O pensamento no campo da Contabilidade Superior tem avançado enormemente no final deste milênio. Se considerarmos que o furor científico contábil tem os pés fincados há menos de um século atrás, então poderíamos concluir, relativamente, que grandes progressos já foram conseguidos até os nossos dias.
A informática, em particular, tem desempenhado um papel fundamental nesse sentido, possibilitando reflexões e experimentações científicas mais rigorosas e, paradoxalmente, mais suscetíveis a erros e conflitos internos, o que também contribuiu para a formação de grupos de interesses antagônicos. Sem embargo, é nesse processo dialetizante que se dá o aprimoramento das ciências.
Os segmentos mais expressivos e antagônicos que adquiriram ao longo das últimas décadas representação no meio acadêmico e empresarial, podem ser agrupados, basicamente e de forma simplificada, em dois grupos3: aqueles que sustentam a tese de que a contabilidade é um sistema de informações (às vezes considerada também como tecnologia, ciência aplicada, etc); e o segundo grupo, formado por aqueles que defendem a idéia de que a contabilidade é uma ciência pura, autônoma, dotada de princípios filosóficocientíficos próprios.
Apesar das divergências entre esses dois grandes grupos (pragmático e filosóficocientífico), há um ponto comum entre eles que é a convicção de se estudar a contabilidade sob a ótica do científico, ou seja, de acordo com regras, normas e princípios aceitos pela comunidade científica, abandonando-se, definitivamente, os padrões comportamentais do senso comum (mesmo os pragmáticos tentam buscar uma razão plausível para seus argumentos científicos). Percebemos uma nova realidade contábil composta de uma “cidadela científica” (A. Moles) que se tornou mais investigatória e mais objetiva, porém tomando caminhos diferentes.
A dicotomia entre os dois grandes grupos, segundo entendo, se origina da forma de pensar-filosófico. O primeiro grupo, cuja característica essencial é a afeição ao pragmático, sofre profundas influências do empirismo (Locke, Hume e Leibniz). O Prof. Régulo M. Puentes (Colômbia), em sua obra La Contabilidad como Ciência, faz a seguinte análise: “La manera de pensar y actuar de la escuela anglosajona en todo lo que se relaciona con la contabilidad, nace del empirismo inglés o sea que el conocimiento proviene de una experiencia externa producida por los sentidos...”(pág. 30). O outro grupo com as raízes na escola italiana, parte do pressuposto de que a contabilidade é uma ciência, sobretudo pura, tendo como base metodológica as orientações sugeridas por Popper, Carnap, Bunge, Hempel (neo racionalistas), ou então, E. Husserl, Hegel, W. Luijpen, A. Moles (fenomenólogos, com influências estruturalistas, funcionalistas).
O nosso estudo objetiva examinar, do ponto de vista da filosofia das ciências, as bases de formação desses dois grandes grupos, discutir seus principais elementos constitutivos, suas limitações e suas impropriedades. Interessa-nos, particularmente, abordar, a polêmica existente no campo contábil entre ciências naturais x ciências sociais, que rigorosamente tem a ver com a dicotomização dos dois grupos.
Prof. Valério Nepomuceno - Escritor, pesquisador, ensaísta.
Fonte: Researchgate.net/
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