quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

12/02 Alta do dólar produz ganhos estelares para fundos do mercado de câmbio

O dólar em alta está ajudando investidores a obter grandes retornos nos mercados de câmbio, marcando o ressurgimento de uma classe de ativos que até recentemente era evitada por muitos participantes do mercado.

Fundos de investimento especializados em câmbio registraram em janeiro seus maiores ganhos mensais em dez anos, de acordo com dados preliminares da firma de pesquisa Barclay Hedge. O desempenho dos fundos analisados, que têm quase US$ 20 bilhões em ativos, também superou a média dos fundos de hedge em geral no mês passado, segundo a análise.

Os fundos que tiveram o melhor desempenho usam algoritmos de negociação para verificar as tendências do mercado e fazer apostas no mercado futuro de câmbio. É uma estratégia que funciona melhor quando moedas com grande volume de negociação seguem uma única direção por um período prolongado — uma ocorrência rara antes de o dólar começar a subir no ano passado. Entre os maiores fundos no grupo analisado estão o P/E Investments, que tem US$ 4,1 bilhões em carteira, e o Ortus Capital Management Ltd., que administra US$ 994 milhões.

Uma análise de um grupo mais amplo de fundos focados em câmbio que adotam outras estratégias de negociação, feita pela firma Hedge Fund Research, mostra que eles tiveram um retorno de 2,1% em janeiro, seu melhor desempenho mensal desde abril de 2011.

Os dados ilustram como as negociações de moedas voltaram a ser uma estratégia lucrativa para os fundos, num momento em que muitos investidores estão apreensivos com a queda nos preços das commodities e as fortes oscilações nas bolsas.

“As pessoas estão se concentrando no câmbio de um modo que não faziam há muito tempo”, diz Robert Savage, que administra US$ 75 milhões no CCtrack Solutions, fundo de hedge que só aplica em câmbio.

Os mercados de câmbio têm frustrado muitos investidores desde a crise financeira de 2008, quando os maiores bancos centrais do mundo lançaram programas de estímulo com a meta de ressuscitar economias em dificuldades. Com as políticas monetárias ao redor do mundo se movendo numa única direção, os mercados de câmbio ficaram em banho-maria, eliminando as oscilações que os operadores precisam para produzir ganhos. Os fundos que eram especializados em câmbio minguaram, com algumas grandes empresas fechando as portas, já que o cenário negativo levou os investidores a outros ativos mais atrativos, como as ações, que estavam subindo.


Tudo isso mudou no ano passado, quando o Federal Reserve, o banco central americano, sinalizou que estava se preparando para elevar as taxas de juros em 2015, na esteira da recuperação da economia dos EUA. Enquanto o Fed continua planejando elevar suas taxas de juros, muitos bancos centrais da Europa e da Ásia vêm reduzindo as suas para estimular o crescimento. Essas divergências nas políticas monetárias incentivaram os investidores a abandonar os ativos de países em dificuldades financeiras e migrar para o dólar, criando novas oportunidades nos mercados de câmbio.

Os fundos que negociam moedas registraram retornos de 3,4% em janeiro, superando seus pares que atuam em outros mercados. Fundos que fazem apostas nas oscilações das ações tiveram ganhos de 0,5%, enquanto que as firmas que compram e vendem ativos de mercados emergentes acumularam perdas de 0,9%, de acordo com a Barclay Hedge. Os fundos de hedge como um todo ganharam 0,46% em janeiro, segundo a Hedge Fund Research.

Os fundos que têm se saído bem em 2015 fizeram grandes apostas de curto prazo acreditando que moedas de países em dificuldades iriam perder valor em relação ao dólar. O real, por exemplo, acumula no ano uma queda de cerca de 7,4% em relação à moeda americana.

O P/E Investments registrou ganho de 8,7% no mês passado com uma estratégia agressiva de negociação que batizou de FX Strategy Aggressive, segundo a Barclay Hedge. Outra estratégia de negociação — a FX padrão – gerou um rendimento de 4,8%. O maior retorno veio de apostas de curto prazo na queda do euro, do dólar australiano e do dólar canadense, diz uma pessoa próxima à estratégia das empresas. As três moedas foram as que tiveram maior desvalorização em comparação ao dólar americano em janeiro, tendo recuado 7%, 5% e 9%, respectivamente. O P/E tem US$ 3,9 bilhões em ativos investidos em câmbio.

Alguns operadores que adotam uma gestão ativa também se saíram bem em janeiro. No britânico Millennium Global Investments Ltd. B73.SG -0.68%  , a estratégia “alfa” gerou um ganho bruto de 7,2% em janeiro, seu terceiro melhor desempenho mensal em dez anos, de acordo com Lisa Scott-Smith, gestora da equipe de câmbio da empresa.

O resultado se deveu principalmente à aposta de que o dólar se valorizaria ante o euro. No fim do mês, o programa de estímulo do Banco Central Europeu, que inclui compras em grande escala de títulos de dívida, ajudou a derrubar ainda mais o euro.

“De maneira geral, somos otimistas em relação ao dólar, mas tínhamos uma forte intuição sobre o euro”, diz Scott-Smith.

O Millennium administra mais de US$ 13,5 bilhões por meio de várias contas e não integra o índice do Barclay Hedge.

Muitos fundos de sucesso preferiram evitar o franco suíço. A decisão do Banco Nacional da Suíça de eliminar o teto de valorização do franco fez a moeda disparar e causou enormes prejuízos para algumas firmas. O franco fechou janeiro com uma alta de 8% em relação ao dólar.

Nem todos os fundos, porém, apresentaram resultados estelares em janeiro. A FDO Partners, que administra US$ 2,3 bilhões, registrou alta de 1,17% no seu programa de câmbio global e de 0,77% no programa de câmbio de mercados emergentes, de acordo com Kenneth Froot, um dos sócios fundadores da empresa. A FDO usa dados de fluxos de moedas no mundo e de demanda de investimentos para selecionar quais moedas vai negociar. “Temos uma estratégia muito diferente” das adotadas por operadores que seguem tendências, diz Froot, que foi professor de finanças na Universidade Harward.

E alguns investidores têm se tornado mais cautelosos à medida que se avolumam as apostas na alta do dólar. “Uma coisa que deveria deixar todo investidor nervoso é quando vemos todo mundo indo na mesma direção.”

Fonte: WSJ

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