segunda-feira, 5 de agosto de 2013

05/08 Auditoria, uma ajuda na hora certa

Ganhar tranquilidade para trabalhar, fazer o aprendizado da transparência e conquistar credibilidade são as principais motivações das empresas de menor porte quando procuram empresas de auditoria. Isso porque sabem que ali não encontrarão apenas a validação de demonstrações financeiras, mas poderão contar com os diversos serviços de consultoria que essas empresas oferecem. No Brasil, a contratação de auditoria tradicional não é prática corrente entre os pequenos e médios empresários. Eles a consultam pontualmente – quando precisam captar dinheiro junto a bancos ou investidores, participar de concorrências e licitações e mesmo obter melhores condições com fornecedores.

No entanto, há indícios de que a situação está mudando. Muitas PMEs têm contatado auditorias pedindo informações, segundo Adriano Roberto Legnari Faria, diretor de firmas de auditoria de pequeno e médio portes do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). "A cada dia aumenta o número de empresários que conhece o trabalho de auditoria. Eles perceberam que precisam disso para se inserir no mercado", afirma. As auditorias agradecem: como as PMEs são 95% das companhias brasileiras, têm aí formidável mercado potencial.

A lei não obriga que as demonstrações financeiras das PMEs sejam  auditadas, mas há diversas razões para levá-las a adotar esse procedimento. O diretor do Ibracon dá um exemplo:  o credor – banco, investidor, fornecedor – fica tranquilo com os resultados auditados do cliente nas mãos, se mostram que não há risco de calote de uma empresa. "No banco, o empresário  pode até não precisar deixar bens em garantia e ainda consegue juro menor", afirma.

Para Thiago de Carvalho, coordenador do centro de empreendedorismo do Insper, o papel da auditoria nas empresas menores é validar o que o empresário diz que fez – trabalho que acaba sendo exercido por bancos e investidores. "É a due diligence, durante a qual investidores de capital de risco (private equity, venture capital e seed capital) avaliam a veracidade das informações do empreendedor. Gerentes de alguns bancos também fazem isso antes de conceder crédito", explica.
 
Mais transparente – Então, se os credores se dispõem a fazer o trabalho de auditoria, por que investir nisso? "Quando o investidor descobre uma incoerência nas informações financeiras e contábeis pode não confiar mais no empreendedor", diz Carvalho. Por isso, na opinião dele, a auditoria é importante para o empresário provar que a informação que  passa é real. "O mais comum é o empreendedor fazer auditoria quando quer oferecer a empresa a alguém", diz.

O coordenador também vê vantagens em contratar auditoria quando a empresa precisa de certificações específicas para expandir seu negócio. "Exemplos são aquelas que querem mostrar à comunidade que adotam práticas socialmente responsáveis ou que seguem normas específicas de um setor, como o caso de quem vende produtos orgânicos. Empresas de auditoria costumam inclusive prepará-las para seguirem normas com intuito de conquistarem certificações", diz Carvalho.

Na opinião de Pamella Gonçalves, gerente de pesquisa e políticas públicas da organização não-governamental Endeavor, quanto mais cedo uma PME contratar uma auditoria, melhor, pois  melhora a governança e a transparência sobre controles financeiros mais rapidamente. "Não é necessário mas sempre é bem visto. Por isso todas as 54 empresas selecionadas para serem aconselhadas pela Endeavor são orientadas a fazer auditoria em um ano ou, no máximo, em dois", conta a executiva.

Para a gerente, outro bom motivo para começar a fazer auditoria é a tranquilidade que isso traz. "Em determinado estágio de crescimento da empresa o empreendedor não está mais controlando o departamento financeiro de perto. A auditoria lhe garante que os processos estão sendo seguidos e que as obrigações fiscais e tributárias são cumpridas, ressalta Pamella.

Por isso, a gerente explica que o empreendedor deve participar do processo prévio à auditoria, que também ajuda a empresa a manter documentos em ordem desde cedo. "Muita empresa deixa para fazer isso quando é gigante e, nesta etapa, as chances de ter perdido o histórico e algum documento são maiores", diz.
 
Momento certo – José Santiago da Luz, sócio-diretor da BDO – auditoria com foco no middle market, que responde por 70% de sua carteira –, conta que a demanda das PMEs por informações sobre o assunto aumentou 30% neste ano. "Há empresários que só querem saber se as contas do financeiro estão certas ou se tem alguém roubando. Explicamos que este é um trabalho de consultoria. Muitas outras querem aconselhamento", diz.  O preparo para receber auditoria acaba sendo um trabalho de educação e aculturamento das empresas, prossegue Luz. "Nosso papel acaba sendo o de ouvir as dificuldades do empresário e orientá-lo na condução do negócio para que seja auditado no futuro".

