Embora haja um cenário de crescimento da inovação no Brasil, a parcela dos empreendimentos que ela representa é muito pequena. Essa é a análise da coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), Simara Greco. Ela apresenta desdobramentos da última pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) no seminário Startups e Novos Negócios, realizado na sexta-feira, pela Câmara de Comércio Americana (Amcham-SP), em São Paulo.
O levantamento, realizado no Brasil pelo IBQP, traça o perfil do empreendedorismo no ano passado em 68 países. No seminário, ela discute um recorte da pesquisa com oito países em diferentes fases de inovação (fator, eficiência e inovação), escolhidos levando em consideração fatores como população, extensão geográfica e taxa de empreendedorismo. “O Brasil tem que melhorar [em relação à inovação], não temos muita opção nesse sentido. Se não entrarmos nisso, vamos perder o bonde”, avalia.
Qual o perfil do empreendedor brasileiro revelado pela pesquisa Global Entrepreneurship Monitor?
A pesquisa não busca startups, mas sim, conhecer quem são os indivíduos envolvidos na produção de qualquer negócio. Nós temos uma taxa bem alta no Brasil, de 17% da população envolvida na criação de algum tipo de negócio com até três anos e meio. Mas quando você busca um negócio que seja gerador de empregos, em um ambiente de mais baixa concorrência, um produto mais novo, que traga tecnologia, o que mais se aproxima das startups, esse grupo não chega a 1%.
A senhora apresenta um recorte da pesquisa GEM, comparando o Brasil com a Índia, Alemanha, Estados Unidos, Chile, México, China e Peru. Qual a posição do Brasil em relação aos demais países?
Em termos quantitativos, o Brasil está muito bem, em termos geral. Mas, quando se fala, por exemplo, de características como a pouca concorrência dos empreendimentos, o Brasil tem 36% do total, fica acima do México, da China, do Peru, mas muito abaixo dos Estados Unidos e do Chile. Se você fala da expectativa de geração de emprego, a proporção dos empreendimentos é de 5,1% no Brasil, acima do México e da Índia, mas também muito abaixo de Chile, Alemanha, Estados Unidos e China. Já quando se fala em orientação internacional, idade da tecnologia e novidade do produto, aí nós somos os últimos do grupo de países que estamos comparando. Mesmo entre os 68, estamos entre os últimos.
Quais são as áreas em que o empreendedorismo tem maior valor agregado no Brasil?
As atividades que identificamos com maior agregado são as área de comunicação, internet, automação de sistemas, consultoria em assuntos especializados, como na área ambiental, engenharia naval, serviços de engenharia e arquitetura. O que se destaca na geração de empregos é a área de transporte de cargas. Quanto mais valor agregado, melhor para o negócio e para o desenvolvimento econômico do país.
Como as startups brasileiras podem impactar a economia do país?
As startups já carregam um nível de tecnologia, de conhecimento mais avançado, o que traz um aprimoramento da qualidade dos empreendimentos, na capacidade de inovação, no impacto na geração de empregos e na geração de patentes. Em todos esses aspectos, elas são favoráveis para o desenvolvimento econômico e social. Como elas já requerem um nível de conhecimento educacional mais alto, trazem uma sofisticação maior nos empreendimentos desenvolvidos no país.
O que pode ser melhorado no modelo brasileiro de apoio aos novos empreendedores?
Na nossa pesquisa com especialistas sobre o ambiente para empreender no país, o que vemos é, primeiro, um impedimento ligado à população em geral e às condições oferecidas pelo país, que é a questão educacional. É preciso haver uma melhoria muito grande na qualidade do ensino desde o ensino básico até a formação em gestão de negócios para que as pessoas possam se envolver em negócios de maior valor agregado. A educação é uma questão básica importantíssima. Outras questões ligadas à educação são a capacitação para novos empreendimentos e uma relação mais forte entre as universidades e a iniciativa privada para transferência de conhecimento.
Também falta um apoio maior à inovação e um apoio financeiro diferenciado para a empresa que está começando. Estão surgindo muitas políticas governamentais, leis, projetos, linhas de crédito ligados à pequena empresa, mas a maior crítica que se faz é que não existe um plano estratégico em relação ao empreendedorismo em todo o país, não existe uma programação alinhada entre os diversos setores, a sociedade e as instituições para uma política definida de apoio aos novos empreendimentos.
Que medidas podem ser tomadas em relação à sustentabilidade dos novos negócios?
Primeiro seria facilitar tudo o que existe de regulamentação, os procedimentos burocráticos de criação de empresas, a diminuição do controle de modo que as coisas possam ser feitas de forma mais rápida. Hoje os novos negócios acabam emperrando na questão trabalhista, na formalização das empresas, em questões ligadas ao meio ambiente. Não que a gente não tenha que considerar esses fatores, mas hoje tanto a regulamentação como o custo são fatores que dificultam, principalmente, essas empresas mais criativas.
por Marta Valim
Fonte: Brasil Econômico
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