Após oito anos no cargo de diretor financeiro e uma carreira inteira pautada dentro do departamento responsável por administrar o dinheiro e os investimentos da empresa, o economista Luiz Minervino decidiu fazer uma grande mudança profissional. Há quase um ano e meio, ele é o "business partner" financeiro para América Latina da Autodesk, companhia americana especializada em softwares de engenharia e design 3D.
A mudança foi grande. Apesar de seguir trabalhando com sua expertise, o executivo deixou o departamento financeiro e, agora, atua na área de vendas da multinacional. "O business partner financeiro cuida de uma área específica ou de uma unidade de negócio da companhia", explica Marcela Esteves, gerente da divisão de finanças e contabilidade da consultoria de recrutamento Robert Half. "É a pessoa responsável por tudo relacionado às finanças da área onde está inserida - não a parte básica, que envolve contabilidade e tesouraria, e sim a mais estratégica, de planejamento financeiro, orçamento e precificação."
No escopo de trabalho de Minervino está, por exemplo, administrar o orçamento do departamento de vendas, pensar em promoções e descontos, montar as cotas dos vendedores internos e dos revendedores, e fazer cálculo de pagamento de incentivos. "Meu objetivo é ajudar a equipe a atingir seus resultados", afirma.
Além dessas atribuições, o executivo também é responsável por acompanhar o desempenho financeiro da área ao longo do ano. As cotas dos vendedores, por exemplo, são pensadas anualmente e divididas por trimestres. Depois, é preciso checar periodicamente se elas estão sendo atingidas e, com base nisso, tomar decisões de negócio.
Segundo Thayanie Ujino, sócia-gerente da Asap Recruiters, a demanda por profissionais de finanças com esse tipo de atuação é cada vez maior nas grandes empresas. "São companhias que precisam de um controle e segurança muito grande em cada área do negócio", afirma.
Gabriela Coló, sócia da consultoria de recrutamento Havik, também nota aumento na demanda. Ela afirma, no entanto, que nem todos no mercado conhecem esse profissional como business partner, termo mais comum para quem é de recursos humanos e atua dentro de uma unidade de negócio. Segundo ela, alguns usam o termo como "business controller".
"As áreas comerciais e de produto nem sempre têm um alinhamento adequado com o financeiro e é preciso que toda a empresa trabalhe com o mesmo objetivo", afirma. Para Marcela, da Robert Half, as organizações perceberam que ter um profissional de finanças desde o começo da estratégia pode evitar perdas financeiras futuras.
Formado em engenharia civil, Jadir de Sousa e Silva Jr. trabalha como business partner financeiro desde que saiu da faculdade - e decidiu deixar a engenharia de lado rumo à área financeira de grandes empresas. "Até fiz alguns estágios em construção civil, mas optei por trabalhar com finanças", diz o executivo, que hoje ocupa o cargo de gerente financeiro na Avon.
Quando chegou a São Paulo após concluir a faculdade - ele é de Goiânia -, Silva Jr. fez uma pós-graduação em administração de empresas na Fundação Getulio Vargas (FGV) para complementar sua formação original e se preparar para a carreira que queria seguir. Logo conseguiu ingressar no programa de trainee da Unilever e começou a trabalhar como suporte financeiro para as áreas de marketing e supply chain.
Na Avon há cinco anos, ele entrou para cuidar, inicialmente, do financeiro corporativo, tendo pouca relação com as unidades de negócio. Pouco tempo depois, no entanto, o executivo passou a atuar como business partner financeiro na unidade de negócio "moda e casa" da Avon, que revende roupas, itens de decoração e utilidades domésticas fabricados por outras empresas.
Ali, Silva Jr. tem uma equipe de três analistas. No segundo semestre de cada ano, eles fazem juntos o plano de vendas e lucro para o ano seguinte da unidade de negócio na qual trabalham. Ao longo do ano, acompanham os resultados e se a receita está dentro da meta, corrigindo eventuais problemas. Além disso, é função da equipe comparar os resultados com os do ano anterior, com a empresa como um todo e com a economia do país. "É uma das formas de ver se estamos ganhando ou perdendo market share", diz. Com base nessas análises, o profissional recomenda alguma tomada de decisão para a unidade de negócio. "É um desafio dizer não, mas às vezes é necessário."
Por conta de situações como essa, o profissional precisa ter competências comportamentais diferenciadas em relação ao executivo tradicional de finanças. "É um perfil mais estratégico, de alguém que pensa mais a longo prazo", diz Marcela, da Robert Half. "O business partner não pode ser tímido. Ele deve ser comunicativo, articulado e persuasivo. Caso contrário, não terá condições de argumentar e influenciar a equipe e os gestores de uma área comercial, por exemplo."
Essa necessidade de reunir características que não são muito comuns para quem trabalha com finanças faz do business partner financeiro um profissional mais difícil de se encontrar no mercado. "Diria que um em cada dez tem esse perfil", afirma Gabriela, da Havik.
Marcela ressalta que entre as atribuições do business partner estão apresentações e reuniões frequentes com os gestores da área onde ele está inserido. Tudo para convencer a unidade de negócio a adotar sua estratégia. "O profissional tem que conseguir influenciar os outros nas tomadas de decisão". É esse conjunto de atividades que atrai Silva Jr. à função. "Todos os números passam por mim. Preciso discutir as decisões com profissionais de diretoria e vice-presidência, tenho um nível de conhecimento amplo do negócio e de sua estratégia e, ao mesmo tempo, estou presente no dia a dia da área", diz o executivo.
Para Minervino, da Autodesk, pensar no negócio em si e não só nos números é um grande atrativo. "A conexão entre as duas coisas precisa ser total. É fundamental estarmos mais abertos ao dia a dia, pois nem sempre o que está escrito funciona na prática." Gabriela, da Havik, explica que para conseguir criar essa sinergia, o business partner normalmente fica alocado na área de negócio, mas responde ao departamento financeiro.
Segundo Marcela, da Robert Half, há vagas para profissionais que atuam como business partner em diferentes níveis da hierarquia corporativa, desde analista, passando por gerente júnior até gerente sênior. Os salários, portanto, podem variar de R$ 5 mil a R$ 30 mil por mês, dependendo do tamanho da unidade de negócio que o profissional está inserido. Alguns, como Silva Jr., da Avon, têm inclusive uma equipe de trabalho e não atuam sozinhos na função.
As companhias que mais contratam o business partner financeiro são as grandes corporações, mas Gabriela já nota algumas empresas menores dando atenção a esse profissional. "Existe uma tendência também nos negócios de médio porte", diz.
Fonte: Valor Econômico
Via Sindafep.com.br
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