Dando continuidade ao artigo anterior sobre os remédios caseiros (ou métodos tradicionais) para solução de conflitos, que se caracterizam como “Nada a fazer”, “Acomodação” e “Aconselhamento”, segue a conceituação do segundo deles:
Acomodação
Nessa forma, as pessoas diretamente envolvidas promovem pequenos ajustes e concessões mediante esforços e iniciativas eminentemente de cunho pessoal.
Por exemplo, um pedido de material além do habitual piora os indicadores de eficiência do processo de aquisição e requer um ajuste inesperado no fluxo de caixa. Dentro do razoável, essa ocorrência não merece maiores cuidados e a solução vem por acomodação. A negativa do atendimento poderia ocasionar conflitos com várias áreas da organização e reflexos sobre o atendimento aos clientes.
Por meio da acomodação, cônjuges ajustam a convivência. Um ou ambos cedem. Contudo, há um limite – as separações o demonstram. Afinal, a cada acomodação de comportamento visível existe outra de fundo emocional nem sempre perceptível.
Algo muito semelhante acontece nas organizações. Ajustes e concessões são necessários, mas, em contrapartida, ocultam insatisfações. A rotina de uma área de trabalho ajusta-se para acomodar necessidades de outra; altera-se uma especificação para facilitar um procedimento; enfim, são incontáveis as situações. As queixas revelam suas faces em brincadeiras de gosto discutível, piadinhas de bastidores, descontroles movidos a álcool nas confraternizações, insinuações de mau gosto, indelicadezas e coisas assim, culturalmente ajustadas. Mensagens em banheiros podem ser sintomáticas.
As insatisfações ocasionam efeitos físicos, fisiológicos e psíquicos nas pessoas. São conhecidos as somatizações (gastrites, dores de cabeça, hipertensão e outros conhecidíssimos transtornos) e os transtornos psíquicos, como as depressões, episódios de pânico, ansiedades etc.
O administrador identificará, tardiamente, a existência de situações mal adaptadas quando uma das partes “explode” inexplicavelmente ao romper a válvula de segurança da caldeira emocional. Muitas vezes, a explosão revela-se por meio de um pedido inesperado de demissão, mediante demandas na Justiça do Trabalho…
Se a prática da acomodação pode conduzir à tensão, de outra forma ela estabiliza os processos e evita contínuas e dispendiosas modificações; torna o trabalho mais produtivo e estimulante. As pequenas acomodações facilitam o ajuste contínuo das pessoas a suas atividades e às outras pessoas e, muitas vezes, simbolizam o prazer de bem servir aos colegas, superiores e clientes. Sem acomodação, não há vida em sociedade.
No próximo artigo, apresentarei o remédio caseiro “Aconselhamento”.
Para um entendimento mais aprofundado da questão, tais práticas encontram-se descritas e comparadas em meu livro Mediação e solução de conflitos: teoria e prática. Com elas, evitam-se as dificuldades naturais da Justiça convencional: ganha-se tempo precioso, reduzem-se os custos e garantem-se aos participantes maior autonomia e segurança na elaboração dos acordos.
OSMIR FIORELLI
José Osmir Fiorelli é graduado em Engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em Psicologia pela Universidade de Tuiuti do Paraná (UTP) e pós-graduado em Administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em outras universidades, lecionou disciplinas relacionadas à Administração e à Psicologia Organizacional. Atua como palestrante e facilitador em workshops. É coautor de Mediação e solução de conflitos, Psicologia jurídica e Assédio moral: uma visão multidisciplinar, todos publicados pelo GEN | Atlas.
Fonte: Gennegociosegestao.com.br/
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