A economia global vai mal das pernas, cambaleia. O suspiro de otimismo com a reação positiva das economias dos Estados Unidos e do Reino Unido nos primeiros meses do ano, que levou investidores a esperar a normalização das políticas pelos bancos centrais em um futuro próximo, agora está ameaçado.
Uma série de indicadores recentes denota reversão de expectativas positivas em ilhas de resistência como a Alemanha e o próprio Reino Unido.
A China, que disputa o primeiro lugar em tamanho da economia com os EUA, aplica estimulantes a conta-gotas na atividade, tentando evitar um crescimento abaixo de 7% em 2014, ainda assim aquém da meta de (em torno de) 7,5%.
Não sem motivo, os preços das commodities caem - e o petróleo, capaz de ser vilão ou mocinho, a depender de quem importa ou exporta, tem sido responsável por boa parte da desinflação dos países desenvolvidos, incutindo ainda mais desafios às autoridades monetárias.
A zona do euro registrou em outubro, provavelmente, o quinto mês consecutivo de desaceleração, apesar das promessas de sustentação pelo Banco Central Europeu (BCE). É certo que são necessários meses para que as medidas tomadas recentemente façam efeito, como os cortes de juros e a oferta de linhas de crédito direcionado aos bancos (TLTRO). As operações de compras de ABS (títulos lastreados em ativos), por exemplo, que têm como objetivo reavivar o crédito nas pequenas e médias empresas da união monetária, apenas começam a ser realizadas neste mês. A inflação de setembro (0,3%) mostrou o mesmo quadro preocupante das leituras anteriores.
Na França e na Itália, o CPI (índice de preços ao consumidor) desacelerou mais do que as expectativas de consenso, mostrando deflação, em ambos os casos, de 0,4% (taxa anualizada). No Reino Unido, a história se repetiu e a inflação inesperadamente desacelerou para uma taxa anual de 1,2%, distanciando-se da meta do Banco da Inglaterra (perto, mas abaixo de 2%).
Peter Praet, membro do comitê executivo do BCE, chegou a afirmar que, diante de um novo choque, a região pode realmente entrar em espiral deflacionária. A produção industrial também acendeu a luz vermelha na região ao encolher 1,8% em agosto, um número que não apenas "devolve" o mês de julho (quando cresceu 0,9%), como fica "devendo", especialmente quando se denota uma retração de quase 5% na produção de bens de capital, ou seja, dos bens vinculados a investimentos.
A confiança também não anda lá essas coisas e, como é um indicador antecedente do consumo, o que vem pela frente pode decepcionar até os pessimistas.
Na Alemanha, o índice Zew de expectativas teve queda abrupta em setembro, perfazendo o décimo mês consecutivo de retração, mas agora para o nível mais baixo desde novembro de 2012, um momento em que a crise estava ainda mais latente na zona do euro. Questões geopolíticas são aventadas como um dos fatores determinantes do desânimo, mas não é difícil imaginar que as condições gerais da economia do bloco e, particularmente do país, pesaram consideravelmente para os alemães.
Entre os emergentes, a história não é melhor. A diminuição da demanda chinesa tem sido a fonte de más notícias para os emergentes, à exceção dos asiáticos, mais resistentes - ao menos, por enquanto - do que os latino-americanos ou europeus.
A China, em uma série de ações desde o mês passado, voltou a reduzir sua taxa de operação de recompra de 14 dias em 10 pontos-base, para 3,4%, seguindo outros cortes de 20 e 10 pontos feitos em setembro e agosto, respectivamente. Além disso, já havia injetado em 17 de setembro 500 bilhões de renminbi no sistema financeiro - o que equivale, segundo analistas asiáticos, a um corte de 50 pontos-base no compulsório.
São medidas modestas face à desaceleração da atividade, especialmente do setor imobiliário, o que deve colocar mais e mais pressão sobre o banco central para que um afrouxamento monetário mais vultoso seja logo adotado.
Fonte: Valor Econômico / Roberta Costa - 15.10.14
Via ABBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário