A ausência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na divulgação das medidas do ajuste fiscal, em 22 de maio, provocou um pequeno terremoto no mercado financeiro no início da semana passada. Até a terça-feira 26, a bolsa recuou 2,7% e o dólar avançou 5%. Levy afirmou que não participou da entrevista devido a uma gripe, informação confirmada oficial e oficiosamente nos dias que se seguiram por vários porta-vozes do governo. A preocupação com a saúde do ministro é mais do que justificada. Levy é considerado pelo mercado financeiro como o fiador da ortodoxia econômica da administração Dilma Rousseff.
A mera hipótese de sua saída do cargo, ou mesmo da redução de sua influência na formulação das políticas econômicas, lançou uma sombra de desconfiança entre os investidores, ainda que por apenas dois dias úteis. “Levy é o grande bastião da credibilidade do governo, tanto pela sua trajetória anterior quanto pelo que ele vem falando”, diz o administrador de empresas paulista Cláudio Mifano, sócio da gestora de recursos Claritas, com R$ 3,4 bilhões sob administração. O ministro permanece, mas as notícias da economia não são boas. Além da contração de 0,2% do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre e das previsões de uma inflação superior a 8% em 2015, os investidores estão reticentes com o cenário internacional.
O Departamento de Comércio dos Estados Unidos anunciou, na sexta-feira 29, que a economia americana encolheu 0,7% no primeiro trimestre, resultado muito pior do que o esperado. No fim de abril, o próprio Departamento de Comércio havia estimado um crescimento modesto de 0,2% para os três primeiros meses de 2015. Fim dos tempos? Não necessariamente. A situação é complicada, mas sua trajetória é de melhoria e deve ser considerada na hora de escolher os investimentos durante a crise. “O Brasil é ruim até a página três, mas as medidas que vêm sendo tomadas estão na direção certa”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora paulista Gradual.
“A questão fiscal estava assumindo uma trajetória explosiva, mas agora o governo cortou gastos importantes e reduziu as desonerações.” No entanto, a correção da rota vai demorar para render frutos. Segundo Perfeito, um superávit expressivo nos gastos nominais do governo, algo considerado essencial pelo mercado, só será visível em 2016. “A economia está desacelerando, e com isso a arrecadação de impostos cai.” Nesse cenário, os administradores de recursos são unânimes em afirmar que os investidores conservadores devem evitar o risco. A ordem é defender seu dinheiro da inflação, aproveitando os juros já elevados e que devem subir mais um pouco nos próximos meses.
Segundo Mifano, a melhor alternativa são títulos públicos corrigidos por índices de inflação, como os Tesouro IPCA com vencimento entre 2019 e 2022. Na sexta-feira 29, esses papéis pagavam ao investidor a variação do IPCA mais taxas ao redor de 6,3% ao ano. Outra alternativa são aplicações de renda fixa pós-fixadas que rendam juros de, no mínimo, 95% da taxa Selic. “Com isso, será possível ao investidor capturar um pouco da alta das taxas de juros prevista para os próximos meses”, diz Fernando Aldabalde, sócio da gestora de recursos carioca Áquila. Atualmente em 13,25% ao ano, a Selic deverá encerrar 2015 a 13,75%, o que representa um prêmio de quase 5% em relação à inflação projetada para o ano.
Aplicações em renda variável devem ser evitadas, por dois motivos. Um deles é o ritmo lento da economia, que afeta os resultados das empresas. Outro é a incerteza dos investidores internacionais, que causa problemas adicionais por aqui. “Os ativos brasileiros são muito mais líquidos do que os chineses, mexicanos e sul-africanos, por isso eles são a escolha de quem quer montar uma posição em mercados emergentes”, diz Perfeito. “Isso aumenta a volatilidade e os riscos para o investidor.” Obviamente, investidores com perfil agressivo devem aproveitar o momento para garimpar ativos baratos e pechinchas na Bolsa. Mas o risco de levar uns tombos, sempre é bom lembrar, é muito elevado.
Fonte: Isto é Dinheiro
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