O mercado brasileiro de auditoria já sente os reflexos da intensa
movimentação iniciada anos atrás, quando diversas empresas de menor
porte começaram a ser incorporadas por companhias mais robustas da área,
ou simplesmente se agregaram a redes e associações internacionais, a
fim de formar parcerias estratégicas.
Em certa medida, muitas pequenas e médias empresas do setor estão se
beneficiando desta reviravolta. Ao analisar detalhadamente os cenários
possíveis, passaram a adotar novas diretrizes internas, com o objetivo
de elevar sua visibilidade, competitividade e margem de lucro em âmbito
nacional.
Essa mudança de rumo é sobretudo necessária, pois as grandes
consultorias estão se reestruturando e ampliando a busca por novos
nichos de atuação. Algumas até já criaram áreas voltadas a atender
médias empresas, e tudo indica que os pequenos empreendimentos com viés
de crescimento sejam o próximo alvo.
Ameaças assim somam-se a problemas crônicos enfrentados
internamente, desde o retorno insatisfatório sobre os investimentos
realizados até a dificuldade de atrair e reter novos talentos. Sem
falar na pressão muitas vezes exercida por sócios das empresas menores
de auditoria pela maior entrada de honorários, uma visão flagrantemente
simplista, convenhamos.
Retomar a rota do sucesso implica, na verdade, a adoção de novas
posturas e não se afastar um milímetro sequer de preceitos básicos da
área como a integridade na realização do trabalho e a eterna disposição
de investir em inovação, tecnologia e capacitação.
Mas isto ainda é pouco, se os sócios das empresas de auditoria
deixarem de fazer um autoexame de consciência. É bem simples. Basta
responder a duas perguntas básicas: “O que eu faria se a minha empresa
fosse dez vezes maior?” e “Qual seria minha atitude se estivesse sendo
incorporado a uma estrutura deste porte?
Sobre ambas as hipóteses, possivelmente a maioria diria já estar
abarrotada de trabalho, tornando de antemão inviável qualquer uma
delas. Ledo engano por parte de quem ainda encara assim a saudável
reflexão sobre a perpetuação do seu negócio
Além de não fugir da sempre instigante autoanálise, os executivos
precisam delinear uma agenda positiva em várias frentes, desde um plano
para reter talentos , melhores salários e bônus estimulantes baseados
na meritocracia, até investir forte na área de Tecnologia da Informação.
Neste último caso, evitando a tentação de pensar que TI resolva
tudo, pois sem realizar um planejamento estratégico, é grande o risco
de se desperdiçarem recursos com a aquisição de softwares.
Principalmente se não houver na equipe pessoas capazes de fazê-los
funcionar da maneira esperada.
Ao contrário, obteriam uma sensível economia de escala ao reduzir o
tempo gasto na análise de dados e informações. Afora isso, não há no
mercado auditoria capaz de sobreviver à feroz competitividade atual se
estiver defasada tecnologicamente, inclusive em comparação à sua
clientela.
O êxito da pequena e média consultoria passa também por grandes
mudanças culturais em áreas como RH e comercial , sempre em sintonia com
a própria TI, dada a grande interdependência que existe entre esses
três segmentos.
Devem ainda definir em quais áreas desejam concentrar seu poder de
fogo, pois a segmentação abre grandes possibilidades na hora de ‘vender’
novas ideias, obter recursos, contratar fornecedores e fechar
parcerias especializadas em diversas cidades onde haja clientes
potenciais.
A exposição da marca e das ideias dos sócios na mídia igualmente
contribui para ampliar as possibilidades de negócios. Reportagens e
artigos publicados nos veículos de comunicação, por exemplo, agregam
muito valor à imagem da empresa frente aos seus clientes atuais e
futuros.
A mudança de rumo passa também pela ruptura com velhas máximas
nacionais na linha do “O que dá certo lá fora não serve para o nosso
mercado”. As auditorias de menor porte devem, sim, contrariar este
pensamento e surfar na nova onda que vem avançando. Dentre elas, aderir
a redes e associações internacionais.
Embora apenas quatro mereçam hoje a classificação de ‘big’,
certamente as muitas anônimas que igualmente ajudam a economia
brasileira a andar tendem a se desenvolver mais ainda ao incorporar
parte da cultura internacional em seu modelo de atuação. E claro, sempre
olhando adiante dos próprios líderes do setor, caso um dia pretendam
se aproximar deles.
por Marco Antonio Papini é sócio-diretor da MAP Auditores Independentes e vice-presidente da CPAAI Latin America.
Fonte: DCI
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