Um número incrivelmente grande de empresas ainda não evoluiu sua
contabilidade para o padrão IFRS ou Normas e Padrões Internacionais de
Contabilidade. No Brasil esse conceito mundial de contabilização foi
introduzido através de lei (11.638) em 2007. Essa mesma lei deu prazo
para as empresas se adaptarem até 31.12.10. Não me canso de ver balanços
nos dias de hoje, maio de 2013, no formato da lei antecessora (6.404)
de 1976. Isso mesmo, uma lei defasada em 40 anos.
Não optar em fazer os balanços pelos critérios da IFRS é tão grave
quanto deixar um não contador fazer sua escrita contábil. Os novos
padrões são totalmente diferentes do que se ensinava nas escolas há mais
de 40 anos atrás. E por que encontramos balanços tão defasados? Eu
resumiria os motivos em apenas 2 pontos:
- muitos contadores não evoluíram, não continuaram estudando e agora
não conseguem entender as CPCs (desdobramentos da IFRS) que hoje
perfazem mais de 50 pronunciamentos e determinações. Assim, como seus
clientes sabem menos ainda, continuam contabilizando como aprenderam; e
- a lei que institui a IFRS não colocou nenhuma multa pela sua não
adoção. “Apenas” estipula que a empresa deverá fazer todos os seus
balanços seguindo os preceitos da IFRS, retroagindo sempre a 31.12.10,
quando decidir adotá-los ou quando for exigido, como por exemplo, quando
precisar de um empréstimo de bancos oficiais, participar de licitações,
abrir capital ou vender uma parte para fundos, etc.
Eu poderia fazer como políticos e técnicos de futebol e colocar a
culpa também na imprensa. Isso porque ela pouco divulga ou cobra esse
tipo de situação. Mais ainda: a contabilidade mundial já está um passo a
frente da IFRS e aqui no nosso país quase não encontramos publicação
sobre tal fato. Isso porque agora em abril ocorreu a primeira audiência
pública para lançamento dos principais elementos do IIRC e praticamente
não houve divulgação. E perceba que essa audiência foi em São Paulo, na
Bovespa.
Mas o que é IIRC ?
Tudo começou em 2004.
O Príncipe Charles (aquele que trocou a Princesa pelo Sapo) lançou o
Projeto A4S – Accounting for Sustainability. Esse projeto, em conjunto
com a GRI – Global Reporting Initiative, consiste no desenvolvimento de
sistemas, relatórios, diretrizes e ferramentas para incluir
sustentabilidade nos processos de tomada de decisão.
Em 2010 o Príncipe evoluiu seu projeto para todo o mundo, através da
criação da IIRC – International Integrated Reporting Council ou Comitê
Internacional para Relatórios Integrados.
Em 2011 foi lançado o Projeto Piloto para a adoção do IIRC. Hoje mais
de 90 empresas mundiais, em 11 países, já emitem seus balanços e
relatórios atendendo os princípios do IIRC, dentre elas a Unilever, a
Coca-Cola, a Microsoft, o HSBC, a Nestlé e, no Brasil, a Natura.
Em 26.11.12 o IIRC lançou um protótipo da versão 1.0 do Modelo Internacional a ser adotado.
Agora a Audiência Pública, que ocorreu na Bovespa, estipulou que toda
a sociedade internacional tem o prazo até 15 de julho para emitir
sugestões e comentários, pois a versão definitiva sairá em dezembro de
2013.
Mas o que realmente é o IIRC ?
Bem resumidamente, são balanços e relatórios que contenham
simultaneamente informações contábeis, financeiras, estratégicas e sobre
governança corporativa.
O IIRC estipula mais cinco capitais para uma empresa, além do financeiro, importantes para a geração futura de resultados:
1 – Físico: Procedência, longevidade, construção e durabilidade de todos os objetos utilizados na produção de bens e serviços;
2 – Humano: Competências, habilidades e motivações da equipe de trabalho;
3 – Social: Relacionamento que a entidade possui com a comunidade, clientes, fornecedores, acionistas, órgãos reguladores, etc.;
4 – Natural: Capital formado pelos ativos ambientais, renováveis ou
não, que fornecem ou permitem o fornecimento de bens ou serviços para a
entidade; e
5 – Intelectual: É composto pelos intangíveis baseados em todos os conhecimentos que a empresa detêm.
