Vivemos
tempos de ruptura tecnológica no ambiente corporativo, em meio a um ciclo
vertiginoso de mudanças culturais e concorrência acirrada, para dizer o mínimo.
Embora drástica, esta situação gera oportunidades e começa a subverter
determinados paradigmas arraigados na cultura das organizações.
Boa parte
delas, porém, ainda não se ajustou o suficiente à transição de um mundo
dominado pela burocracia escrita, carimbada e assinada, para um ambiente
formado pelo conhecimento intangível, no qual vem despontando o Sistema Público
de Escrituração Digital.
Surgido
entre nós como um meio, o SPED acabou se revertendo quase num fim, tal o seu
poder de colocar a nu os problemas de cada empresa e tornar mais transparente o
relacionamento com as autoridades tributárias, circunstâncias que podem gerar
passivos fiscais gigantescos.
Esse
futuro temerário tem como pano de fundo o fato de a grande maioria dos
empreendedores e seus profissionais nas áreas contábil, financeira e
administrativa ainda não estar plenamente apta a entender a sistemática, que
chegou em 2006 e iniciou, três anos depois, seu processo de obrigatoriedade
gradativa, conforme as diferentes atividades econômicas.
O que se
tem visto nos últimos anos é que o elemento humano tornou-se o fato chave deste
processo e o seu comprometimento está deixando muito a desejar nesse processo, desaguando
invariavelmente numa absurda falta de qualidade que só tem feito aumentar a
exposição dos negócios ao risco fiscal.
Está
faltando na área um despertar coletivo, um choque mesmo, como o provocado pelo
livro “50 tons de cinza”, ao colocar
em evidência aspectos que sempre fizeram parte do imaginário e do mundo
feminino, mas talvez com uma coloração bem mais moderada.
O mercado
corporativo, de forma análoga, sempre conheceu a realidade ao seu redor, mas
ainda carece de um elemento suficientemente forte e impactante para mostrar,
com a devida intensidade de cores, que não está em jogo apenas o cumprimento de
uma obrigação acessória como tantas outras, mas sim a própria sobrevivência
empresarial.
O Fisco já
realiza suas checagens por meios eletrônicos, cruzando e analisando dados dos
diversos projetos do SPED, como a Nota Fiscal eletrônica. Se houver problemas
de parâmetro na qualidade das informações apresentadas, a autoridade tributária
saberá. Quem não mudar seu modelo de gestão tende a arcar, mais cedo ou mais
tarde, com pesados autos de inflação.
Não
obstante já tenhamos fechado três anos fiscais dentro desta nova sistemática, a
grande massa de empresas realmente passou a fazer parte dela a partir de 2011.
A previsão é que, até 2015, 80% da arrecadação tenham sua auditoria realizada quase
em sua totalidade a partir de documentos virtuais, sem um papel sequer.
Apenas
essa perspectiva já bastaria para motivar uma mudança generalizada de atitude,
independentemente das muitas e muitas páginas incômodas como esta que você já
deve ter lido. Mas, com certeza, estamos longe da imaginativa escritora inglesa
Erika Leonard James em seu poder de persuasão.
Sem uma mudança radical neste quadro, a
máxima “se não for por amor, será pela
dor" ainda promete ter muitos dias de glória, materializada por uma imensa
coleção de casos emblemáticos a ter nos empresários e profissionais incrédulos
de hoje os grandes protagonistas de amanhã.
Afinal, a despreocupação prazerosa do
gestor atual, caracterizada pela perigosa negligência num campo tão delicado e estratégico,
pode ensejar, mais rápido do que se imagina, uma autêntica peça de
sadomasoquismo fiscal. E haja chicote para aplacar nosso libidinoso Leão.
por Edgar Madruga é
administrador de empresas, auditor e coordenador do MBA em Contabilidade e Direito Tributário do Instituto
de Pós-Graduação (IPOG).
Fonte: Edgar Madruga
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