Segundo Luz, o custo médio que o mercado cobra pelo trabalho de auditoria oscila de R$ 80 a R$ 200 por hora. "Há trabalhos que podem levar 100 horas; em outros, gastam-se  três mil horas. A quantidade é definida de acordo com o porte da empresa. Visitamos, fazemos uma captação e um questionário para definir a quantidade de horas", diz. 

Luiz Passetti, sócio de auditoria da EY – que tem grupos de trabalho só para atender PMEs –, o momento adequado para o empreendedor contratar o serviço de auditoria é aquele em que decide adotar transparência para fortalecer a credibilidade – e isso pode ocorrer em diversas fases da vida da empresa, até mesmo em start-ups. "Quando o empreendimento ainda não gera caixa, precisa transmitir ao investidor a segurança de que o plano de negócios foi revisado por um profissional independente. A execução do plano de negócios pode ser auditada por meio das demonstrações financeiras. O custo da hora para auditar um plano de negócios é de 30% a 40% menor", explica Passetti.

Já em empresas que estão em fase de crescimento ou na trasição de pequenas para médias,  a auditoria é importante para passar segurança ao proprietário de que as operações estão sendo executadas dentro de um ambiente controlado. De acordo com Passetti, outro grupo de empresas que também busca bastante o serviço é o das familiares. "Geralmente,  passam por um diagnóstico e treinamento e são auditadas a partir do segundo ano. Quanto mais organizada é a empresa menor é o trabalho do auditor", completa.
 
SAIBA MAIS

Abaixo, esclarecimentos sobre as dúvidas mais comuns que as pessoas têm em relação às auditorias.
 
O que é auditoria?

É um produto dentre vários que as empresas do setor oferecem. O objetivo é assegurar que as demonstrações contábeis de uma empresa não apresentem distorções relevantes em relação à aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade, determinadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que hoje são convergentes com as Normas Internacionais de Contabilidade.
 
Quem faz?

Obrigatoriamente é executada por um auditor independente credenciado junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que deve executar o trabalho com o objetivo de assegurar a aplicação das normas contábeis e de auditoria
 
O auditor obrigatoriamente identifica fraudes?

Ele tem o dever de identificar fraudes oriundas de um desvio de conduta quando há um controle pré-definido pela empresa e/ou uma norma contábil estabelecida, desde que seja em montante relevante. "O auditor independente não deve nem pode ser responsabilizado por fraude oriunda de falsificação de documentos, de qualidade de produtos adquiridos ou vendidos e atos simulados de qualquer forma", diz Adriano Roberto Legnari Faria, diretor de firmas de auditoria de pequeno e médio portes do Ibracon.
 
O que difere consultoria de diagnóstico?

A empresa que nunca foi audiada deve contratar o levantamento de um diagnóstico, que lhe indique problemas de controles da empresa e se essa está em conformidade com as Normas Brasileiras de Contabilidade. O diagnóstico revela também se os tributos estão calculados e registrados corretamente e se as informações  disponíveis estão em conformidade com o padrão exigido (chamado International Financial Reporting Standards, ou IFRS – que são as normas globais de contabilidade),  a linguagem atual do mercado. Após o diagnóstico, a empresa pode corrigir os erros e se preparar para passar por uma auditoria no futuro.

Já a consultoria é diferente, pois tem foco na instalação de mudanças nos processos da empresa. Exemplos são as consultorias de planejamento tributário e de contabilidade. Empresas que prestam consultoria não podem fazer  auditoria para o mesmo cliente.Fonte: Ibracon
 
Moeda de troca na negociação com o banco

Com cinco marcas no segmento de comércio de moda – Via Veneto, Brooksfield, Brooksfield Donna, Brooksfield Júnior e Harry's –, o Grupo Via Veneto ainda era uma empresa média quando optou por contratar uma auditoria, há três anos.

A necessidade surgiu justamente em razão do crescimento da empresa, que começou a exigir maior controle sobre processos de todas as áreas. "O objetivo era ter tranquilidade em relação à gestão, à legislação e demais riscos de curto, médio e longo prazos", explica Victor Paschoalin Junior, diretor do grupo. 

A tranquilidade e o conforto que o trabalho de auditoria proporcionou aos sócios  se estendeu aos diretores da empresa e foram passados por eles o mercado. Segundo Paschoalin Junior, o trabalho de auditoria ajudou a integrar departamentos com as normas contábeis.

"Fazer a lição de casa de governança corporativa e de controle se torna uma moeda de troca forte com o banco, que olha as demonstrações auditadas e não duvida de nada. Para nós o reflexo foi imediato e o custo financeiro de empréstimos baixou. A taxa anual que pagamos diminuiu 6%", conta. Essa vantagem competitiva foi importante para a expansão orgânica de lojas do grupo, que aumentou em 30% e  hoje está presente em shopping centers em todo o Brasil. 

por Rejane Tamoto 

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