Relendo a obra “como se faz um balanço” do mestre Lopes de Sá me veio o pensamento sobre o que nós regredimos em matéria de escrituração e formação do balanço.
O balanço é um peça contábil. Tal como no direito temos as peças jurídicas.
Antigamente quando não tínhamos sistema de informática mas máquinas de contabilidade, tudo era mais difícil para fazer e mais difícil para fraudar.
Hoje tudo está mais fácil para fazer e para fraudar.
O mestre Sá, bem orientava-nos sobre como elaborar uma escrita com absoluto capricho.
Tínhamos que bem saber aplicar os princípios dos débitos e créditos, e escrever com letra bonita (hoje quase ninguém escreve no papel!).
Do diário íamos escrevendo o razão, para sabermos o “raciocínio” de cada conta, isto é, como ela acontece, se movimenta, e porquê.
Após o razão, fazíamos o balancete, como um balanceamento das contas devedoras e credoras, para vermos se a escrituração estava correta.
Do balancete corrigíamos o mesmo com o inventário real das peças físicas e patrimoniais da empresa.
Então, fazíamos os ajustes de contas para corrigir os valores conforme o custo ou a atualidade da realidade dos fenômenos patrimoniais.
Por fim montávamos o balanço patrimonial e a demonstração de resultado.
As demonstrações extras eram pois escritas também à mão, tínhamos que saber fazer, ou demonstrar o mesmo patrimônio, em aspectos específicos e parciais.
No entanto, hoje aparecem as máquinas e sistemas que são formidáveis. Tudo muito rápido, eficaz, e eficiente. Aqui evoluímos demais.
Só temos que fazer os lançamentos.
Todas as demonstrações estão prontas, esperando apenas que nós façamos a sua correção, ou elaboremos a peça conforme os moldes técnicos.
Mas o balanço de antigamente era muito mais adequado que o de hoje. Era um balanço de prova. Um balanço técnico e verdadeiro.
Os valores eram reais.
Hoje como se faz um balanço? Numa empresa grande? Usando o que chamamos de “novas metodologias” que são parecidas com as práticas de fraudes e simulação, com valores híbridos e sem consistências, com táticas claras de maquilação.
Primeiro, o princípio do custo ou de mercado dos dois o menor, foi por água abaixo. Hoje é o custo ou mercado dos dois o maior. E para assim justificar falam que é por causa da “evolução”.
O valor de mercado fica em todas as peças contábeis, nos derivativos e instrumentos financeiros, se tenho mais valor de mercado, criamos o débito via a conta “ajuste de avaliação patrimonial”, a conta “reservas de tradução” também entra para fazer valores de mercado transparecerem nos balanços.
O teste de impairment como paridade dos valores de mercado nos ativos patrimoniais, também é uma forma desnecessária de reajustar a peça via um laudo que por mais que seja embasado em algumas técnicas não condiz com a realidade, ficando pior que a reavaliação antiga. A estima não pode entrar no balanço a não ser em casos de perícia ou jurisprudência ligada à contabilidade que não exista nenhuma outra forma tradicional de avaliar uma coisa empresarial.
O princípio da prudência então foi por beleleu. Não existe prudência.
Aliás também não existe mais leasing tudo é ativo. Até a dívida virou ativo...
O princípio do valor original, está totalmente destruído; ora no momento que criamos valores que não são originais, porque não houve fenômeno patrimonial, e nem entrada financeira, estamos destruindo o valor original para o então valor atual que não se transforma em original, portanto, valor sub-real.
Amanhã não haverá nem contabilização de ICMS direito, porque falarão que o mercado é que ditará o valor a ser contabilizado.
Tirando as questões funcionais que concordamos, as métricas que alteram as ações, derivativos, instrumentos financeiros, contratos a termo, títulos de crédito, títulos de dívida, fundo de comércio, imobilizado, bens de agricultura, em muitas de suas partes estão absolutamente erradas e não condizem com a realidade patrimonial.
O balanço é um efeito informativo, ou uma forma da essência dos fatos, e não pode ser uma forma que cria essência inexistente.
Logo, o que se está querendo fazer é que o balanço de grandes empresas cresça nos seus valores sem ter realidade fatologica.
Então isso é fraude não tem outra explicação.
Ao mesmo tempo, com as normas e pronunciamentos, estão “trocando” os princípios qualitativos de nosso conhecimento, por conteúdos que infelizmente são vazios, fazendo com que tenhamos pois uma volatilidade de nosso conhecimento. Qual é a base da informação contábil? Ela não existirá, ela mudará toda hora ao gosto institucional favorecendo então moldes de balanços falsos.
Nós já temos esse crise de fraudes no Brasil, e uma boa parte dos balanços tem as métricas mazelosas que inspiram uma destruição da realidade do balanço.
Alguém hoje confia razoavelmente em relatórios de auditoria que possuem acordos implícitos com as grandes empresas? Qual é o nível de veracidade dessas peças? Com tais bases métricas não podemos pois medir direito o fato, então não tem auditoria que consiga dizer que um balanço está certo com estes usos, e com tais meios, sem contar que existem os stablishments que são claríssimos no Brasil. Ou você já viu relatórios de grandes empresas em negativa, ou com ressalvas? Será que os escândalos políticos que passam nestas empresas eram todos certos a ponto de ninguém os perceber? Os relatórios eram favoráveis...
Lendo a obra do mestre, como fazer um balanço, hoje eu penso, será que o que mais se prega hoje é como fraudar um balanço!
Paz e Bem!
por Professor Rodrigo Antônio Chaves da Silva
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