Após quase dez horas de análise, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) julgou o recurso do jogador de futebol Neymar Júnior, reduzindo o valor de uma autuação fiscal, de aproximadamente R$ 200 milhões, em cerca de um terço. O jogador vai recorrer à Câmara Superior do conselho. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) estuda se fará o mesmo.
A 2ª Turma da 4ª Câmara da 2ª Seção do órgão analisou recurso do jogador contra autuação fiscal aplicada para cobrar Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) sobre valores recebidos por uso da imagem do atleta e pela contratação do jogador pelo Barcelona, da Espanha, por meio de uma das empresas de Neymar.
"O Carf decidiu que a empresa tem substância
legítima e tudo o que explorou de direito de imagem
foi tributado corretamente", afirma o advogado
tributarista Marcos Neder, do escritório Trench
Rossi & Watanabe.
De acordo com o advogado, em relação ao direito de
imagem, só foi mantida a autuação sobre a
tributação das parcelas pagas pelo Santos. O clube
brasileiro para o qual Neymar jogava antes de ir
para o Barcelona pagava uma parcela de salário e
outra de direito de imagem à Neymar Sport. O Carf considerou tudo como
salário.
"A decisão do Carf foi importante para a Neymar Sport porque ela recebe
também de uma série de clientes mundo afora como Red Bull, Parmalat e
Nike. A decisão chancela que todos esses contratos foram legítimos", afirma
Neder.
Do total da autuação, aproximadamente metade era relacionada a direito de
imagem, segundo Neder. E desse montante só 20% relacionavase ao Santos.
Assim, com essa parte da decisão, o jogador já se livrava de pagar cerca de R$
80 milhões. "Ficou claro que a Neymar Sport existe e tem o direito de
explorar a imagem dos clientes, inclusive a do Neymar", diz.
À tarde, o Carf manteve a parte da autuação fiscal que referiase aos valores
recebidos do Barcelona. Entendeu que os 40 milhões de euros recebidos pela
N&N como cláusula penal do contrato descumprido pelo jogador deveria ser
atribuído ao Neymar Jr. Segundo Neder estima, essa parte da autuação
representa hoje cerca de R$ 100 milhões.
O que reduziu esse valor foi o fato de o Carf também admitir a compensação
dos tributos já pagos pelas empresas de Neymar. "A fiscalização não havia
considerado esse pagamento. Isso corresponde a entre 50% e 60% do total da
autuação", afirma Neder.
O advogado vai recorrer das derrotas no julgamento. "O Neymar Jr. nunca
recebeu nenhum dinheiro desses 40 milhões de euros. Esse montante está
nas empresas. Assim não é salário. Numa discussão mais profunda achamos
que vamos derrubar essa parte da autuação também", diz.
A procuradora da Fazenda Nacional, Lívia Queiroz, aguarda a formalização
do acórdão para decidir se recorrerá, na parte em que a União foi derrotada.
A procuradora afirma que, com a decisão, a Fazenda venceu duas teses
importantes no Carf, sobre o uso da pessoa jurídica na venda do atleta para o
Barcelona e no contrato com o Santos, que seria contrato de trabalho.
"Consideramos duas vitórias significativas, porque o Carf ainda está
consolidando seu entendimento sobre isso."
Por Beatriz Olivon e Laura Ignacio | De Brasília e São Paulo
Fonte: Valor
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