Os índices de mortalidade das empresas são alarmantes. Pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em setembro 2016, aponta que 60% das empresas não sobrevivem após cinco anos de atividade. Este estudo não analisa as causas da mortalidade, mas outros estudos apontam a estrutura e gestão financeira como principal causa.
O Sebrae tem alertado para a questão em artigos, palestras, cursos e no estudo “Causa Mortis: O sucesso e o fracasso das empresas nos primeiros 5 anos de vida” (2014) demonstram que a gestão financeira negligenciada é uma das causas do encerramento das empresas. Estudo realizado por Rosiak (2016), com empresas que encerraram as atividades em Nova Mutum – MT, reforça esta assertiva ao demonstrar que o ocaso foi devido a estruturas ineficientes de capital, ausência de controles mínimos e falta de foco na gestão financeira.
As Pequenas e Médias Empresas – PMEs carecem de especial atenção ao Caixa porque tem menor acesso às modalidades de crédito ofertadas pelas instituições financeiras, e dele necessitam para exercício de suas atividades e continuar crescendo e gerando resultados positivos.
Objetivando melhorar a elaboração e controle do Fluxo de Caixa sugerimos às PMEs usarem conceitos de Cash Management., bastante aplicado em grandes empresas, apoiadas por instituições financeiras que oferecem produtos e serviços por vezes customizados.
Em tempo: Neste primeiro artigo abordaremos o papel do gestor financeiro, a construção de um sistema de informações, cash management e fluxo de caixa projetado, nos próximos trataremos a questão da elaboração do Fluxo de Caixa.
1 - O Papel do Gestor Financeiro
É função do gestor financeiro, controller, ou outra pessoa indicada pelo empreendedor ou proprietário da PME, garantir a liquidez suficiente para quitar as obrigações contraídas no passado, garantir recursos para o crescimento da empresa, bem como, construir uma base de informações para dar suporte ao processo decisório. É importante ressalvar que empresas de sucesso são aquelas onde as decisões positivas, em relação ao desempenho econômico-financeiro, são superiores as negativas.
Os desafios desse profissional são inúmeros uma vez que nas PMEs os recursos são escassos, tanto para a manutenção das atividades diárias como para alavancar o crescimento, o sistema de informação normalmente é precário e a maioria das informações não estão disponíveis ou formalizadas, isto é, estão na cabeça dos gestores, além de processos inexistentes ou não estão claros para todos os colaboradores que dele participam.
A maioria também não conta com um SIC - Sistema de Informação Contábil confiável de onde possa extrair informações sobre o desempenho econômico financeiro da empresa, fazer comparações e análises que ajudarão na gestão dos custos e despesas.
Para exercício da função financeira em geral, e do fluxo de caixa em particular, é necessário construir bases para a elaboração das previsões e cenários, quando tratar de investimentos. É premente estabelecer um sistema de informações para planejamento e controle do Fluxo de Caixa
Neste processo é importante conhecer a atividade da empresa e os principais elementos que impactam o fluxo de caixa. Também é importante envolver a organização para que todos os gestores tenham ciência que, e como, suas decisões impactam no fluxo de caixa. É salutar que gestor financeiro seja envolvido no processo decisório e informado dos impactos destes no fluxo de caixa.
A eficiência do gestor financeiro está diretamente ligada a previsibilidade do caixa, independentemente da situação financeira da empresa. Não obstante, há uma relação direta com as informações recebidas dos demais gestores.
2 - Cash Management
O caixa é uma das áreas que mais exigem atenção dos gestores, empreendedores e executivos porque cuida do valor disponível destinado ao pagamento dos produtos e serviços adquiridos, remuneração dos funcionários, impostos, investimentos e a remuneração do capital investido (acionistas ou quotistas). A principal função do Cash Management é garantir a liquidez.
Cash Management consiste em planejar a liquidez tendo como base informações financeiras e contábeis destinadas a projeção de fluxos de caixa. O principal escopo desta metodologia é garantir um acurado controle do caixa, garantindo mais previsibilidade nos saldos diários e permitindo visualizar a possibilidade de aplicação dos recursos excedentes no mercado financeiro ou para incrementar as atividades operacionais da empresa, dependendo do tempo da disponibilidade e da estratégia da empresa.
Originalmente estes sistemas foram desenvolvidos para grandes empresas e grupos econômicos com necessidades, muitas vezes, de centralização do caixa e sua gestão. Estes produtos incluem sistemas operados diretamente pela internet para recebimentos e pagamentos, arquivos para reconciliação, relatórios com funções diversas tais como valores que serão debitados da conta no dia e futuros, extratos inclusive com movimentações em contas no estrangeiro, aplicações automáticas no mercado financeiro, contas centralizadas (normalmente usadas por empresas do ramos varejistas onde os depósitos são oriundos de muitos pontos de venda, transferências internacionais e outros produtos.
As boas práticas de grandes empresas as vezes estão acessíveis às PMEs. Os principais bancos de varejo brasileiros oferecem Cash Management e outras soluções através de seus portais de correntistas para apoiar as empresas nas operações diárias de tesouraria, contas a pagar, contas a receber, captação de recursos etc. Nos portais as empresas podem obter extratos, movimentações financeiras, relatórios diversos, enviar e receber arquivos entre outros recursos.
Estes arquivos e relatórios são destinados a efetuar as baixas de contas a pagar e a receber, bem como fazer a conciliação diária. Desta forma, a empresa está controlando o caixa e provendo a contabilidade com documentos para seus registros.
2.1 Fluxo de Caixa Projetado
Por Fluxo de Caixa entende-se uma planilha, ou programa, onde são registrados as entradas e saídas de recursos de pessoas físicas ou jurídicas durante um período e, por diferença, obtendo a situação financeira, superavitária quando houver excedente de dinheiro ou deficitária quando ocorrer o contrário.
