Conheça o complexo trabalho realizado pelo Ibracon, ano após ano, para traduzir e publicar o Livro IFRS
Quem abre um livro dificilmente tem plena noção de quanto trabalho ele deu ao autor. No caso de uma publicação técnica, o empenho dos envolvidos é ainda maior. Mas os resultados compensam. Foi o que aconteceu com o Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil ao longo dos muitos anos em que se gabaritou como tradutor oficial do Livro de Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRS), do International Accounting Standards Board (Iasb).
O ganho de aprendizado obtido ao longo do processo tem sido revertido, ano após ano, em benefícios para os associados e as classes contábil e empresarial.
O Livro IFRS é traduzido anualmente pelo Ibracon com o objetivo de orientar o trabalho de contadores e auditores independentes dada a convergência brasileira às normas internacionais de contabilidade. “O Ibracon percebeu a necessidade de traduzir a publicação original como forma de estimular a iniciativa eprover conteúdo aos profissionais da área”, diz Marco Aurelio Fuchida, superintendente geral do Ibracon.
De acordo com Fuchida e Plínio Biscalchin, coordenador técnico do processo de tradução desde a primeira edição do Livro IFRS, o Instituto traduziu as normas internacionais pela primeira vez em 2001. Quando da adoção das IFRS no Brasil, a partir de 2008, o cenário contábil passou a apresentar mudanças significativas: já havia um novo conjunto de normas além de diversas normas revisadas que precisavam ser atualizadas.
O Ibracon buscou, então, autorização junto à Fundação IFRS, antiga IASCF, para que pudesse ser a entidade autorizada a traduzir o livro no Brasil. O fato de o Instituto já ter feito a tradução de 2001 facilitou o trâmite de comunicação para fechamento do contrato. Mas seu reconhecimento como referência técnica no Brasil para produção de normas, orientações e apoio na regulação da profissão e da própria contabilidade já existia e foi o que possibilitou a negociação.
O Conselho Monetário Nacional, por exemplo, aprovou uma resolução do Banco Central que exige dos grandes bancos a elaboração de demonstrações contábeis consolidadas de acordo com o material traduzido e editado por entidade autorizada pela Fundação IFRS. No caso, o Ibracon. Já o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC),apoiador desde o primeiro projeto de tradução, adota o Livro IFRS como base para a elaboração das normas contábeis brasileiras. “Nós temos um alinhamento muito forte com o CPC, o que permite ao comitê utilizar nosso material em seu importante trabalho na convergência”, diz Fuchida.
A confiança no trabalho do Ibracon cresceu à medida que o Instituto sempre desenvolveu a publicação brasileira com eficiência e qualidade técnica. No começo, o Instituto tinha de fechar um novo contrato a cada edição. Hoje, tem um contrato que permite fazer as edições na sequência dos lançamentos das obras da Fundação IFRS.
Evolução
O primeiro Livro IFRS produzido no Brasil pelo Ibracon foi um grande desafio por conta do volumoso conjunto de normas em inglês a serem traduzidas do zero. Na época, os membros do Ibracon Plínio Biscalchin (até hoje coordenador do projeto), Ariovaldo Guello e José Luiz Carvalho ficaram responsáveis por liderar a empreitada. Havia um grande número de tradutores e revisores técnicos envolvidos no trabalho, antes realizado em muitas etapas. “Com o tempo, houve uma redução da equipe envolvida na tradução e hoje trabalhamos com profissionais que estão totalmente familiarizados com o processo. Dessa forma, além do conteúdo, melhoramos o fluxo de trabalho”, considera Biscalchin.
