terça-feira, 30 de julho de 2019

Saiba tudo sobre a formação do spread bancário

O spread bancário é medido pela diferença entre o custo de um empréstimo e a remuneração paga ao poupador. Há inúmeros fatores que definem o spread cobrado pelo banco, destacando-se principalmente a liquidez, risco da operação e garantias oferecidas e maturidade. No Brasil, os fatores que compõem o spread cobrado pelos bancos são apresentados a seguir:

  • Taxa de captação do banco, incluindo o custo do depósito compulsório sobre captação;
  • Impostos indiretos e contribuições, como PIS, Cofins e IOF. Inclui-se neste item também a contribuição que as instituições financeiras devem fazer ao Fundo Garantidor do Empréstimo (FGC), calculada por meio de um percentual incidente sobre o saldo mensal de captação;
  • Despesas administrativas e judiciais incorridas pela instituição e calculadas sobre cada unidade de crédito concedido;
  • Inadimplência, cuja medida pode ser determinada pela relação sobre a provisão de devedores duvidosos e o volume de crédito concedido;
  • Impostos sobre lucros, como Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL);
  • Lucro do banco, o qual deve refletir a margem de lucro esperada pela instituição na operação, que é formada essencialmente pelas condições de negócios do mercado e risco de crédito concedido.
O spread bancário, indicador bastante avaliado pelo mercado, pode ser apurado em sua forma bruta e líquida, conforme demonstrado a seguir:

Taxa de Aplicação Financeira – corresponde às receitas (taxas de retorno) auferidas pela instituição decorrentes das aplicações de seus recursos próprios e de terceiros em operações de crédito, cambiais, prestação de serviços e tesouraria, entre outras.

Taxa de Captação – são todas as despesas (custos) de captação de recursos financeiros (próprios e de terceiros) processados pelo banco para lastrear suas aplicações.

Impostos sobre Operações – compreendem os impostos diretos de responsabilidade da instituição financeira, como PIS, Cofins, ISS, IOF, contribuições ao FGC etc.

Inadimplência – percentual das aplicações financeiras, centradas principalmente em títulos adquiridos e operações de crédito, considerado como de realização duvidosa. Pode ser calculado pela relação entre a provisão para créditos de liquidação duvidosa e o volume de créditos concedidos.

Despesas Operacionais – envolvem despesas de pessoal, administrativas, judiciais e outras realizadas no período.

Provisão para IR e CSLL – alíquota dos tributos incidentes sobre os resultados do banco, e calculada geralmente no Brasil pela alíquota de 34%.

Para ilustrar o cálculo do spread bancário conforme estrutura demonstrada acima, admita a seguinte operação de empréstimo realizada a pessoa jurídica:

O resultado dessa operação é calculado, a seguir, para as diversas partes envolvidas na operação de empréstimo: banco, poupador, tomador dos recursos e governo.


O spread líquido do banco na operação de crédito, de $ 265,32, equivale a 2,65% ($ 265,32/$ 10.000) do capital aplicado. Ou seja, de cada $ 100,00 emprestados, a instituição aufere um resultado líquido de $ 2,65.

O poupador aufere na operação um retorno líquido, descontando os impostos incidentes sobre a remuneração auferida, de 11,2% ($ 1.120,00/$ 10.000,00). O custo efetivo do tomador, por seu lado, sobe para 21,4% ($ 2.140,00/$10.000) ao se considerarem os encargos adicionais.

O exemplo teve por objetivo demonstrar, de maneira bastante simplificada, não somente a composição do spread bancário, mas também os resultados das diversas partes envolvidas na operação. De forma simplista, ainda, a demonstração não considerou outras despesas geralmente calculadas, como IOF, recolhimentos compulsórios sobre depósitos a prazo, despesas com fundo garantidor de crédito, inadimplência, entre outras.

ALEXANDRE ASSAF NETO
Economista e pós-graduado (mestrado e doutorado) em Métodos Quantitativos e Finanças no exterior e no país. Possui o título de livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP). Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP e atua como professor e coordenador de cursos de desenvolvimento profissional, treinamentos in company e cursos de pós-graduação lato sensu – MBA. Autor e coautor de vários livros e mais de 70 trabalhos técnicos e científicos publicados em congressos e em revistas científicas com arbitragem no país e no exterior. Consultor de empresas nas áreas de Corporate Finance e Valuation e parecerista em assuntos financeiros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário