A crescente volatilidade que os mercados de ações, títulos de dívida, câmbio e commodities estão experimentando neste ano lançou os investidores numa busca frenética para descobrir o que está acontecendo.
As turbulências nos mercados se intensificaram ontem, com bolsas despencando no mundo todo diante da fuga dos investidores das ações para investimentos considerados mais seguros, como as notas do Tesouro americano.
Nos Estados Unidos, a Média Industrial Dow Jones recuou 1,6%, para 15.660,18 pontos, enquanto os rendimentos das notas de dez anos do Tesouro caíram de 1,706% ao ano na quarta-feira para 1,642%, um reflexo da alta nos preços causada pela maior demanda pelo papel. Os futuros do ouro, outro ativo para o qual os investidores correm em tempos de incerteza, subiram 4,5%, para US$ 1247,90 a onça, enquanto o dólar caiu 0,96% ante o iene. No Brasil, o Ibovespa recuou 2,62%.
Encontrar uma tese abrangente e amplamente aceita tem se mostrado difícil, o que levou ao surgimento de várias explicações concorrentes, todas elas bastante insatisfatórias. “Há uma confluência de notícias ruins em todo o mundo que realmente abala a confiança do investidor”, diz Brad McMillan, diretor de investimento da corretora Commonwealth Financial Network, que administra cerca de US$ 100 bilhões. “Essa volatilidade é percebida como muito incomum e assustadora, o que está agravando o problema.”
Então, qual a melhor maneira de explicar o comportamento dos mercados em todo o mundo? Eis aqui cinco teorias:
É culpa dos especuladores
Enquanto o Federal Reserve, o banco central dos EUA, passava a maior parte de 2015 se preparando para elevar os juros, os investidores apostaram que os bancos embolsariam o aumento da diferença entre o que cobram por empréstimos e o que pagam pelos depósitos. Mas as ações de empresas financeiras vêm despencando neste ano depois que investidores abraçaram a ideia de juros “mais baixos por mais tempo” — uma previsão sóbria de que os juros não subirão muito durante anos. O Banco do Japão surpreendeu um já titubeante setor financeiro global ao levar seus juros para território negativo, em 29 de janeiro. E agora, até o próprio Fed não descarta essa possiblidade, como indicou sua presidente, Janet Yellen, ontem.
Isso ressalta tanto o pessimismo sobre a economia global quanto o vaivém visto nos últimos 12 meses nas operações financeiras baseadas em grandes questões “macro”.
“O dinheiro especulativo foi para os bancos no fim de 2015 porque eles antecipavam altas nos juros, e aí esse dinheiro foi embora”, diz Diane Jaffee, gestora de portfólio na TCW Group Inc.
Ansiedade ao redor do yuan
Alguns dizem que o atual tumulto nos mercados tem raízes na China. Muitos investidores acreditam que o país não terá outra escolha a não ser desvalorizar o yuan, medida que poderá aprofundar a crise econômica global. As autoridades chinesas dizem que não pretendem desvalorizar a moeda, mas alguns fundos de hedge estão tentando forçar a mão fazendo apostas de bilhões de dólares contra o yuan.
Analistas estão acompanhando este confronto de perto, depois que uma desvalorização do yuan, em agosto, deflagrou uma onda global de venda de ações. Por trás desse movimento estava o receio de que a economia chinesa — cujos dados há muito são vistos com suspeita por Wall Street — está caminhando para um choque de realidade.
São os fundos soberanos
Países produtores de petróleo injetaram bilhões de dólares em fundos de investimento quando os preços da commodity estavam em alta. Agora, esses fundos estão liquidando ações compradas em tempos mais felizes e acelerando a forte queda do mercado nos EUA, teorizam alguns.
Claro que dados sobre quem está e não está vendendo são escassos e há certa razão em questionar se esses fundos, por maiores que sejam, podem realmente ter um efeito significativo nas bolsas dos EUA e do mundo.
Embora o banco J.P. Morgan estime que os fundos soberanos serão forçados a vender
US$ 75 bilhões em ações em todo mundo neste ano, o mercado americano recentemente foi avaliado em US$ 20,95 trilhões.
“Os preços do petróleo serão constantemente pressionados, mas não vejo um fluxo de fundos soberanos alimentados por petróleo como uma ameaça mortal às ações dos EUA ou ações em geral”, diz Ben Mandel, estrategista da divisão de gestão de ativos do banco J.P. Morgan.
Preocupações com os EUA
Muitos investidores temem que os EUA, que nos últimos anos foram a economia com o melhor desempenho do mundo desenvolvido, estejam prestes a ser derrubados por forças globais, inclusive a valorização do dólar.
O setor manufatureiro do país se contraiu pelo quarto mês consecutivo em janeiro. A criação de novos empregos, há muito o destaque da expansão econômica, desacelerou. O Fed expressou preocupação. Ao mesmo tempo, para acentuar as incertezas, o desemprego caiu em janeiro e os salários cresceram, e muitos indicadores do mercado que podem apontar para dificuldades econômicas futuras parecem exagerados (considere a queda nas ações dos bancos, que derrubou o valor de mercado de grandes instituições dos EUA para abaixo do valor declarado do patrimônio líquido).
Não há crescimento
A queda nos preços do petróleo desde junho de 2014 foi amplamente atribuída ao excesso de oferta, já que produtores de todo mundo continuaram extraindo mesmo com os preços deprimidos. Mas, com a cotação do petróleo registrando novos recoredes de baixa neste ano, os investidores passaram a apontar para uma queda também na demanda.
“Se os preços das commodities como um todo estão fracos, isso me diz que, no geral, a demanda global também está fraca”, diz Paul Nolte, gestor de portfólio da Kingsview Asset Management, que administra cerca de US$ 150 milhões.
(Colaborou Chao Deng.)
Fonte: WSJ
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