Empresas com capital aberto, atividades reguladas ou que faturam mais de R$ 300 milhões ou apresentam patrimônio superior a R$ 240 milhões são, por lei, obrigadas a submeter suas demonstrações contábeis à auditoria externa. De certa forma, a partir dessa obrigatoriedade, essas grandes empresas aproveitaram a transparência para se diferenciarem no mercado, utilizando essa exigência, num primeiro momento, como ferramenta de marketing.
Hoje, todavia, essa transparência nas demonstrações contábeis tornou-se acima de tudo uma ferramenta de gestão.
Como as pequenas e médias empresas não têm essa obrigatoriedade legal, não fazem o mesmo uso desta ferramenta que passou a ser incorporada como uma exigência do mercado corporativo. Hoje, ser transparente é caso de sobrevivência. Não se trata de modismo.
Apesar da conhecida importância em ser transparente, é primordial tratar adequadamente qual será o apelo utilizado para que o pequeno e médio empresário adote essa postura. Ele sabe que é importante ser transparente em suas demonstrações contábeis, todavia, acredita que ficará vulnerável a algo que ele também não sabe o que é. Falta informação e o grande prejuízo em não ter esse diferencial é que essas empresas tendem a ficar, cada vez mais, fora dos grandes mercados que adotaram a transparência como um pilar da Governança Corporativa.
Não existe no mercado empresa que foi prejudicada por ser transparente, ou seja, por informar ao mercado como vai a vida financeira da sua empresa. É fundamental para a sobrevivência demonstrar a sua realidade, seja ela qual for, bem como os seus planos para administrar eventual desajuste. Quando você não informa com transparência pode parecer que existe algo a esconder. E os efeitos são a geração de dúvidas, desconfiança, descredito e, por fim, a não geração de negócio que impede o crescimento dessas e de qualquer empresa.
Transparência é sim um diferencial, e se a empresa não tem esse diferencial, é preterida. A fila anda. As grandes empresas que possuem gestão profissional somente se relacionam com empresas que transmitem confiança.
Essas empresas não compram matéria-prima de empresas das quais não tenham um grande grau de certeza de que irão receber o produto. Da mesma forma, não vendem para empresas que não demonstram capacidade de pagamento. Não fazem negócio com empresas que não administram contingências de qualquer espécie. Em síntese, as grandes empresas medem de forma sistemática o risco de relacionamento com as demais. Nesse rol de empresas certamente estão os agentes financeiros, cada vez mais preparados para análise de riscos de crédito.
Se o empresário não entender que a transparência gera valor para a sua empresa, independente do tamanho do seu negócio, se não se comunicar de forma adequada com o mercado, não irá prosperar.
A ausência de transparência mascara totalmente o desenvolvimento de qualquer processo de gestão corporativa. É o mesmo que uma pessoa ir ao médico com problema de saúde e por algum motivo não ser transparente, ou seja, omitir informações importantes que poderão levar o médico a diagnosticar e indicar o tratamento não apropriado.
Certamente o grande prejudicado será unicamente o paciente. Numa empresa ocorre da mesma forma. Se não há uma gestão transparente, sem dúvidas as contribuições dos colaboradores e de todos que se relacionam com a empresa, não serão adequadas.
As demonstrações contábeis e suas notas explicativas elaboradas em conformidade com as normas de contabilidade e auditadas devem demonstrar de forma clara e objetiva a transparência da empresa. Se a empresa não puder apresentar esse “raio x” ao mercado em que se relaciona, estará sozinha, contrariando o único objetivo da criação de uma empresa que é unir várias pessoas, físicas e jurídicas, para fazer algo que uma pessoa não pode fazer sozinha.
O grande desafio para as pequenas e médias empresas é ultrapassar a fase de transição e acabar de vez com o viés da transparência. Transparência não tem que ter viés. Exigir que sejam transparentes com a sua empresa, mas relutar em ser transparente com aqueles com quem você se relaciona. No mundo corporativo, cada vez mais, o pensamento tenderá a ser coletivo, sem espaço para meio termo.
porAdriano Legnari Faria é Diretor Nacional de Firmas de Auditoria de Pequeno e Médio Portes (FAPMP) do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil
Fonte: Jornal Brasil Econômico
Via IBRACON
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