sexta-feira, 18 de setembro de 2015

18/09 Segundo especialistas, real desvalorizado ajuda pequenas

O ex-ministro da Fazenda Bresser Pereira e diversos professores do ramo se posicionaram a favor do câmbio elevado. Piso de R$ 3,60 por dólar seria positivo também para as micro e pequenas empresas.

A crise econômica e a instabilidade internacional derrubaram o real nos últimos meses. No começo deste ano, R$ 2,60 compravam uma unidade da moeda americana. Mas, depois de sucessivas altas, o dólar já custa R$ 3,86. Para especialistas do setor, reunidos ontem em palestra sobre competitividade e taxa de câmbio, a forte variação é uma boa notícia.


Sergio Kannebley Junior, professor da FEA-USP, acredita que as micro e pequenas empresas têm muito a ganhar com o câmbio atual. "Com capital e capacidade produtiva mais baixos, as companhias menores têm a entrada no mercado internacional possibilitada em períodos como este, de real desvalorizado", disse. "Se houver estabilidade da taxa de câmbio, mais micro e pequenas empresas devem começar a exportar seus produtos", concluiu o economista.

O professor José Luis Oreiro, da UFRJ, explicou que o câmbio atual torna os produtos brasileiros mais baratos para compradores estrangeiros. Essa melhora na competividade seria "fundamental para estimular a indústria do País, que foi prejudicada pelo longo período de apreciação do real nos últimos anos".

A divisa brasileira passou grande parte deste século com preço elevado. Treze anos atrás, em setembro de 2002, um dólar chegou a custar R$ 3,87. Na época, a variação acompanhava as incertezas das eleições presidenciais, que seria vencida por Lula. Nos anos seguintes, o real se fortaleceu: R$ 1,50 chegou a ser o suficiente para comprar um dólar, em 2011.

Oreiro acredita que o caminho contrário é o ideal: "quando tenho real desvalorizado, cresce a participação da atividade industrial no PIB, principalmente nas nações em desenvolvimento", afirmou. "Os países que têm maior participação da indústria, têm também uma estrutura produtiva mais complexa e sofisticada, que favorece o seu crescimento", apontou o professor.

O enfraquecimento da indústria brasileira no período de apreciação do real pode ser medido pela pauta exportadora do País. Em 2000, quase 70% das vendas para o exterior eram de produtos industrializados. No ano passado, o número era de 49%. Enquanto isso, a participação dos produtos básicos, patrocinada pela China, saltou de 28% para 49% entre 2000 e 2014.

Ainda assim, os professores ponderaram que a desvalorização do real também é favorável para os brasileiros que dependem da venda de produtos básicos: "com o dólar a R$ 2,30, a conta dos produtores não fechava, por causa da queda no preço das commodities", disse João Guilherme Sabino Ometto, vice-presidente da Fiesp. "O câmbio atual reverteu esse quadro e permite, ainda, que a próxima safra já seja antecipada", completou.

A taxa de câmbio ideal, defendida pela maioria dos especialistas presentes, teria, hoje, piso de R$ 3,60 por dólar. "É possível seguir com esse número, que manteria a indústria competitiva e não causaria estragos à inflação", defendeu o ex-ministro da Fazenda Bresser Pereira.

"Eu acho que o câmbio já está ajustado, inclusive já passou um pouquinho do ponto, dos R$ 3,60", concordou Oreiro. "O importante agora é sinalizar para os empresários que, ao contrário do que aconteceu no passado, essa taxa competitiva veio para ficar", ressaltou.

Sobre o futuro da economia brasileira, Oreiro foi mais pessimista. O economista disse acreditar que uma segunda agência de risco vai tirar o grau de investimento do País e que o período de ajuste fiscal ainda durará cerca de dois anos.

Fonte: Jornal DCI-17/09/2015
Via Ibracon

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