Atualmente as empresas elaboram seus relatórios com apenas dois dos
itens acima, o financeiro e parte do físico. Nos balanços e relatórios, a
partir do ano que vem, as empresas deverão informar o efeito de suas
operações nos outros capitais.
O IIRC não pode ser confundido com o que conhecemos como Balanço
Social. Hoje algumas empresas apuram o índice de satisfação dos clientes
e colaboradores, horas de treinamento, redução do impacto ambiental e
outras, mas não cruzam isso com dados numéricos do balanço. É comum
encontrarmos esses índices bem elevados, em notas explicativas, enquanto
que no balanço altos valores como passivos de reclamações trabalhistas e
autuações ambientais. Hoje no Balanço Social é tratado como uma
ferramenta de marketing, pois normalmente listam-se apenas dados
positivos da empresa.
O IIRC determinará que todos os capitais da
empresa sejam demonstrados e com seus efeitos detalhados, sendo eles
positivos e negativos, pois trata-se de um balanço, e que, por fazer
parte integrante das Demonstrações e dos Relatórios, serão todos
auditados.
Destaco que o IFRS e o IIRC determinam padrões internacionais de
contabilidade e, portanto, devem ser adotados por todas as empresas,
independente do seu tamanho ou ramo de atuação, não devendo também
“necessitar” de leis para serem implementados.
Lembro que o Contador
pode perder seu registro pelo não cumprimento de suas obrigações
profissionais. E nossa profissão esta cada vez mais valorizada.
E quais são os objetivos do IIRC ?
O IIRC estabeleceu 5 objetivos para os Relatórios Integrados:
- Apoiar as necessidades de informação dos investidores, mostrando as
consequências mais amplas, inclusive de longo prazo, da tomada de
decisão;
- Refletir exatamente as interconexões entre fatores financeiros,
ambientais, sociais e de governança nas decisões que afetam o
desempenho, inclusive no longo prazo, deixando clara a relação entre a
sustentabilidade e o valor econômico;
- Fornecer a estrutura necessária para que os fatores ambientais e
sociais sejam levados em consideração, de forma sistemática, nos
relatórios e nas tomadas de decisões;
- Reequilibrar as métricas de desempenho, afastando a ênfase excessiva apenas no desempenho financeiro de curto prazo; e
- Fazer com que os relatórios, mais precisos com todas essas
informações, sejam utilizados pela administração na gestão do negócio no
dia-a-dia.
Assim, concluímos que o IIRC vem para revolucionar. Portanto faço dois apelos:
Primeiro: Que os empresários se preparem para o que vem, já iniciando
a implementação de controles e repassando a seus contadores todos os
dados que serão necessários para atender tanto à IFRS como ao IIRC.
Destaco que, pelo descrito, são controles que deverão ser implementados a
curto e médio prazos para que se possa obter todos os dados dos
capitais que formam a empresa, e aquelas que saírem na frente sem dúvida
se destacarão nesse mercado tão competitivo; e
Segundo: Que todos os contadores se atualizem e se preparem para
exercermos com perfeição e afinco a profissão que escolhemos e abraçamos
como complemento de nossas satisfações pessoais, uma vez que essas
novas determinações vêm ao encontro de tudo aquilo para o que estudamos:
prestar um serviço visando a informação correta como premissa essencial
ao convívio em sociedade.
Por Marco Antonio Pinto de Faria
Fonte: Blog Skill
Via José Adriano
Parabéns pela matéria, sem duvidas é um assunto pouco lembrado no meio contábil, por isso ressalto a importância da informação. Gostaria de saber se posso divulgar, sempre citando a fonte e o autor.
ResponderExcluirMais uma vez parabéns e muito obrigado.
Essa matéria foi retirada do blog José Adriano,
ResponderExcluirFonte: Blog Skill
Autor Marco Antonio Pinto de Faria
http://blogskill.com.br/ifrs-iirc-contabilidade-atual-e-do-futuro/