Mais que cumprir uma nova exigência legal, desenvolver e seguir uma política de gestão de riscos socioambientais pode representar a abertura de novos negócios para os bancos. A avaliação é da líder em mercados financeiros do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Maria Netto.
Além de mitigar riscos de imagem e perda de dinheiro por avaliações erradas, o investimento nesse tipo de gestão, segundo Maria, representa a possibilidade de encontrar novos nichos de financiamento. No caso dos bancos de desenvolvimento públicos e das carteiras de microcrédito de instituições estatais ou privadas, o investimento nessas políticas acaba levando a ganhos de produtividade e à implementação de novas tecnologias pelos tomadores. E há, ainda, ganho de reputação.
“É interessante quando o banco integra a preocupação de licenciamento ambiental e conversa com as autoridades para poder tratar de forma melhor a questão e o próprio risco se torna uma oportunidade de negócio”, diz Maria.
Um exemplo dado pela especialista trata da estruturação de financiamento para pequenos produtores de cerâmica no Nordeste trocarem os modelos de fornos utilizados para a queima de telhas e outros produtos. Com ajuda do banco, os modelos antigos (de queima aberta) poderão ser substituídos por fornos fechados, que são mais produtivos e consomem menos madeira, reduzindo o desmatamento e o impacto ambiental dessa atividade.
Os grandes bancos têm de apresentar ao Banco Central (BC), até fevereiro de 2015, sua política de gestão de risco socioambiental, conforme determina a Resolução 4.327, editada em abril.
Segundo a especialista do BID, o importante dentro da norma brasileira é que ela dá a flexibilidade necessária para que os bancos desenvolvam seus programas e estratégias internas para lidar com o tema. “A gestão do risco socioambiental depende do tipo de cada instituição, de seus clientes e do tipo de risco que cada uma delas trata”, afirma Maria. Por isso, a flexibilidade da regulação é importante.
As regras editadas pelo BC são genéricas e adaptáveis às características de cada instituição. O BC definiu risco socioambiental como a possibilidade de ocorrência de perdas dos bancos e deixou sob a responsabilidade deles próprios a definição de como mitigá-lo.
Segundo Maria, o desenvolvimento desse tipo de política é importante para as instituições financeiras, não só por questões de reputação, mas também para evitar perdas reais que podem ocorrer em operações de crédito que deixaram de avaliar de forma correta os riscos ambientais e sociais dos projetos.
Tanto a regulação brasileira quanto a adoção de políticas e métodos de gestão de risco socioambiental estiveram em discussão na semana passada no seminário “Políticas de Responsabilidade Socioambiental em Instituições Financeiras de Desenvolvimento”, promovido por BID, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), em Brasília.
Maria, que há mais de cinco anos ajuda bancos de desenvolvimento a montar estratégias de financiamento verde na América Latina, diz que não existe um sistema de gestão socioambiental que possa ser replicado em massa, tanto no segmento público quanto privado. O ponto destacado pela especialista é que essa política tem de estar integrada ao restante da política da instituição financeira e varia conforme o tipo de projeto a ser financiado, se na área de serviços, indústria ou infraestrutura.
De acordo com Maria, o banco não precisa se tornar uma agência de licenciamento ambiental ou saber medir todos os impactos que a construção de uma barragem ou de uma indústria de produtos químicos podem ter sobre certa comunidade ou ecossistema, mas sim saber que documentos, autorizações e licenças é preciso checar para mitigar o risco de não recebimento e de reputação. No caso de grandes bancos, como o BNDES, a elaboração da gestão de risco socioambiental tem de ser tratada com todo o setor, diz.
Fonte: Valor Econômico
Via Marcos Assi
Nenhum comentário:
Postar um comentário