conceito de raiz quadrada.29 Os escribas tinham necessidade de conhecer a matemática, na medida em que, para além do exercício das suas funções contabilísticas, exerciam, entre outras, as profissões de geómetro e de agrimensor. 30

Por razões de ordem tributária, competia ao escriba proceder ao cálculo do tributo fundiário e depois contabilizá-lo.31 Para determinação do cálculo do tributo fundiário, o escriba tinha que conhecer a base tributária, ou seja, a área da terra e a produção estimada desta, sobre as quais incidia o tributo. Por outro lado, precisava de usar o cálculo aritmético para fazer a repartição da receita do tributo pelo Estado e pelo governador da cidade onde se situava a terra objecto de tributação.32

Mas a necessidade do cálculo não ficava somente pelos aspetos tributários. Na administração militar, o escriba, para além de relatar as peripécias da guerra, competia- lhe, também, contabilizar os consumos da campanha militar, fazer os inventários dos equipamentos militares, elaborar a lista dos soldados e o “orçamento” das suas rações alimentares e, bem assim, determinar e contabilizar o imposto devido pelos contribuintes dos territórios invadidos. Todas essas ações requeriam conhecimentos de matemática por parte do escriba.34

Nas tábuas descobertas com textos sumérios foram encontradas diversas tabelas de equivalências de medidas de capacidade. O gur era a medida de cevada ou de tâmaras, correspondente a 120 litros, que tinha por equivalência o valor de duas peles e meia de carneiro, ou seja, um shequel que, por sua vez, era equivalente a oito gramas de prata.35 Essa equivalência permitia também traduzir o valor e o preço das coisas no mercado, bem como chegar ao conceito moderno de justo valor. Ao tempo do rei Hammurabi (cerca do ano 1 760 a.C.), um escravo valia 20 siclos de prata, equivalente ao valor de um burro e inferior ao valor de um boi.36

No período do Império Neo-assírio (séc. VI a.C.), o sistema de equivalências acabou por se generalizar: combinou-se a numeração sexagesimal dos babilónios com os sistemas de numeração dos assírios e dos arameus, podendo-se fazer correspondência de medidas físicas e de valores em todo o Império37, tendo por base o sistema decimal.38

No que respeitava ao ensino da gramática, é de dizer que o estudo incidia essencialmente sobre os substantivos e as formas verbais. Anote-se que apenas uma parte dos alunos-escribas continuavam os seus estudos, depois de terminarem a primeira secção curricular e, os que paravam de estudar acabavam a desempenhar funções diversas em todos os ramos da administração.39

A segunda secção do plano curricular compreendia o estudo literário. As centenas de obras literárias, descobertas na segunda metade do III milénio, quase todas de carácter poético, com “versos” que não tinham menos de cinquenta linhas, mas que podiam atingir cerca de um milhar de linhas. Os géneros literários eram: mitos e contos épicos sob a forma de poemas que invocavam os heróis e os deuses, os quais integravam provérbios, fábulas de cariz moral e lamentações sobre as cidades destruídas. Todos esses géneros literários permitem-nos compreender a natureza do pensamento científico, religioso e literário dos sumérios e das civilizações mesopotâmias que lhes sucederam. A partir das matérias literárias é possível ainda conhecer a ordem social vigente que enformava os conceitos, as normas de contabilidade e as normas jurídico-religiosas40, aplicáveis aos fenómenos contabilísticos, jurídicos e fiscais. No II milénio a.C. foram encontradas, na região da cidade de Nippur, sob o império de Ur-Nammu (na III dinastia de Ur, entre os anos de 2060 – 1950 a.C.), a maioria das obras literárias.41

Nessa cidade, as escolas de escrita floresciam, trabalhando-se intensamente na cópia de textos antigos sumérios, com o intuito de os legar à posteridade.42

Consideração pelo estudo dos documentos contabilísticos

No último quartel do III milénio a.C., os acádios, povos de língua semita, sob o comando de Sargão, O Grande, depois de conquistar os territórios da Suméria, formaram o império de Akad (nos anos 2 360-2 180 a.C.).43 Apesar da invasão, os acádios respeitaram os escritos administrativos e contabilísticos e as obras literárias, chegando mesmo a criar dicionários destinados à tradução da língua suméria para a língua acádia. Esses povos adaptaram-se à escrita cuneiforme dos sumérios, não obstante existirem textos em língua acádia.44 A este propósito refere PierreLévêque45: «É verdade que os escribas [acádios] não chegaram a desfazer-se completamente do aspeto ideográfico da escrita, inventando aliás vários ideogramas; mas mostram-se capazes de criar um sistema fonético relativamente simples, que comporta cerca de cento e vinte signos, cada um dos quais tem, quanto muito, duas leituras possíveis.»

