Por mais que no século 21 o conhecimento técnico para o exercício de qualquer profissão seja imprescindível, não é o bastante para o sucesso, uma realidade que se torna mais forte ainda no contexto do empreendedorismo contábil.
As tecnologias tributárias, a internacionalização das empresas no Brasil, a carência de pessoal capacitado, as mídias sociais e o acelerado crescimento do empreendedorismo na "nova classe média" criaram muitas oportunidades, mas também ameaças para aqueles que pretendem ou já desenvolvem negócios na área.
Transformações trazidas pelo Sistema Público de Escrituração Digital transcendem os conceitos tributários e fiscais. Os impactos dessa mudança na forma de prestação de contas ao fisco também vão além do simples uso de novos sistemas.
O grande desafio é processar os dados empresariais gerando informações tributárias com a velocidade e a qualidade requeridas pelo fisco. Por isso, o velho modelo de troca de dados entre empresas e organizações contábeis apresenta sinais claros de obsolescência. Custos e riscos vêm aumentando para quem ainda insiste em usar o papel como meio principal nesta interface.
Por outro lado, tal ruptura no modelo de negócios contábeis traz consigo o poder da criação de novos conceitos, processos e serviços, todos eles embarcados com um claro viés inovador e de forte base tecnológica. Afinal, nesse século a logística para a entrega do conhecimento se exprime pela tecnologia da informação, que ganha um novo caráter: a comunicação.
Na prática, surgem serviços de alto valor agregado, como auditorias de dados digitais, consultorias para seleção e implantação de sistemas de apoio à gestão, terceirização de processos e consultorias a distância etc. Até mesmo nas pequenas empresas, que são a maioria absoluta em nosso país, e cujos processos fiscais, tributários e trabalhistas hoje estão a cargo das organizações contábeis.
Boa parte desses empreendedores sequer tem noção da profundidade dos impactos do ambiente fiscal digital em que vivemos. Por isso, as oportunidades de inovação neste campo somente se concretizam com a aplicação de conceitos do "marketing de educação".
Por meio de redes sociais, blogs, comunicados impressos e eletrônicos, palestras e outros eventos, os profissionais da contabilidade interagem com seus clientes indo além do tradicional "como fazer", para explicar o "por quê" e o "para que". Enfim, ensinando-os a utilizar os serviços contábeis de forma a reduzir custos e potencializar oportunidades para os seus próprios negócios. Ações como essas aumentam significativamente a percepção de valor para o trabalho dos profissionais da área contábil.
O momento apresenta condições únicas, mesmo se considerarmos os grandes desafios. O Brasil conta com 5 milhões de pequenas empresas, 3 milhões de empreendedores individuais e uma nova classe média que quer empreender. São 28 milhões de pessoas envolvidas com a atividade empreendedora ainda em estágio informal. Isso, sem falar na quantidade de negócios internacionalizados que já se estabeleceram no País. O gigantismo dos números não deixa dúvida quanto ao tamanho das oportunidades para aqueles que têm competência técnica e atitude suficientes para inovar.
Por fim, profissionais com autoridade delegada por este perfil diferenciado devem ser líderes em suas comunidades. Cientes do tamanho do desafio brasileiro para aniquilar o Dragão Burocrático, empreendedores do setor contábil assumem, cada dia mais, esse papel precursor na sociedade.
Talvez essa seja a manifestação mais tangível da responsabilidade social dos contabilistas: liderar o País rumo à competitividade e à Justiça tributária. Reduzir drasticamente a burocracia e inverter a regressividade do sistema tributário são pontos fundamentais para a geração e distribuição de renda no País.
Ademais, sem essas duas conquistas, dificilmente as pequenas empresas poderão utilizar de fato todo o ferramental gerencial que a ciência contábil tem a oferecer aos gestores. Ao mesmo tempo, empresários dos ramos mais diversos só entenderão a contabilidade como Ciência da Riqueza quando ela deixar de ser ferramenta não remunerada do fisco, como muitos se queixam.
O presente é desafiador, evidente. Mas tenho a convicção de que um novo perfil de contabilista está emergindo: mais inovador, empreendedor e responsável socialmente.
Roberto Dias Duarte é administrador, membro do GT de Tecnologia do CRC-MG e coordenador do MBA Empreendedorismo Contábil no B.I. International
Fonte: DCI – SP
Via CRC/SC
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