A diagramação sempre foi um ponto de atenção, já que tudo, da fonte tipográfica aos efeitos de destaque, deve seguir o modelo da publicação original. Quando há alteração em alguma norma, por exemplo, seu texto é assinalado com um tracejado como se fosse uma marca de correção. Esse efeito deve permanecer no livro de uma edição para outra para que as pessoas percebam o que mudou na regra. “Quando mandamos o material para a diagramação pela primeira vez, o profissional queria tirar essas marcações. Provavelmente achou que havíamos enviado o arquivo cheio de correções. O refinamento do processo foi se dando com o tempo”, explica Biscalchin.
Ele também lembra que a tradução havia gerado um número de páginas muito maior que o volume original e que a impressão fora feita em um tipo de papel diferente do usado pelo IFRS. Esses detalhes tornaram bem trabalhosa a busca por uma gráfica que garantisse a qualidade do fechamento da lombada da primeira edição.
O segundo livro precisou, inclusive, ser dividido em dois volumes, que apresentavam normas, bases para conclusões, orientações de implementação e exemplos de aplicação, tudo na sequência. Algum tempo depois, o Iasb também passou a dividir o conteúdo em dois volumes, só que em formato diferente, o que obrigou o Ibracon a reajustar as publicações seguintes. “O volume ‘A’ trata das normas propriamente ditas e o volume ‘B’ traz os resultados das reuniões e discussões feitas pelos membros do Iasb, técnicos e profissionais do mercado”, diz Biscalchin.
Outros esforços foram necessários para que os livros pudessem ser distribuídos no Brasil. O Instituto criou um e-commerce, onde os clientes passaram a fazer a validação da compra e até mesmo o acompanhamento do processo de emissão. O apoio logístico veio da parceria com a gráfica responsável pelas impressões. Os livros saem de lá diretamente para o comprador.
Passo a Passo
O livro original geralmente é lançado no mês de março pelo Iasb. Só depois o Ibracon tem acesso às novas informações e pode iniciar o trabalho no Brasil, publicando a versão traduzida em meados de outubro. Com esse conjunto de arquivos recebidos da Fundação IFRS, Plínio Biscalchin avalia quais são as novas palavras-chave que aparecem em função de novos termos e normas.
A partir daí, há uma reunião entre a coordenação do projeto e tradutores para definir fluxo de trabalho, prazos, novos conteúdos e formatos.
As normas começam a ser traduzidas e passam pela revisão de Biscalchin, que encaminha o material aos revisores – profissionais voluntários das firmas de auditoria com muitos anos de experiência. Esse processo pode acontecer duas, três, quantas vezes mais forem necessárias para que haja uma harmonização entre o conteúdo já traduzido e novas expressões.
A última revisão é validada pelo coordenador da tradução e a cópia limpa é enviada à diagramação, que coloca o conteúdo no formato do livro.
Antigamente, o Iasb avaliava todo o conteúdo final. Hoje, a organização confere apenas algumas informações principais, como a questão de direitos autorais.
Do papel ao smartphone
Ao mesmo tempo em que trabalhou pela melhoria das edições impressas do Livro IFRS, o Ibracon investiu em tecnologia. “Nossa profissão demanda intensa atualização de conhecimentos e o Instituto precisa estar sempre atento às novas tecnologias para dinamizar a comunicação com seus públicos”, analisa Francisco Maldonado Sant’Anna, diretor de Comunicação do Ibracon.
Ele conta que o primeiro passo da evolução tecnológica estimulada pelo Livro IFRS foi o desenvolvimento da versão e-book, que disponibiliza o conteúdo do livro físico em formato digital para leitura por computador ou notebook. “Em 2013, esse conceito passou a ser aprimorado e agora o Instituto lança o Ibracon Digital Reader (IDR), um software multiplataforma que pode ser usado em computadores e notebooks com sistema operacional Mac OSX, Linux ou Windows e em dispositivos móveis – tablets e smartphones com sistemas iOS ou Android”, resume Sant’Anna.