No entanto, parece ter sido a escrita, a contabilidade, a aritmética, a geometria e as regras jurídico-comerciais as «disciplinas» que mais se destacaram e perpetuaram no elenco das matérias lecionadas nas escolas da civilização da Suméria e das civilizações da Mesopotâmia que lhes sucederam.46 No aludido artigo, publicado no jornal The York Times, datado de 13 de março de 1904, o autor da notícia discorria sobre os sistemas educativos da Babilónia e da cidade de Ninive (na Assíria), aludindo que as escolas tinham uma elevada consideração pelo estudo dos documentos contabilísticos e que o estudo das regras elementares da Contabilidade aparecia no domínio da «educação primária.» Nas tábuas encontradas poder-se- -á verificar que a escola obrigava os alunos a aprender várias utilizações, racionais, dos conceitos de rendimento, de lucro e de juro e a comentá-los e a exprimi-los, por escrito, decorando e recitando47: «Rendimento; seu rendimento; para seu rendimento; para colocar o seu rendimento; o rendimento de Shamash48; o rendimento de Shamash é fixado; o rendimento de Shamash é aumentado; o rendimento que Shamash deu; o rendimento que retornou a Shamash; sem aumento; há um aumento [lucro]; não há rendimento; este rendimento é daquele município; o aumento é feito automaticamente; o aumento [os juros compostos] de aumento, houve um aumento de aumento» [capitalização a juros compostos].

Diga-se, pois, que a Contabilidade, que no início registava os factos económicos ocorridos nos palácios e nos templos, passou também a assentar as transações comerciais, efetuadas entre agentes económicos privados. Num caso e no outro, houve necessidade de facilitar essas transações, concedendo crédito e, em consequência, apareceram as figuras do empréstimo (contrato de mútuo) e da letra de câmbio49 e, bem assim, as figuras das garantias a essas formas de financiamento: a fiança, a hipoteca e o penhor.50 A contabilidade acompanhou essa evolução da actividade financeira e, quando o escriba registava a transação comercial ou o financiamento desta, registava, também, no mesmo documento de argila, as respetivas garantias, pessoais e reais e, por vezes, o nome das testemunhas, as quais ficavam, de imediato, divulgadas «em conta» e faziam parte do «histórico» do assento contabilístico-jurídico. Os templos e as escolas ministravam aos escribas conhecimentos financeiros e práticas bancárias.

Do que precede, conclui-se que a formação escolar do escriba era polivalente e pluridisciplinar, habilitando-o ao exercício, simultâneo, de várias profissões: contabilista, jurista, agrimensor, geómetro, cobrador de impostos, etc. Aliás, as profissões daquele «profissional da escrita» não se encontravam autonomizadas.51

O escriba era um dignitário altamente qualificado que, para além de dominar a escrita, tinha de dominar a Contabilidade, o Direito e o Cálculo (Matemático). Como já foi referido noutro artigo, a Contabilidade era a fonte do Direito Contratual escrito, já que a escrituração contabilística, efetuada na argila, era o próprio contrato jurídico. A prova desta identificação ou “confusão” da Contabilidade com o Direito Contabilístico encontra-se plasmada em, pelo menos três tábuas, que são autênticas “contas” e, consequentemente, fontes de obrigações jurídicas, expostas no Museu do Louvre, em França52:

- A Tábua AO3765 de Shurrupak, do ano 2 600 a.C., referente a uma ata de venda (ou contrato de compra e venda) duma casa e de um escravo. O escriba registou a operação, identificando a superfície da casa com 54m2 e enumerou, no mesmo lançamento contabilístico, as seis testemunhas.

- A Tábua AO13239 de Tell, do ano 2 380 a.C., na qual se encontra escriturada a venda de uma casa, com o respetivo preço e a natureza dos “presentes” entregues às testemunhas intervenientes no contrato de compra e venda.

- A Tábua AO88308 de Capadócia53, talvez do ano 1 900 a.C., que assenta um contrato de reconhecimento de dívida, com juros, entre um comerciante da Assíria e um seu correspondente turco.

