Entre os avanços para a
transparência das informações
empresarias, a
abordagem do Relato
Integrado (<IR>) surgiu
por meio de uma coalizão
global de reguladores,
investidores, empresas, definidores de
padrões, profissionais do setor contábil
e ONGs com objetivo de propor um
modelo de relatório conciso e capaz
de avaliar a capacidade de geração de
valor das organizações. Desde 2010, o
IIRC (International Integrated Reporting
Council) vem disseminando mundialmente
a importância estratégica de sua
adoção para melhorar a qualidade das
informações relevantes das companhias
a fim de aprimorar a comunicação com
os stakeholders. Para falar dessa tendência
internacional, o CEO do IIRC, Richard
Howitt, esteve em março no Brasil
participando de uma série de eventos
com agenda organizada pelo BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), representante da
Comissão Brasileira de Acompanhamento
do Relato Integrado.
O CRCSP (Conselho Regional de
Contabilidade do Estado de São Paulo)
sediou Seminário Internacional no dia 15
de março com apoio da ANEFAC, que
tem uma diretoria sobre o assunto coordenada
pelo diretor executivo Fernando
Fonseca. “O Relato Integrado faz parte
da estratégia de desenvolvimento dos
negócios, entregando para a sociedade
informações com reconhecimento dos
valores da empresa. A necessidade de
transparência é global. O CRCSP apoia
essa iniciativa e reforça que os profissionais
de Contabilidade busquem essa
competência para implementar o Relato
Integrado nas organizações“, disse o
presidente do CRCSP, Gildo Freire de
Araújo, na abertura do evento.
A coordenadora geral da Comissão
Brasileira de Acompanhamento do Relato
Integrado, Vânia Borgerth, ressaltou
que o “Relato Integrado é uma importante
ferramenta para o acompanhamento
das decisões de investimentos. É um
conceito revolucionário, que conta a
verdadeira história de uma empresa, com
começo, meio e fim”, observou.
Considerando que nenhuma companhia
é hoje impacto zero, o mercado
entende como fundamental que as
organizações passem a elaborar os
Relatórios Integrados para começar a
mitigar impactos negativos. Ele vem se
definindo como uma metodologia com
estrutura mais fácil e padronizada, que
atende a demanda dos stakeholders.
Falaram sobre suas experiências com
Relato Integrado a chefe do gabinete da presidência da CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), Camila Pantera; a head of
South America, Networks & Outreach at
PRI (Principles for Responsible Investment),
Tatiana Assali; a diretora de Imprensa,
Sustentabilidade e Comunicação da
BM&FBovespa, Sonia Favaretto; o head
de Políticas Contábeis do Itaú, Rodrigo Morais;
e o professor da Fipecafi (Fundação
Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais
e Financeiras), Eduardo Flores.
“Como provedores de informações,
produtos e serviços para as companhias,
a nossa premissa é a transparência, conceito
que está na raiz do nosso negócio”,
disse Sônia Favaretto. Desde 2000, a
Bolsa vem difundindo no mercado a
adoção de políticas além de econômicas
e financeiras, como a de governança
corporativa. “Iniciamos esse movimento
pioneiro. No Índice Sustentabilidade Ambiental,
o Brasil é uma referência mundial há mais de uma década. Dentro desse
contexto, sugerimos que as empresas
forneçam um relatório com informações
ambientais, sociais e de governança
corporativa, tomando por base padrões
internacionais aceitos, como a estrutura
do Relato Integrado do IIRC”, destacou.
A Bolsa, segundo ela, procura estimular
as corporações nesse caminho por meio
de seus instrumentos. “Lançamos este
ano uma iniciativa que pede às empresas
listadas que informem anualmente se
elaboram seus relatórios de sustentabilidade
ou integrado, de acordo com
os ODS (Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável)”, exemplificou
Os ODS fazem parte da agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável,
documento lançado pela ONU (Organização
das Nações Unidas) em 2015. “O
mercado de capitais sente a necessidade
de ser sustentável, a fim de trazer melhores
investimentos e resultados para todos
os envolvidos. E a Bolsa vem auxiliando-
-as nesse caminho. Todos ganham nesse cenário, tendo o Relato Integrado como
parte das decisões”, assinalou Sônia.
