Após as medidas adotadas para enfrentar a crise financeira que atingiu os principais mercados mundiais, alguns aspectos foram considerados na análise sobre os seus efeitos, dentre os quais se destaca o fato de que o tema da sustentabilidade, que foi amplamente debatido no último congresso (em 2010, na Malásia), foi substituído pelo da “transparência”.
Na expectativa do que poderá ocorrer nos próximos anos, é possível fazer algumas indagações, tendo em vista que um período de 20 anos é um longo e um curto intervalo de tempo, por mais paradoxal que isso possa ser.
Em 1990, Nelson Mandela foi libertado e representou o símbolo da liberdade na África do Sul. Margareth Thatcher concluiu suas reformas, com ênfase nas privatizações no Reino Unido. Tim Bernes-Lee publicou a proposta da versão 3.0 do Windows, e o mundo tinha 5,3 bilhões de pessoas.
Em 2010, o mundo tinha 6,8 bilhões de pessoas e, em 2050, poderemos ser 9 bilhões, o que nos traz algumas reflexões sobre o mundo atual. Sem a pretensão de esgotar o assunto, foram estabelecidos cinco pontos básicos de reflexão, sendo:
1 – Distribuição do poder global
O primeiro bloco de países reunidos para traçar os destinos mundiais foi composto pelos cinco países mais industrializados do mundo na época, que incluía França, Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. Esse grupo foi ampliado para o G11 – com a inclusão da Bélgica, Canadá, Itália, Holanda, Suíça e Suécia.
A partir de 2009, após crise financeira, admitiuse que esse grupo deveria ser ampliado para a formação do G20, que incluía os países em desenvolvimento, conhecidos como os BRICs Brasil, Rússia, Índia e China. Essa nova composição de interesses é que deveria estabelecer as diretrizes mundiais no desenvolvimento econômico, o que não deixava de ser um grande desafio, uma vez que o grupo teria que compartilhar culturas diferenciadas com interesses comuns e uma nova agenda a ser definida.
Comparando o que ocorreu nesses quatro anos e projetando o que está por vir, o que podemos avaliar é que o domínio mantém-se no grupo liderado por França e Alemanha (Eurozona), Reino Unido e Estados Unidos. Em que pese a importância da China no comércio mundial, sua influência em relação aos temas "sustentabilidade" e "transparência" ainda tem uma contribuição pouco relevante.
2- Recursos necessários
Nos últimos anos, o petróleo foi a commodity mais importante. O que se pode presumir é que alimentos, minerais preciosos e, principalmente, água serão os recursos mais desejados e escassos. Estabelecer premissas de uso sustentável desses recursos é uma das tarefas do G20.
Água e energia (petróleo) continuam sendo os recursos mais escassos e, em alguns lugares, são as motivações para disputas armadas. Na linha da disputa por uma participação mais efetiva nos mercados mundiais, pouco mudou. As economias mais desenvolvidas continuam exercendo suas lideranças na economia global.
3- Mercado de capitais no future
A globalização será diferenciada por regiões. Facilidade na movimentação de capitais globais e adoção de práticas padronizadas para possibilitar a comunicação e o entendimento dos relatórios financeiros que buscam demonstrar a criação de valores em um mundo sem fronteiras.
Com as inovações ocorridas, principalmente em função do desenvolvimento de novas tecnologias e o seu uso nos negócios, destaca-se o movimento para criar alternativas de novos mercados globais para empresas de pequenos e médios portes (SME's – Small Medium Entities). Várias jurisdições estão em busca de alternativas de mercados financeiros para atender a este segmento de empresas. Essas opções podem ser desde a criação de Fundos de Investimentos de capitais até Bolsas de Valores para essas empresas. O fato é que essas empresas passaram a ser vistas como uma alternativa relevante para o desenvolvimento econômico, contribuindo para a formação dos negócios e geração de empregos.
4- Ecossistema corporativo
Pequenas e médias empresas serão multinacionais do futuro, especialistas em resolver problemas locais e conectadas com o mundo global. A responsabilidade pelo uso dos recursos escassos do ecossistema é global, e a continuidade de sua destruição em favor do desenvolvimento econômico local será uma atitude condenada por todos.
Estabelecer limites para o uso dos recursos planetários é um grande desafio que, certamente, estará na agenda do G20.
Provavelmente, o efeito mais significativo na comparação da visão que poderíamos ter em 2010 e o que ocorreu até 2014, e projetando o que vem pela frente, refere-se ao surgimento de novos negócios com o uso de recursos da tecnologia da informação. Produzir informação financeira para influenciar a tomada de decisões dos presidentes em relação a novos negócios precisa de profissionais especialistas. Os executivos que lideram as grandes corporações estão focados e suportados por estratégias corporativas globais e têm a responsabilidade de construir modelos de negócios que se perpetuem diante das mudanças tecnológicas, não só para sobrevivência das empresas, mas também para manutenção das pessoas. A retenção de talentos como forma de manter a liderança das empresas constitui-se no desafio atual, frente às novas complexidades.
5- Governança e governos
Ênfase em facilitar a privatização de funções (indústrias/serviços) e atuar no policiamento do sistema. Os governos devem cada vez mais se afastar das atividades de indústria e de serviços, em que o mercado privado deve desenvolver as soluções. De outra parte, a atividade de fiscalização, monitoramento e aplicação de sanções deve ser executada pelos governos.
A busca de meios coerentes para sustentar todas as nações por regiões (grupos) e, também diante da economia global, será o grande desafio. Os controles de governança, de compliance e de assurance são críticos para a globalização dos negócios. Novos sistemas e novos princípios bases para regulação deverão ser incrementados.
O tema central do congresso de 2014 foi a discussão sobre transparência. Como consequência da crise financeira mundial, ocorreu o aumento da supervisão dos reguladores dos mercados financeiros. Esse aspecto representa uma resposta para as motivações da crise anterior e demonstra a vontade dos investidores em ter informações relevantes para tomar suas decisões. Formação de comitês de auditoria, mudanças no relatório do auditor, para incluir informações que antes eram discutidas entre auditores e membros da governança das empresas, estão na pauta para serem compartilhadas com os demais stakeholders. No âmbito dos governos, as novas Normas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público têm como objetivo melhorar a transparência e possibilitar a comparabilidade, gerando melhor conhecimento para os investidores e a sociedade em geral. No mesmo sentido, tem havido pressão da sociedade para desenvolver os portais da transparência, nos quais devem ser divulgadas muitas informações que anteriormente estavam apenas no ambiente interno dos governos.
Por Contador Paulo Ricardo Pinto Alaniz - Vice-presidente Técnico do Conselho Regional de Contabilidade do RS
Fonte: Revista CRC/RS n° 22
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