Em face da complexidade da vida social, houve necessidade de escrever as normas sociais vigentes em «Código de Leis» e assim surgiu o Direito codificado. De entre essas leis escritas, os escribas redigiram as primeiras normas escritas de Contabilidade que eram, concomitantemente, normas de Direito Contabilístico e de Direito Comercial. O «Código de Leis» que mais impacto teve nas civilizações antigas do Próximo Oriente e nas civilizações antigas da Europa (grega e romana) foi o Código de Hammurabi.54 Este monarca foi o sexto rei da I dinastia da Babilónia que deve ter reinado entre os anos 1 792 e 1 750 a.C., e que reuniu num só documento uma compilação dos costumes, das tradições e das convenções não escritas dos sumérios e dos acádios. Todo o trabalho de redação do texto do código, gravado em pedra de basalto negro, foi obra dos escribas.

Bibliografia disponível em («A Ordem – Publicações – Revista TOC – Bibliografia»)

Notas

1 Goody, J. (1987): A Lógica da Escrita e a Organização da Sociedade, p. 67.

2 Apesar da escrita ainda não existir entre os anos 8 000 e 3 000 a.C., já existiam várias tábuas com inscrições, usadas abundantemente, durante esse período [Mattessich, R. (2000) “Archaeology of Accounting and Schmandt-Besserat’s Contribution”, in The History of Accounting. Critical Perspectives on Business and Management, Ed. De Jonh Richard Edwards, Vol. II, p. 17].

3 No Staatliche Museum, em Berlim, existem placas do IV milénio a.C., algumas delas reproduzidas em Melis, F. (1950): Storia della Regioneria, p. 128. Sobre o assunto vide também Noel Monteiro, M. (1979): Pequena História da Contabilidade, p. 31.

4 Kramer, S. N. (1997): A História Começa na Suméria, p. 17; e Brigt, J. (1978): História de Israel, p. 27.

5 Cameron, R. (2000): História Económica do Mundo, p. 50.

6 Mattessich, R. (2000): Ob. cit., p. 9, coloca a hipóteses dessas tábuas serem do IV milénio a.C.

7 Goody, J. (1987): Ob. cit., p. 70.

8 Lévéque, P. (1990): As Primeiras Civilizações, Vol. II – A Mesopotâmia / Os Hititas, p. 26.

9 Lopes de Sá, A. (1998): História Geral e das Doutrinas da Contabilidade, p. 29; e Baines, J., apud Goody, J. (1987): Ob. cit., p. 73.

10 Obert, R. (1999): La Construction du Droit Contable, p. 34.

11 Os escribas babilónicos, ao tempo do rei Hammurabi (cerca do ano de 1 760 a.C.) legaram-nos um conjunto inesgotável de obras, entre as quais, obras literária. Foram os escribas babilónicos que traduziram da língua suméria para a língua acádia a maioria das obras que hoje conhecemos: obras de carácter contabilístico, económico, literário, e religioso [Lévêque, P. (1990): Ob. cit., p. 88; e Cameron, R. (2000): Ob. cit., p. 48].

12 La maison des tablets é a expressão para identificar a escola de escribas da Suméria, utilizada por Degos, J-G. (1998): Histoire de la Comptabilité, p. 15.

13 Lévêque, P. (1990): Ob. cit., p. 60.

14 Kramer, S. N. (1997): Ob. cit., p. 25.

15 Kramer, S. N. (1997): Ob. cit., p. 26.

16 Lévêque, P. (1990): Ob. cit., p. 37.

17 Tavares, A. A. (1987): Economia e História Antiga, pp. 46 e 47.

18 Mais tarde, no Império da Paleobabilónico (por volta do ano 1 650 a.C.), o nome de mulheres já aparecia associado às transações comerciais, podendo daí deduzir-se que podiam conhecer a escrita e exercer a profissão de escriba. Sobre o assunto, vide The York Times, de 13 de março de 1904, em artigo intitulado New Light Shed Upon Ancient Bookkeeping; Clay Tablets, Used for Contracts, Discovered In Assyria – Relics of Centuries Ago Dug Up in Asian Explortions, Magazine, p. SM2. Trata-se de um artigo que fazia uma análise crítica da obra Business Education and Accounting, da autoria de Charles Waldo Haskins, publicada a título póstumo.

