Ultimamente, tem muita gente envolvida com o empreendedorismo apregoando o fim do plano de negócios e assumindo a modelagem de negócios no estilo Canvas como o novo padrão para o empreendedor analisar ideias e colocá-las em prática.
O que se vê, de fato, é que há uma confusão considerável ao se tentar comparar as duas técnicas, já que são complementares. Ao conhecer o que cada técnica proporciona ao empreendedor, talvez fique mais fácil entender o porquê da confusão.
O desenvolvimento de um plano de negócios estruturado ajuda a delinear e a entender em detalhes o modelo de negócio de uma empresa. Ao final, o plano de negócios mostrará os custos e as despesas do negócio, investimento inicial, máxima necessidade de recursos para colocar a empresa em operação, a estratégia de crescimento e de marketing e vendas, bem como a projeção de receita e lucro para os próximos anos.
Para se concluir um plano de negócios, o empreendedor pode levar semanas ou até meses. Porém, quando concluído, o resultado nem sempre é considerado uma fotografia real do que é ou será o negócio. A ajuda principal do plano de negócios é proporcionar um norte ao empreendedor e com isso fazer com que a gestão de sua empresa tenha métricas para acompanhar adequadamente seu crescimento. O plano de negócios se justifica em casos onde o empreendedor tem um objetivo claro a atingir.
Mais recentemente, com o intuito de focar em algo mais prático e rápido, conceitos como modelo de negócio Canvas e Lean startup (empresa iniciante enxuta) têm se popularizado, principalmente no mercado de tecnologia da informação, internet e áreas correlatas. O Lean startup foca na prototipação e experimentação e propõe uma abordagem prática e rápida para testar um conceito, um produto/serviço, analisar os resultados, fazer as devidas melhorias ou adaptações e lançar nova versão no mercado.
O especialista americano Steve Blank tem sido um defensor e evangelizador deste conceito. Seu mantra resume-se em não dar tanta atenção à análise de mercado, projeções financeiras e de crescimento. Ao contrário, ele sugere que o empreendedor deva “sair do prédio”, ou seja, que o empreendedor vá para a rua sentir na prática a reação do cliente em relação ao seu produto ou serviço. Com base no feedback do cliente, novos ciclos de prototipação podem ser iniciados até que se chegue a um produto considerado adequado pelo empreendedor, ou melhor, pelo seu cliente.
Na verdade, essa abordagem também é sugerida quando se discute o plano de negócios tradicional. O empreendedor entenderá melhor o seu mercado caso consiga fazer um teste real junto ao cliente. Porém, isso não é possível para todo tipo de negócio.
O conceito de Lean startup não é novo, mas ficou ainda mais popular no mundo das startups a partir da disseminação de outro conceito recente: o modelo de negócio Canvas. A proposta do modelo de negócio Canvas casa como uma luva com o de Lean startup, pois apresenta uma representação esquemática visual, em blocos, que resume os principais componentes do modelo de negócio de uma empresa. Como é algo prático de se fazer, o empreendedor consegue criar um modelo de negócio com este esquema em uma única folha de papel. Aí ele pode testar o conceito, discutir com outros membros da equipe, com clientes etc. e começa, então, a evoluir o modelo de negócio, com novas versões do Canvas.
Essa foi a ideia de Steve Blank ao contribuir para disseminar o modelo de negócio Canvas como uma ferramenta para aceleração de startups. O Canvas foi criado e proposto originalmente por Alexander Osterwalder e Yves Pigneur. A tese que defende Steve Blank é de que uma startup está em busca de um modelo de negócio sustentável e replicável e, por isso, precisa criar protótipos, testar hipóteses, “dar a cara para bater” para, então, começar a crescer. Já empresas maiores buscam executar modelos de negócios comprovados. Assim, ele sugere que nos casos das empresas iniciantes não se dê tanta atenção ao plano de negócios e priorize o Canvas.
O Canvas pode ajudar muito o empreendedor na fase de análise da oportunidade, uma etapa do processo empreendedor anterior ao desenvolvimento do plano de negócios. Se o empreendedor aplicar o Canvas e complementar a análise com a parte financeira e mercadológica, bem como a análise de competidores do plano de negócios, poderá ter algo prático que talvez seja um meio termo entre um conceito que precisa de mais informação para ficar completo e um plano de negócios denso e detalhado.
Uma técnica não substitui a outra e ambas podem ser utilizadas em qualquer negócio. Negócios que demandam alto investimento inicial naturalmente precisarão de um plano de negócios mais estruturado, com clareza dos recursos que serão alocados na empresa.
Startups de tecnologia e empresas pontocom podem se beneficiar mais do Canvas, caso o risco dos empreendedores seja pequeno e o investimento na criação do protótipo inicial não seja crítico para os envolvidos.
Esta coluna foi escrita com base no livro “Empreendedorismo para Visionários” e publicada originalmente no site UOL Empreendedorismo.
por José Dornelas
Fonte: José Dornelas
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