Nesse artigo, quero chamar a atenção para uma consequência bastante
natural e pouco discutida sobre as avaliações, sejam de pessoas, grupos
ou empresas
Avaliações fazem parte da vida. Dos boletins da vida acadêmica,
testes de desempenho em empresas, feedback de clientes até aquela cara
de "não faça isso" que sua mãe fazia quando você era criança. Receber
retorno sobre nossas qualificações e atividades é útil, e especialmente
importante para aqueles que buscam sempre mudar para melhor.
Nesse artigo, quero chamar a atenção para uma consequência bastante
natural e pouco discutida sobre tais avaliações, sejam de pessoas,
grupos ou empresas.
Tente lembrar da última vez que você recebeu uma avaliação.
Provavelmente você viu ali um punhado de habilidades ou características,
com algumas marcadas como acima da média (ou positivas), outras na
média, e outras negativas.
Digamos que você foi recebido pela sua chefe e aprendeu que, apesar
de sua capacidade analítica e conhecimento técnico terem tirado elogios
dela e de seus colegas, foi apontada uma deficiência em suas
"habilidades com pessoas". Ao que parece, você não é a alma da festa em
uma festa de trabalho.
Qual a conclusão da reunião? "você devia trabalhar um pouco nisso",
sua chefe sugere com a maior boa vontade do mundo. Nos próximos dias,
você que sempre foi introvertido, se pega tentando acompanhar a vida
social de alguns colegas. Fazendo um esforço para ser menos introvertido
e melhorar aquela deficiência apontada em você.
O mesmo ocorre em diversas áreas: Se um aluno se destaca em
matemática mas fica apenas na média em história, é hora dele se dedicar
mais a história. Se você se sai otimamente bem em finanças mas não tem a
mínima paciência para estratégia, é hora de abandonar um pouco os
números e estudar a matéria em que você é medíocre.
Mas será que realmente, essa é a melhor aplicação do nosso tempo e esforço?
Como seres humanos que somos, nossa tendência sempre é querer
consertar o que está ruim. Recebemos um feedback que somos bons em X e
ruins em Y, e o que vemos é um grande Y brilhando nos apontando no que
somos ruins. Focamos nossos esforços em melhorar aquilo.
Pensando bem, será que não estamos fazendo as coisas ao contrário? Um
aluno que apresenta um desempenho altíssimo em matemática realmente
deveria estar se preocupando em ser algo além da média em história? Um
profissional com grande habilidade técnica deveria se preocupar com sua
falta de capacidade de liderança?
O que aconteceria se o aluno que é ótimo em matemática realmente
focasse seus esforços ali? O que aconteceria se um profissional
realmente bom no que faz resolva deixar a parte mais "humana" do negócio
a algum colega que leve mais jeito para a coisa?
Ouso dizer que, no longo prazo, essas pessoas se destacariam. Seriam o
tipo de estrelas que toda equipe quer ter à mão quando tem uma
dificuldade em sua especialidade.
Quando focamos nossas tentativas de melhora nos pontos fracos,
podemos até ter uma melhora, mas essa melhora vem com um preço: Estamos
nos tornando mais iguais a média. E nos esforçando para isso.
Quando focamos no que somos realmente bons, no que gostamos de fazer e
fazemos com maestria, o esforço vem com a vantagem de nos diferenciar.
Além disso, sensação de esforço de realizar algo que realmente se goste é
muito menor do que forçar algo diferente. O introvertido pode preferir
ler um bom livro a participar do happy hour no escritório.
Note que há situações em que o ponto fraco é tão ruim que chega a ser
debilitante. É diferente ser introvertido do que ser grosso e
arrogante. A grande questão é que, uma vez que tal barreira fique para
trás, por que nos preocupar tanto em melhorar aquilo que não somos bons?
Que tal melhorar ainda mais aqueles pontos em que somos bons? talvez
isso te torne melhor ainda. Talvez isso te torne um profissional
fantástico, uma estrela em sua área.
Nunca ouvi falar de alguém ser reconhecido por ser o melhor
profissional "na média" em sua profissão. Profissionais de alto
desempenho se destacam em algo. Mas, quando dizemos que o que está bom
já é suficiente e precisamos melhorar o que é ruim, estamos indo cada
vez mais em direção à média. Partindo do princípio que nossa capacidade
de mudar é limitada (o que é bastante realista), utilizar nossa
capacidade de mudar para nos tornar mais próximos da média pode não ser a
melhor estratégia.
Quem realmente se destaca é bom em atividades específicas. Pontos
fracos sempre vão existir, mas felizmente sempre existem bons
profissionais capazes de suprir tais faltas.
Então, da próxima vez que receber uma avaliação, avalie se seus
pontos fracos são prejudiciais, mas olhe também seus pontos fortes. Não
parta do princípio de que o que já está bom não precisa mudar. Talvez o
melhor a fazer seja trabalhar para tornar o bom melhor ainda.