19 Kramer, S. N. (1997): Ob. cit., p. 28.

20 Degos, J-G. (1998): Ob. e p. cit.; e Kramer, S. N. (1997): Ob. cit., p. 28.

21 Na aldeia de Kalaa Hadj Mohammed, próxima da cidade de Uruk, foi encontrada cerâmica pintada à mão com motivos geométricos, provavelmente do V milénio a.C.. Fica, no entanto, a ideia de que, pelo menos, desde essa data, os habitantes já conheciam as figuras geométricas  [Lévêque, P. (1990): Ob. cit., p. 18].

22 A Bíblia Sagrada indica a cana de três metros como medida de comprimento usada no Oriente, provavelmente uma medida equivalente à vara de três pés [«Suplementos» à Bíblia Sagrada, p. 2116].

23 A libra também vem referida na Bíblia Sagrada (Jo. 12,13) e, os seus «Suplementos» indicam que é uma medida com 330 gramas de peso.

24 1 talento ou 1 kikkar = 6000 dracmas = 3000 siclos = 36 kg. O kikkar podia ser dividido em 60 minas de 60 siclos. 1 mina = 50 siclos = 600 gramas. Cada siclo = 1 salário = 12 gramas (de prata). Sobre o assunto vide Lévi, J.-F ( 1960): L’Èconomie Antique, p. 16; e os já citados “Suplementos” da Bíblia Sagrada, p. 2116.

25 Para maior desenvolvimento deste assunto vide Melis, F. (1950): Ob. cit., pp. 60 e ss.

26 Alícia Pérez e Marta Vidal (Coord. Ed.) (2005): História Universal – Vol. 2: Antiguidade: Egito e Médio Oriente, p. 182.

27 Existe uma placa do II milénio a.C. com o número 664. Havia um símbolo para representar o número 600, outro para representar o 60 e o número 4 era representado por quatro incisões na tábua, cada uma simbolizando a unidade [Noel Monteiro, M. (1979): Ob. cit., p. 31].

28 Obert, R. (1999): Ob. cit., p. 28.

29 Sobre simbologia para representar os diferentes números, vide Lopes de Amorim, J. (1968): Digressão Através do Vestuto Mundo da Contabilidade, pp. 15 e 16.

30 Ordre des Experts Comptables el Comptables Agrées ; e Compagnie National des Comissaires aux Comptes (1993): Histoire de la Profession Comptable, p. 17.

31 Goody, J. (1987): Ob. cit., p. 82.

32 Cameron, R. (2000): História Económica do Mundo, p. 48.

33 Ordre des Experts Comptables el Comptables Agrées; e Compagnie National des Comissaires aux Comptes (1993): Ob. e p. cit.

34 O escriba integrava o rol das profissões designadas de shaugu, as quais requeriam o conhecimento da matemática e tinham carácter sagrado, por estarem ligadas ao estudo dos fenómenos naturais. As profissões ligadas à astronomia tinham aquele carácter e necessitavam do conhecimento da matemática para o estudo dos eclipses e das estações do ano.

35 Tavares, A. A. (1987): Economia e História Antiga, p. 47; e Vasquez de Prada, V. (1994): História Económica Mundial, Vol. I, p. 19.

36 Tavares, A. A. (1987): Ob. cit., p. 44.

37 Tavares, A. A. (1987): Ob. cit., p. 48.

38 Noel Monteiro, M. (1979): Ob. cit., p. 31.

39 Lévêque, P. (1990): Ob. e p. cit.

40 «Os sumérios tinham um alto senso do certo e do errado. As leis humanas eram para eles reflexos das leis divinas. » [BRIGT, J. (1978): Ob. cit., p. 34]. A Ética e a Filosofia dos sumérios pode ser analisada em Kramer, S. N. (1997): Ob. cit., pp. 101 e ss..

41 Note-se que só no milénio seguinte é que os hebreus escreveram a Bíblia e, mais tarde, (no séc. VIII a.C.) é que os gregos, pela mão de Homero, escreveram a Ilíada e a Odisseia.

42 Brigt, J. (1978): Ob. cit., p. 85.

43 Que não só reuniu todas as cidades da Suméria e da Acádia sob sua administração central, mas ainda estendeu as suas conquistas ao Irão, ao Norte da Mesopotâmia e à Síria, governando todo o mundo civilizado, com exceção do Egito. Daí que se possa concluir da influência da civilização suméria-acádia em praticamente todo o Próximo Oriente. Sobre o assunto, vide Cameron, R. (2000): Ob. cit., p. 50.