Para Rodrigo Morais, do Itaú, é fundamental
que as companhias adotem o
Relato Integrado com objetivo de gerar
valor ao longo do tempo. Ele destacou
que “o grande desafio da implementa-
ção é difundir o pensamento integrado
dentro da companhia. Fizemos o primeiro,
com enorme recepção interna, e já
estamos caminhando para a publicação
da 4ª edição do nosso Relato Integrado.
Essa abordagem tem nos permitido uma
comunicação mais inteligente”, avalia.
Segundo Eduardo Flores, da Fipecafi,
as corporações ainda têm vários veículos
de informação divulgados de maneira
segregada. “Isso cria um problema de
desconexão das análises dessas peças
para reportar de forma eficiente o desempenho
empresarial, o que gera, automaticamente,
uma má interpretação dos
resultados ou até total desconsideração
por parte dos investidores. Temos uma
pesquisa dentro da academia apontando
que notícias de mídia especializada,
como The New York Times e Financial
Times, são mais consideradas para fins
de determinação do preço das ações
do que as publicações tradicionais dos
financial statements”, aponta.
A professora Simone Letícia Sanches,
da Universidade Estadual de Maringá,
destacou, em dissertação de mestrado
sob sua orientação, que entre os
fatores que contribuíram para a melhor
produção do estão a perspectiva
holística sobre o fluxo de informação; o
compartilhamento do significado entre
os envolvidos de diferentes setores;
reuniões periódicas; filtro do que é informação
essencial a ser reportada; tornar
o mais conciso, com redução de
ambiguidade; experiência com diretrizes
GRI; o entendimento compartilhado internamente
de que divulgar informações
é fonte de vantagem competitiva; e o
envolvimento da diretoria executiva de
Finanças com o tema.
Contexto global
Sob um contexto global, o CEO do
IIRC, Richard Howitt, destacou que
o propósito do Relato Integrado é,
justamente, pensar de maneira holística
que as informações não estão
separadas. “Observamos um grande
crescimento desse movimento no
mundo, defendendo a integração nos
relatórios financeiros. Cerca de 1.500
empresas internacionais já adotam o
Relato Integrado e o modelo vem sendo
disseminado como princípio a ser
adotado na economia mundial. Desenvolvemos
treinamentos para empresas
e temos apoio de redes acadêmicas
como Stanford e Harvard”, mencionou.
Segundo Howitt, o Reino Unido é uma
região estratégica, com cerca de 11 mil
empresas já em fase de implementação
do . Já os BRICs (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul) ganham
destaque por serem economias emergentes,
o que torna o Relato Integrado
fundamental para o acesso a capitais
internacionais. “No Brasil, cerca de 120
empresas já estão adotando o movimento,
o que é muito significativo. Destas,
12 implementaram completamente o
framework”, destacou. Positivamente,
avaliou que o Brasil, como maior economia
da América Latina, é uma referência
para os demais países na região. “Os
legisladores, assim como os maiores
líderes, veem o Relato Integrado como
primordial para o futuro no mercado de
capitais internacional. E o movimento no
país está crescente e contínuo”, afirmou.
Ele sugere pedir maior apoio aos órgãos
reguladores, já que o não é obrigatório,
enquanto as organizações devem
se conscientizar dos benefícios de sua
adoção, criando conexões de valor.
“Vale ressaltar que não é interessante
copiar modelos da Índia ou da África
do Sul, por exemplo. Isso criaria uma
confusão no mercado. É mais eficaz
que os órgãos reguladores eduquem o mercado sobre a prática do Relato Integrado,
a exemplo do Itaú, que elaborou
um relatório sem métricas em demasia,
com informações de sustentabilidade
integradas às financeiras”, disse.
Para Howitt, a economia do Brasil, em
recuperação, é um grande desafio. “Mas
as companhias devem seguir adiante. O
Relato Integrado deve ser também uma
ferramenta para tratar dificuldades, pois
a metodologia fornecerá informações
relevantes e de valor para investidores,
sendo base também de reputação da
empresa. Se uma companhia quer seguir
na liderança, deve aderir ao movimento
global. O nosso objetivo é que o Relato
Integrado seja norma no mundo, pois
empresas que o utilizam têm obtido
muito sucesso. O representa uma
organização”, assinalou o executivo,
alertando: “A nova geração de CEOs vê o
Relato Integrado como estratégico para a
companhia. Hoje, é uma vantagem competitiva.
No futuro breve, será mandatório
no currículo profissional”.
Por Andrea Fagundes
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