A sensação é que o brasileiro recolhe impostos apenas para manter
máquinas administrativas pesadas, inchadas e anacrônicas e financiar o
serviço das dívidas públicas
Por Vagner Jaime Rodrigues *
Em 15 de outubro, Dia do Professor no Brasil, onde esse profissional
inclui-se entre os de menor salário no universo das nações desenvolvidas
e emergentes, o Impostômetro da Associação Comercial deSão Paulo
indicava que, em 2012, os brasileiros já haviam recolhido 1,18 trilhão
em tributos municipais, estaduais e federais. Com esse dinheiro seria
possível construir 85,87 milhões de salas de aula equipadas ou contratar
88,83 milhões de docentes do Ensino Fundamental por ano. No entanto, a
educação em nosso país, apesar do avanço no tocante às vagas nas escolas
públicas, continua com qualidade muito abaixo de nossas expectativas de
desenvolvimento.
O exemplo do ensino, setor tão decisivo para o progresso, o
crescimento sustentado e o avanço da sociedade, é emblemático para se
enfatizar o descompasso entre osimpostos que pagamos aos municípios, aos
estados e à União e ao que recebemos de contrapartida em serviços
públicos, em especial no âmbito daqueles inerentes a direitos
constitucionais da cidadania. Infelizmente, temos hoje segurançapública
precária, atendimento médico-hospitalar de terceiro mundo, escolaridade
de má qualidade, infraestrutura, principalmente de transportes,
deficitária e antiquada. Ou seja, o Estado não tem cumprido sua parte
com a população. Talvez a grande exceção nesse contexto seja o processo
de inclusão socioeconômica verificado nos últimos anos, por meio de
programas de geração de renda e aumento do salário mínimo.
Contudo, prevalece a sensação de que o brasileiro recolhe impostos
apenas para manter máquinas administrativas pesadas, inchadas e
anacrônicas e financiar o serviço das dívidas públicas. Claro que não é
isso, mas há um grande abismo entre o que pagamos e a qualidade do que
recebemos. Só para arcar com a carga tributária, o brasileiro trabalha
2.600 horas, ou 108 dias, ou 3,6 meses por ano. Portanto, merece
respostas mais eficazes do poder público.
Estou cada vez mais convencido que o problema é a incapacidade na
gestão dos recursos públicos. O Estado continua sendo arcaico no Brasil.
Com raras e honrosas exceções, as instituições de saúde, educação,
segurança pública e previdenciárias, que atendem as pessoas físicas,
assim como os organismos que interagem com o mundo corporativo, são
exageradamente burocráticos, lentos e inspirados num modelo anacrônico
de criar dificuldades.
É premente, dessa maneira, um choque de gestão e eficiência nas
máquinas administrativas. Com certeza, temos recursos humanos
qualificados no serviço público para, bem geridos e orientados,
promoverem uma revolução de qualidade nos organismos estatais. Tal
avanço certamente nos daria, como cidadãos e contribuintes, asensação de
que não é em vão quebrarmos a cada ano, como vem ocorrendo, os nossos
próprios recordes de arrecadação tributária.
*Vagner Jaime Rodrigues é mestre em contabilidade, sócio da Trevisan
Gestão & Consultoria e professor da Trevisan Escola de Negócios.
Fonte: INCorporativa
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