A aplicação de recursos de empresas estrangeiras no setor produtivo brasileiro - relação que é medida pelo Investimento Direto no País (IDP, antes chamado de IED) - foi suficiente para cobrir o rombo nas contas externas.
Pelo menos em maio, quando esses investimentos foram de US$ 6,6 bilhões, e o déficit das transações correntes somou US$ 3,4 bilhões.
O dado positivo dos investimentos diretos no país surpreendeu o mercado - que estimava, segundo a AE Projeções, um resultado entre US$ 3,7 bilhões a US$ 4,5 bilhões. Até o próprio Banco Central, que é quem divulga essa estatística, esperava que os investimentos estrangeiros fossem menores, em torno de US$ 4 bilhões.
A projeção havia sido feita com base nos números apurados até 22 de maio, quando o País havia recebido US$ 2,8 bilhões em recursos externos.
Em abril, Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, enfatizou que, com a nova metodologia de cálculo do IDP, houve uma profunda alteração nas estatísticas por causa da alteração de conceito relativo a empréstimos intercompanhias.
O IDP também deve ser mais volátil do que o antigo IED, de acordo com o técnico. Ele deu como exemplo uma captação externa de US$ 10 bilhões feita por uma subsidiária de uma empresa brasileira no exterior.
Antes, essa captação transferida pela subsidiária para a matriz brasileira era considerada como empréstimo de amortização de capital.
Agora, é computada como IDP dentro do conceito de "internacionalização" de recursos de "fora para dentro". "Não importa se a filial é brasileira ou não. O importante é de onde estão vindo os recursos", diz Maciel.
Para Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o resultado do IDP é alentador e mostra que o pessimismo tem sido maior dentro do próprio país.
"Com o dólar no atual patamar, o Brasil está sendo considerado barato. O bom resultado do Investimento Direto, no entanto, ainda não é o suficiente para cobrir o déficit das contas externas", diz.
Em um prazo mais longo, os investimentos não cobrem o resultado negativo de transações correntes, ou seja a saída de dólares do Brasil.
No acumulado dos últimos 12 meses até maio deste ano, o saldo de IDP ficou em US$ 83 bilhões, o que representa 3,81% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos no país).
Para efeito de comparação, no acumulado dos últimos 12 meses até maio deste ano, o saldo das transações correntes está negativo em US$ 95,7 bilhões, o que representa 4,39% do PIB.
Nos primeiros cinco meses de 2015, o ingresso de investimentos estrangeiros destinados ao setor produtivo soma US$ 25,5 bilhões ou 4,12% do PIB. Nos primeiros cinco meses do ano, o rombo nas contas externas soma US$ 35,8 bilhões ou 4,17% do PIB.
A projeção do Banco Central é que o IDP de junho fique em US$ 4 bilhões, com base na informação obtida até o dia 18 de junho de entradas no valor de US$ 2,8 bilhões. Para o déficit nas transações correntes, a estimativa do BC é que fique em US$ 3,5 bilhões em junho.
Com a mudança no cálculo, o Banco Central trouxe para as estatísticas o conceito de "lucros reinvestidos" - que ocorre quando uma empresa obteve um lucro e decide manter esses recursos no Brasil em vez de repatriá-lo para a matriz.
Essa nova conta tem impacto no registro de IDP, mas não afeta o fluxo cambial. Em maio, os lucros reinvestidos ficaram negativos em US$ 364 milhões.
BALANÇA COMERCIAL
Alfieri, da ACSP, diz que o dólar favorável está diminuindo as importações. E, desta forma, ajudando o resultado da balança comercial (que é a diferença do valor entre tudo o que é exportado e importado).
Na terceira semana de junho, esse valor foi positivo, com um superávit de US$ 565 milhões. Isso porque as exportações somaram US$ 4,4 bilhões e as importações, US$ 3,8 bilhões, segundo o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
No ano, as exportações somam US$ 88,3 bilhões e as importações, US$ 87,4 bilhões, com saldo positivo de US$ 914 milhões.
Segundo o economista da ACSP, o volume em exportações não tem crescido tanto por causa da queda nos preços e na própria demanda de commodities, como o minério de ferro e soja, por exemplo.
O que trouxe resultado positivo, segundo ele, foi a queda nas importações - causadas não só pelo dólar alto, mas pelo encolhimento na renda do consumidor brasileiro.
Para Alfieri, um desempenho melhor das exportações pode amenizar as notícias ruins da economia. "Segundo o levantamento realizado pelo Caged, só a Agricultura não teve fechamento de vagas de emprego em abril. Então as exportações podem ajudar esse setor. E com mais dinheiro financiando a agricultura, a inflação de alimentos pode arrefecer", afirma o economista.
*Com informações de Estadão Conteúdo
Fonte: Diário do Comércio
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