“O diferencial dos dispositivos móveis está na facilidade de visualização por zoom e rotação de tela, além da possibilidade de o usuário conseguir carregar uma infinidade de livros pesados em seu bolso”, comenta Guilherme Camargo Freire de Almeida, supervisor de TI do Ibracon. O leitor pode ser baixado gratuitamente e permite que o usuário visualize, também, outros conteúdos adquiridos na loja virtual do Ibracon, tanto os exclusivos para associados quanto os gratuitos ou vendidos a preços especiais.
Uma das funcionalidades do Ibracon Digital Reader é permitir que o associado crie a sua própria biblioteca digital. Essa funcionalidade deixa disponíveis, para leitura a qualquer momento, os conteúdos que o usuário adquiriu pela loja virtual do Ibracon ou o material disponibilizado gratuitamente pelo Instituto. Ao acessar o campo, basta clicar em “baixar” e o conteúdo é exportado para o computador ou qualquer outro dispositivo, passando então para a aba Minha Biblioteca.
O usuário também consegue fazer buscas por palavras-chave, expressões ou normas específicas e ainda fazer anotações nas obras baixadas. “Se o profissional está usando determinada norma, pode criar uma nota e ela ficará disponível no aparelho registrado sempre que desejar consultá-la. Ao acessar a página da norma novamente, basta clicar na nota criada e o sistema irá direcioná-lo”, explica Almeida.
O software do Ibracon tem uma ferramenta chamada Direito de Uso, para solucionar o problema de perda de licença que acontece, principalmente, em grandes firmas. “Agora, a empresa tem total domínio sobre a licença e pode revogar o direito de uso”, diz o supervisor. Para o controle das informações, o Ibracon criou um Gestor de Licenças, disponível 24 horas por acesso on-line. O sistema permite, ainda, que o usuário veja todos os seus dispositivos registrados (cada licença dá direito ao uso do livro em três diferentes dispositivos, móveis ou fixos, à escolha do usuário) e o conteúdo já baixado ou disponibilizado para download.
Funções como doação de licenças, liberação de usuários e trocas de dispositivos de acesso estão restritas aos gestores autorizados pelas firmas e à área de Tecnologia do Ibracon,que continua a dar suporte aos usuários do sistema. “O dono da licença fica muito mais autônomo no sistema, mas o Ibracon ainda tem acesso a tudo para gerar relatórios de registros e solucionar possíveis questões”, explica Almeida.
Em seis meses de projeto junto à empresa de desenvolvimento, o Ibracon blindou o aplicativo. O software é criptografado, por isso não pode ser pirateado. Cada licença é única e o usuário não consegue abrir os conteúdos em nenhum outro lugar a não ser no próprio IDR. Ele também conta com dois conceitos de atualização para facilitar a vida do usuário. “Temos a atualização do próprio software, que automaticamente avisará quando houver uma nova versão a ser baixada e o mesmo vai acontecer com as novas versões do conteúdo”, conclui Almeida.
Edição 2014 está em processo de finalização
O Ibracon vai lançar, em outubro*, a nova versão do Livro IFRS (o “Livro Vermelho”), edição 2014. A obra é composta por dois volumes: a Parte A, com o texto consolidado das normas internacionais de relatório financeiro emitidas em 1º de janeiro de 2014, com data de vigência posterior a 1º de janeiro de 2014; e a Parte B, que concentra as bases para conclusões de cada norma.
A parte A apresenta também a seção Mudanças nesta edição, que é um guia resumido das mudanças desde a publicação da edição de 2013 do volume encadernado das Normas Internacionais de Relatório Financeiro (o “Livro Vermelho”).
As principais mudanças desde 1º de janeiro de 2013 são as seguintes:
• alterações às normas: IFRS 7, IFRS 9, IAS 19, IAS 36 e IAS 39;
• dois conjuntos de Melhorias Anuais;
• uma nova Interpretação: IFRIC 21 – Tributos; e
• constituição da Fundação IFRS e o Manual do Processo Requerido.
*O livro Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRS) – Edição 2014 será lançado no mês de novembro.
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