Historicamente,
a contabilidade gerencial sempre representou uma visão ou perspectiva diferente
de apresentação das informações contábeis, com foco no suporte ao processo de gestão
dentro das organizações, baseada na contabilidade tradicional – societária, financeira
e de custos – e também nas técnicas de análise de balanços. Cabe salientar, no
entanto, que, considerando o dinamismo do ambiente de negócios, o modelo embasado
em informações essencialmente financeiras não atende mais às necessidades de
apoio ao processo decisório.
A evolução do
mercado e a complexidade dos modelos de negócios, caracterizados pela alta
concorrência e pelas vantagens competitivas voláteis, têm exigido de todos os
seus agentes uma revisão de estratégias, posturas e procedimentos adotados pelos
gestores. A capacidade de gestão torna-se, cada vez mais, um elemento
fundamental para o sucesso e a perenidade de uma organização. Decisões
orientadas de curto prazo, mas, sobretudo, alinhadas a projeções de cenários futuros
e à continuidade do negócio, considerando posicionamentos e estratégias de
mercado, dependem de informações tempestivas e consistentes.
Paralelamente,
é cada vez mais premente a necessidade de implementação e manutenção de práticas
de Governança Corporativa. Consideradas um dos principais aspectos de discussão
sobre gestão, tais práticas contemplam o processo decisório adotado pela alta
administração das sociedades e o relacionamento com os seus diversos usuários
(stakeholders).
Da mesma
forma, a adoção das normas internacionais de contabilidade proporcionou um aumento
no nível de responsabilidade das empresas como um todo, caracterizando um processo
de gestão de mudança organizacional, que vem afetando diversos aspectos do
ambiente interno e dos processos de uma empresa, muito além da simples
apresentação e divulgação de demonstrações contábeis. A contabilidade
financeira, que era muito questionada quanto à validade e à utilidade de suas
práticas, passou a ter, em teoria, uma visão mais prospectiva e subjetiva, se aproximando
da contabilidade gerencial no subsídio do processo de gestão dos negócios.
Nesse
sentido, torna-se fundamental a reflexão quanto à oportunidade de uma maior
inserção do profissional contábil no processo decisório das organizações. Os
contadores têm sido exigidos a ampliar suas habilidades para atender de forma eficaz
às demandas desse novo ambiente. Habilidades pessoais, entendimento do negócio
e participação mais ativa no processo de gestão passaram a integrar o novo
perfil do profissional contábil. Enfim, é fundamental que os profissionais contábeis
passem a dedicar esforços às atividades de maior conhecimento e agregação de
valor às organizações.
As novas
dimensões da contabilidade formam e exigem um quadro geral de avaliação do
desempenho, que não apenas tem poder explicativo sobre o estado atual das
empresas, mas, também, permite projeções e simulações de cenários futuros,
dando lugar à exploração de oportunidades e ao gerenciamento de riscos, ambos
de vital interesse para os stakeholders de qualquer sociedade.
As novas
dimensões e oportunidades de posicionamento e atuação do profissional contábil,
sobretudo aquele dedicado à contabilidade gerencial, acabam esbarrando em
aspectos culturais, decorrentes do desvio do foco gerencial e da subordinação
aos interesses fiscais, que sempre fizeram com que ele se afastasse do ambiente
decisório e se sentisse incapaz de participar e servir às finalidades da gestão
empresarial.
De modo geral,
historicamente, na visão da alta administração das organizações, a
contabilidade deveria estar voltada para minimizar o grau de exposição tributária.
Esta posição, além de praticamente restringir a importância que as demonstrações
contábeis poderiam ter para a gestão, tem sido responsável pela projeção de uma
imagem social extremamente desfavorável da figura do profissional contábil e de
seu trabalho.
É óbvio que
as decisões empresariais precisam de informações pertinentes e relevantes para
dar-lhes fundamento e orientação. Como consequência, se os profissionais
contábeis não demonstrarem interesse e não estiverem preparados para fornecer
tais informações, outros especialistas irão, inevitavelmente, aproveitar a oportunidade
e assumir essa função.
Com base em
determinadas pesquisas sobre o perfil do profissional contábil, é importante
destacar, de forma específica, a necessidade de mudança de perfil. A formatação
do novo perfil dos profissionais da contabilidade, conforme o American
Institute of Certified Public Accountants – AICPA (Instituto Americano de
Contadores Públicos Certificados), órgão norte-americano equivalente ao Conselho
Federal de Contabilidade – CFC, deve ser estruturada sob três esferas de
competência: (i) funcionais – conhecimentos técnicos e práticos sobre modelos
de tomada de decisões, análises de risco, modelos de mensuração, técnicas de
reporte, capacidade e técnica de pesquisa e a capacidade de alavancar e usar tecnologia;
(ii) pessoais – desenvolver modelos de comportamento profissional, capacidade
de resolver problemas e tomar decisões, técnicas de relacionamento, liderança,
comunicação, gerenciamento de projetos e capacidade de alavancar e usar tecnologia;
e (iii) amplo entendimento de negócios – pensar de forma estratégica e crítica,
ter conhecimentos segmentados por indústria, ter uma perspectiva e entendimento
global e internacional, conhecer técnicas de gerenciamento de recursos,
entender implicações legais e fiscais nos negócios, focalização em clientes e
em marketing.
As pesquisas
também apontaram que, de forma geral, o profissional contábil tem condições de
manter adequado nível de comunicação e de capacidade na tradução de informações
complexas em conhecimento crítico, pois são habilidades racionais, objetivas e
que podem ser realizadas através da aplicação de regras, com baixo risco envolvido;
porém, quanto à percepção e à criação de oportunidades para transformar ideias
em realidade, devido ao alto grau de subjetividade e risco envolvidos, normalmente
o profissional contábil apresenta dificuldades, pois a percepção de
oportunidades externas ao contexto habitual de regras ou colocar em prática
ideias inovadoras sem garantias de sucesso são ações que o profissional contábil
tem predisposição a evitar, se não houver um argumento racional suficientemente
forte para tolerar o risco.
Em síntese,
o futuro da contabilidade gerencial é bastante promissor! Atualmente, podemos verificar
a crescente valorização do profissional contábil, tanto do ponto de vista de
remuneração quanto de envolvimento estratégico nas organizações. Cabe salientar,
no entanto, que o sucesso está diretamente relacionado à superação de desafios,
principalmente, quanto à “quebra de paradigmas” e à “mudança de cultura”, que
estão, de forma substancial, relacionados à “zona de conforto” de atuação,
tradicional e hermética.
por Contador
Roberto Zeller Branchi - Coordenador do Grupo de Estudos de Contabilidade
Gerencial do CRCRS
Fonte: Revista CRC/RS n° 21
Nenhum comentário:
Postar um comentário