terça-feira, 19 de abril de 2016

19/04 Juros negativos: polêmicos, mas ajudam (um país, pelo menos)

Presos no baixo crescimento e sem inflação no horizonte, o Japão e alguns países europeus decidiram fazer algo novo: levar suas taxas de juros para abaixo de zero.

O experimento, além de polêmico, não tem dado grande resultado. Com uma exceção: a Suécia, destaque no grupo em todos os sentidos.

Veja os números de um relatório do Deutsche Bank lançado nesta semana. Primeiro, as taxas de juros e o crescimento anual em 2015:



Depois, os últimos números de inflação e sua trajetória nos últimos anos:


Por último, o crescimento da oferta de moeda e a tendência dos indicadores de de atividade nas empresas privadas industriais:


A questão agora é como o país vai lidar com isso. O mercado espera que as taxas fiquem negativas até 2018 - mas e se elas já não forem mais necessárias?

Nas atuais circunstâncias, qualquer evento inesperado (como uma alta do petróleo) já seria capaz de estourar a meta de inflação:

"O problema para o Riksbank é que se a inflação mantiver sua atual trajetória ascendente, eles podem se ver diante de um grande desafio de comunicação ao ter que reprecificar o mercado mais tarde este ano", diz o relatório.

Curiosamente, há pouco tempo o HSBC Global Research dizia que a inflação baixa na Suécia poderia ter se tornado estrutural tanto pela competição estrangeira, já que sua economia é bastante aberta, tanto pelo avanço tecnológico.

Isso acontece porque os consumidores são melhor informados sobre preços, o que aumenta a competição, e porque os custos mais baixos associados com a venda online causam pressão deflacionária.

"O impacto da tecnologia na inflação não pode ser subestimado, especialmente em países ricos e altamente dependentes da tecnologia como a Suécia", diz o texto assinado por James Pomeroy.

95% dos suecos usam a internet regularmente e quase metade da população do país está em empregos intensivos em conhecimento. 

Defesa

As taxas de juros negativas tem fortes defensores e detratores. Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), diz que elas são bem-vindas apesar dos riscos:

“Se não tivéssemos estas taxas negativas, estaríamos em uma situação muito pior hoje (...) Foi bom implementá-las nas atuais circunstâncias”.

Há alguns dias, os economistas Jose Viñals, Simon Gray e Kelly Eckholdverall publicaram no blog do Fundo uma defesa na mesma linha:

"No geral, [juros negativos] ajudam a entregar estímulo monetário adicional e condições financeiras mais fáceis, que apoiam a demanda e a estabilidade de preços".

Ataque

Muitos investidores discordam. Lloyd Blankfein, presidente-executivo do Goldman Sachs, escreve em sua carta anual que não consegue ver como um mundo de taxas zero ou negativas possa ser "o novo normal".

Os bancos estão sendo efetivamente cobrados por deixar dinheiro parado. A ideia é movimentar a economia, mas a preocupação é que isso acabe erodindo sua lucratividade.

Larry Fink, presidente-executivo da BlackRock, maior empresa de gestão de ativos do mundo, disse em sua carta que os juros negativos impedem a habilidade de planejar para o futuro e estão comendo a rentabilidade de coisas como pensões:

"Estas ações estão punindo severamente os poupadores do mundo e criando incentivos para busca de rendimento, levando os investidores para formas de ativos menos líquidas e com níveis cada vez maiores de risco, com consequências econômicas e financeiras potencialmente perigosas".

Fonte: Exame

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