44 Os textos em língua acádia remontam à primeira metade do III milénio. Sobre o assunto vide Brigt, J. (1978): Ob. cit., p. 35.

45 Lévêque, P. (1990): Ob. cit., p. 47.

46 Nesse sentido parece estar de acordo Brown, R. (2004): A History of Accountig and Accountants, p. 20.

47 O autor do artigo (identificado pelas abreviaturas J.C.B.), do New York Times, de 13 de março de 1904, referia que nas cidades de Ninive e da Babilónia foram encontrados textos escritos em tábuas de argila relativos «a todo o tipo de contratos sociais [civis, comerciais e administrativos], negociações de vendas, empréstimos em «dinheiro» [cevada ou metal], contratos de arrendamento e de aluguer, dotes, testamentos, adoção de crianças, processos e, também, textos relativos a descrições de rendimentos e de outros detalhes da vida e das ocupações desses povos que, ao tempo, eram empreendedores.»

48 Shamash era o «deus sol» - o «grade juiz do céu e da terra», no Império Neo-babilónio ao tempo do rei Hammurábi (ano de 1 760. a.C.). Aliás, esse monarca no epílogo do seu Código de Leis declarava: «Hammurabi, rei do direito, a mim Shamash faz o presente das leis» [Leme Klabin, A., A. (2004): História Geral do Direito, p. 65].

49 Os templos das civilizações da Mesopotâmia, para além do exercício das suas atividades, religiosas e culturais, exerciam a também a atividade bancária. Sobre o assunto, vide Noel Monteiro, M. (1979): Ob. e p. cit.; e Lopes de Amorim, J. (1968): Ob. cit., p. 34.

50 Instrumentos de financiamento e garantias das obrigações atestadas por outros dois artigos do New York Times: Um intitulado de “Mortage 2.343 Years Old”, escrito na edição especial daquele jornal, de 7 de novembro de 1913, no qual tratava de um contrato de crédito hipotecário imobiliário, ou seja, de um empréstimo (contrato de mútuo), celebrado no ano 430 a.C., garantido por hipoteca, destinado ao financiamento de um investimento, efetuado num pomar, do qual era beneficiário uma família de banqueiros, os Marashus, que financiava a maioria das operações comerciais e dos compromissos do rei da Babilónia. Um outro artigo, publicado em data anterior (de 7 de março de 1886) no mesmo jornal, intitulado “Money Lenders Among the Babilonians”, relativo a um empréstimo, garantido por hipoteca, concedido a um agricultor com a finalidade de financiar o pagamento do tributo ao monarca. Esse empréstimo encontrava-se sujeito a juros, contados dia a dia, pagos mensalmente à taxa de juro de 20 port cento ao ano. Sobre o assunto vide, ainda, Leme Klabin, A., A. (2004): Ob. cit., pp. 81 e 82; Brown, R. (2004): Ob. cit, p. 17; Chatfield, M. (1996): “Scribes”, in The History of Accounting – An International Encyclopedia, Ed. Michael Chatfield e Richard Vangermeersch., pp. 57 e 58; e Tavares, A. A. (1987): Ob. cit., p. 47. Este último autor refere: «O juro tornou- se prática corrente. A lei desde o III milénio, estabelece taxas: tratando-se de produtos agrícolas era de 33,33 por cento ao ano; no caso de ser prata, era de 20 por cento.»

51 Carqueja, H. (s.d.): Teoria da Contabilidade, p. 5.

52 Obert, R. (1999): Ob. cit., p. 30.

53 A Capadócia era uma colónia da Assíria, implantada no reinado de Erishum, sucessor do rei Ilushuma, por volta dos anos 1920-1900 a.C., no centro da Anatólia. A Bíblia refere-se a essa colónia de mercadores e de banqueiros assírios.

54 Leme Klabin, A., A. (2004): Ob. cit., p. 67; Degos, J-G. (1998): Ob. cit., p. 14 ; Carqueja, H. (s.d.): Ob. cit., p. 7; e Vlaemminck, J-H. (1961): História y Doctrinas de la Contabilidad,
pp. 2 e 3.

Por Telmo Pascoal  - Professor Adjunto no ISCAC

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