O primeiro painel da 4ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente do Ibracon tratou do novo relatório do auditor independente, proposto pela International Federation of Accountants (Ifac). Coordenado por Eduardo Vasconcelos, diretor de Administração e Finanças do Ibracon Nacional, o painel foi aberto por Valdir Coscodai, do Comitê Internacional de Normas de Auditoria da Ifac e da Comissão Nacional de Normas Técnicas (CNNT) do Ibracon, seguido de Cláudio Longo, coordenador do Comitê de Normas de Auditoria (CNA) do Ibracon, Fabian Junqueira, membro da CNNT, e Wanderley Olivetti, coordenador da CNNT.
Os participantes do painel destacaram a importância do novo relatório. “Assim como o mundo corporativo passa por diversas mudanças, o relatório do auditor independente não pode ficar estagnado”, destacou Vasconcelos.
Coscodai resumiu as principais propostas de alteração e comentou algumas características dos relatórios publicados atualmente na Europa. “O padrão do relatório tem sido o mesmo há décadas. Ele é percebido como um documento de natureza binária, que aprova ou reprova as demonstrações contábeis. Nos últimos anos, pesquisas mostraram que os investidores e stakeholders valorizam os relatórios da auditoria, mas eles não eram lidos porque ficaram padronizados, iguais”, disse Coscodai.
Segundo ele, dois grandes drivers impulsionaram as mudanças. “A tendência crescente é de relatórios mais informativos”, explicou. O primeiro indutor foi a própria demonstração contábil, que ficou muito mais informativa, apresentando mais julgamentos em relação aos números e divulgações, adotando novos conceitos, como impairment, valores justos e outros.
O outro driver foi a crise financeira internacional iniciada em 2008. Passou-se a questionar por que empresas com boas demonstrações contábeis passaram a apresentar dificuldades financeiras sem nada ter sido reportado anteriormente.
Em resposta a essas pressões, diversos órgãos normativos e reguladores iniciaram projetos de revisão do relatório, que estão em diferentes estágios.
Coscodai falou das mudanças que vêm sendo propostas no Reino Unido, nos Estados Unidos e na União Europeia, antes de detalhar os aperfeiçoamentos sugeridos pelo International Auditing and Assurance Standards Board (Iaasb), que emite as normas de auditoria adotadas no Brasil. “O Iaasb colocou um conjunto de normas em audiência pública em 2013, resultado de três anos de pesquisas. A expectativa é que elas sejam emitidas neste ano, para serem aplicadas nos relatórios de 2017 sobre as demonstrações encerradas em 31/12/2016.
Mudanças estruturais
Cláudio Longo falou sobre como era e é, atualmente, o relatório do auditor independente, para, na sequência, antecipar algumas mudanças que estão sendo estudadas. Ele disse que o novo relatório vai começar pela opinião – uma mudança geográfica que, a rigor, não causa impactos. A seguir, haverá um parágrafo para explicar a base para a emissão da opinião ou para justificar, caso tenha decidido abster-se de opinar.
“A partir daí o relatório entra nos assuntos-chave de auditoria, que estão em uma norma específica, a ISA 701”, disse Longo. Segundo ele, outro aspecto importante é que o auditor deverá se manifestar sobre a continuidade da entidade. “A tendência é que se mantenha a praxe de comentar apenas as exceções, quando houver de fato um problema de continuidade”, explicou. Ele concluiu dizendo que o relatório, que tinha cerca de uma lauda, passará a ocupar de três a quatro laudas.
Na sequência, Fabian Junqueira detalhou aspectos da ISA 701. Segundo ele, um dos principais pontos do novo relatório é alcançar a comunicação dos assuntos-chave em auditoria dentro dele. “A norma 701 é nova dentro do contexto de mudança do relatório e é composta por quatro seções: alcance, objetivo, definição e requerimentos”, explicou.
Longo acrescentou que a norma define que os assuntos-chave de auditoria são:
• aqueles que, no julgamento profissional do auditor, foram os mais significativos para a auditoria das demonstrações contábeis do período corrente; e
• selecionados entre os assuntos comunicados aos responsáveis pela governança das companhias.
Quanto aos requerimentos, é preciso:
• determinar os assuntos-chave de auditoria;
• comunicar os assuntos-chave de auditoria;
• identificar circunstâncias em que o auditor determina que não há assuntos-chave de auditoria;
• documentar os assuntos que serão comunicados como assuntos-chave.
Encerrando o painel, Wanderley Olivetti falou sobre a participação do Ibracon no processo das audiências públicas do Iaasb. “Antes de emitir novas normas de auditoria, o Iaasb abre um processo de audiência pública, para comentários e sugestões sobre o que está sendo proposto para modificação”, explicou.
No Ibracon, a análise se inicia no Comitê de Normas de Auditoria (CNA) e segue para a Comissão Nacional de Normas Técnicas (CNNT). Ao final, o Ibracon emite uma carta com sugestões sobre as normas propostas. “Essa participação é importante. Tem caráter educacional e nos coloca no centro dos debates. O Brasil não importa pura e simplesmente uma norma pronta. Nós participamos ativamente do processo de análise e oferecemos sugestões”, disse Olivetti, discorrendo a seguir sobre diversas normas analisadas pelo Ibracon.
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