A Petrobras registrou prejuízo de R$ 21,6 bilhões no exercício de 2014. A empresa informou ainda que realizou uma baixa contábil de R$ 50,8 bilhões nas demonstrações financeiras auditadas de 2014, refletindo os ajustes feitos nos ativos que tiveram valor declarado inflado por práticas de corrupção, além do ajuste por reavaliação de ativos de refino, exploração e produção e petroquímica. Trata-se do primeiro resultado anual negativo da companhia, pelo menos desde 1996, base acessível na Comissão de Valores Mobiliários (CVM ).
Foi feita uma baixa contábil de R$ 6,2 bilhões referente aos gastos adicionais capitalizados indevidamente no esquema de corrupção descoberto pelas investigações da Operação LavaJato. Os ajustes relacionados à corrupção consideraram um percentual de 3% sobre contratos firmados entre 2004 e 2012, com 27 empresas. Foi nesse período que foram realizados os pagamentos indevidos descobertos pela LavaJato. As baixas referentes a esses pagamentos indevidos foram reconhecidas no terceiro trimestre.
A baixa por desvalorização de ativos ('impairment') somou R$ 44,3 bilhões. Entre as principais reavaliações de ativos estão Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro Comperj (R$ 21,8 bilhões), projetos do segundo trem da Refinaria Abreu e Lima (R$ 9,1 bilhões), E&P (R$ 5,6 bilhões), Cascade & Chinook (campo de petróleo no Golfo do México que teve baixa de R$ 4,2 bilhões), Petroquímica Suape (R$ 3 bilhões) e outros (R$ 800 milhões).
Essas perdas resultaram de “problemas no planejamento dos projetos, utilização de taxa de desconto com maior prêmio de risco, postergação da expectativa de entrada de caixa e menor crescimento econômico”, de acordo com relatório da empresa.
Segundo a Petrobras, foi feita a avaliação dos projetos separadamente da unidade geradora de caixa do refino, tendo em vista a postergação desses projetos por extenso período, motivada por medidas de preservação de caixa e problemas na cadeia de fornecedores decorrentes da LavaJato.
A Petrobras reportou ainda o complemento de R$ 1,6 bilhão em provisão para perdas com recebíveis do setor elétrico.
Corrupção
As baixas contábeis por corrupção foram o motivo do atraso de mais de cinco meses da publicação dos resultados auditados da companhia. Os últimos resultados com o aval da PricewaterhouseCoopers (PwC) foram os do segundo trimestre de 2014.
Desde março do ano passado, quando teve início da Operação LavaJato, as denúncias de corrupção sobre a Petrobras levantaram dúvidas sobre os resultados passados reportados pela companhia.
No entanto, foi na primeira semana de novembro que a PwC se recusou a assinar o balanço, depois que o ex-diretor de Abastecimento da companhia, Paulo Roberto Costa, admitiu, no âmbito de um acordo de delação premiada, as práticas de pagamento de propina. Na ocasião, ele confessou que os contratos eram superfaturados em 3%.
Mercado
A baixa contábil publicada hoje, embora seja maior que a esperada pelos agentes de mercado, é inferior ao controverso valor de R$ 88 bilhões citado pela companhia em janeiro, quando a Petrobras publicou as demonstrações não auditadas do terceiro trimestre do ano passado.
A elevada cifra, que é citada como um dos motivos para a demissão de Graça Foster do comando da estatal, se referia à diferença entre o valor contábil e o valor justo dos ativos da companhia. Havia também R$ 27,2 bilhões em ativos com valor justo superior ao valor imobilizado.
O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, porém, criticou a metodologia usada na ocasião, afirmando que estava “errada” e não dizia “praticamente nada”.
Credibilidade
Bendine afirmou que a partir de hoje a companhia voltou a garantir a credibilidade no relacionamento com acionistas e credores.
O executivo iniciou a coletiva de imprensa sobre os resultados do terceiro trimestre de 2014 e do exercício do ano passado ressaltando a reavaliação dos ativos da empresa, afetados pelos escândalos da Operação LavaJato.
“Dois princípios nortearam o trabalho de criação do modelo: transparência e credibilidade, que foram fundamentais para conseguirmos a chancela da PricewaterhouseCoopers [auditora externa]”, disse ele, na coletiva.
Quarto trimestre
A empresa informou ainda os resultados do quarto trimestre de 2014. O lucro líquido atribuível a controladores da estatal ficou em R$ 26,6 bilhões no último trimestre de 2014, revertendo lucro de R$ 6,3 bilhões um ano antes. Segundo a companhia, o prejuízo refletiu baixa de ativos, principalmente relacionados às atividades de refino, de exploração e produção de petróleo e gás natural e de petroquímica.
Ao mesmo tempo, a receita líquida cresceu 5% sobre as mesmas bases de comparação e terminou em R$ 85 bilhões. Os custos caíram 2,2%, o que ajudou a elevar o resultado bruto em 32,8% no trimestre, para R$ 22 bilhões.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado para excluir os efeitos de impairment, entre outros fatores, foi de R$ 20 bilhões, alta de 29% na base de comparação anual.
De outubro a dezembro de 2014, o lucro de exploração e produção caiu 77%, para R$ 4 bilhões. O prejuízo de abastecimento se multiplicou em quase quatro vezes, para R$ 32,2 bilhões.
A empresa porém, conseguiu melhorar seu resultado financeiro, para despesas de R$ 1,8 bilhão, contra despesas de R$ 3 bilhões em igual período de 2013.
Votos contrários
Dois membros do conselho fiscal votaram contra balanço da Petrobras referente ao exercício 2014: Reginaldo Ferreira Alexandre e Walter Albertoni. Os outros três membros do conselho aprovaram os resultados.
Segundo apurou o Valor, o conselho de administração também não aprovou o balanço por unanimidade.
por Rodrigo Polito, André Ramalho, Cláudia Schuffner, Camila Maia e Thais Carrança
Fonte: Valor
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