Tófoli (2008) denomina como Fluxo de Caixa Planejado e afirma que seu objetivo é “projetar as entradas e saídas de recursos financeiros, num determinado período, avaliando a necessidade de capitar recursos ou aplicar os excedentes de caixa”. Esta definição é bastante abrangente envolve questões como temporalidade, decisões de financiamento e investimento.
A principal ideia ao elaborar um fluxo de caixa projetado é garantir previsibilidade no uso dos recursos financeiros durante o período da projeção (ou estimativa). A maioria das empresas faz as estimativas no final de um período para execução no período seguinte, por exemplo, nos últimos dias de fevereiro fazemos as previsões para o mês de março.
A previsibilidade facilita o dia a dia do gestor financeiro. Permite o remanejamento ou captação de recursos quando for deficitário e até mesmo propor aos gestores alternativas de investimentos quando os saldos forem altos e por um longo período de tempo.
O Fluxo de Caixa deve ser elaborado em bases diárias, iniciando com o saldo do dia. Em seguida são lançadas as entradas e posteriormente as saídas e apurado o saldo final. As contas que comporão cada grupo variam de empresa para empresa em função do negócio, mas são comuns as vendas, nas entradas, e salários e encargos, impostos, aluguel, luz água, comunicações (telefone e internet), nas saídas. Abaixo um exemplo:
A qualidade/acertabilidade de um fluxo de caixa está diretamente ligada ao sistema de informações. Empresas com políticas, processos e regras melhor definidas tendem a possuir fluxos de caixa projetados com menores distorções entre o projetado e o realizado,
Construído um fluxo de caixa é necessário a comparação com o real esta atividade possibilitará analisar as variações e o motivo destas, assim como, estabelecer um aprendizado contínuo. Este aprendizado é maior para o financeiro, mas envolve a empresa como um todo.
O fluxo de caixa apresenta a liquidez e solvência (saúde financeira) além de possibilitar outras análises, tais como, análise de sensibilidade, cálculos de valor presente líquido, prazo de retorno de um investimento, taxa de retorno de investimento, rentabilidade e lucratividade.
Conclusão Primeira Parte
A utilização do conceito de Cash Management é útil para as PMEs. É necessário que seja construindo um sistema de informação onde as demais áreas colaboram com o gestor financeiro, envolvendo-o no processo decisório quando útil ou necessário, ou informando antecipadamente o impacto financeiro de suas decisões: valores e datas previstas.
A tarefa do gestor financeiro é compilar estas informações, segundo suas datas de entradas (recebimentos) e saídas (desembolsos) construindo um fluxo de caixa com elevado grau de acuraria para garantir a liquidez, na medida da situação financeira da empresa.
Também é sua tarefa adotar as melhores práticas de controle interno e os recursos disponibilizados pelas instituições financeiras para garantir a segurança nos pagamentos e recebimentos. Deve utilizar estes sistemas para garantir a integridade e a confiabilidade dos registros financeiros e contábeis
A qualidade/aceitabilidade de um fluxo de caixa está diretamente ligada ao envolvimento dos gestores das áreas, as políticas, processos e regras melhor definidos, bem como a utilização de um sistema de informações confiável.
Bibliografia
BRAGG, S.M. Corporate Cash Management – A Treasure guide. 2nd ed. USA: Accounting Tools LLC, 2012.
ROSIAK, A.N. Gestão de Crises e Desafios na Recuperação de Empresas em Nova Mutum – MT. Trabalho de Conclusão de Curso Especialização Gestão Estratégica em Negócios Corporativos. Lucas do Rio Verde. Faculdades La Salle, 2016.
SEBRAE. Causa Mortis: O sucesso e o fracasso das empresas nos primeiros 5 anos de vida. Disponível em http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sp?codUf=26, em 24/09/2016.
TÓFOLI, I. Administração Financeira Empresarial – Uma tratativa prática. São Paulo: Unisalesiano, 2008.
UOL, de cada dez empresas, cinco fecham antes de completar cinco anos. Disponível em http://economia.uol.com.br/empreendedorismo/noticias/redacao/2016/09/14/de-cada-dez-empresas-seis-fecham-antes-de-completar-5-anos-aponta-ibge.htm, consultado em 23/09/2016.
por Levi Gimenez
• Mestre em Ciências Contábeis e Financeiras pela PUC São Paulo;
MBA – Investimento e Gestão na Indústria Sucroalcooleira na ESALQ-USP;
• Pós - graduação em Controladoria – FECAP Fundação Armando Álvares Penteado;
• Graduação em Ciências Contábeis - PUC São Paulo;
Co-autor do livro Contabilidade Para Gestores, pela Editora Atlas (2011), com o Prof. Dr. Antonio Benedito Silva Oliveira;
Professor na pós-graduação em Contabilidade, Auditoria, Controladoria e graduação da PUC – Campinas;
• Avaliador do Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade desde 2009 e de diversas revistas acadêmicas;
Diversos artigos publicados em congressos no Brasil e no exterior;
• Lecionou nos cursos de graduação e pós graduação na UMC – Universidade de Mogi das Cruzes, UniABC e Estácio de Sá;
• Membro-Fundador da Sociedade Brasileira de Finanças, em evento ocorrido na FGV-EAESP em Julho/2.001;
• Membro da ABC – Associação Brasileira de Custos;
• Ocupou cargos de diretoria, gerencia financeira e controller de diversas empresas nacionais e estrangeiras.
• Atualmente é sócio-fundador da Ganas Consultoria e Treinamento Ltda.
Fonte: Essência Sobre a Forma
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