segunda-feira, 23 de maio de 2016

23/05 Inovar em algo que temos certeza que vai dar certo não é inovação, é projeto

Doutor em Administração Internacional pela University of Bradford, na Inglaterra, e professor na área de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral, o pesquisador Carlos Arruda conversou com o Simi durante o encontro do Centro de Referência em Inovação de Minas Gerais. Confira!




Professor, como inovar em um momento tão delicado para o Brasil?

Se pensarmos a inovação na perspectiva de investimento, ela tem tudo a perder. Porque há baixo grau de investimento no país. “Inovar em algo que temos certeza que vai dar certo não é inovação, é projeto." Empresas que conseguem entender que estamos vivendo uma fase do ciclo, e não uma etapa permanente, vão se sair bem. Esse é o momento de se preparar para o futuro.

Muitas empresas têm essa mentalidade?

Algumas empresas estão fazendo isso, inclusive as mineiras. Elas estão investindo em novas tecnologias para inovação com uso da internet das coisas, big data, computação na nuvem etc. Mas a inovação não existe sem liderança. Uma empresa com visão de futuro é aquela na qual os líderes percebem que, mesmo em um momento difícil, é preciso fazer grandes transformações. Os gestores têm essa visão que é hora de fazer transformações profundas, e elas acontecem.

Como mudar a mentalidade dos líderes que estão à frente de mercados consolidados e não veem necessidade de mudança?

Esse encontro do CRI Minas é um pouco para isso. A comunidade de inovação em Minas Gerais foi criada a partir de um projeto da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) em 2009. A preocupação era buscar perceber como as empresas mineiras inovavam. A Dom Cabral realizou profundos estudos com as 60 maiores e melhores empresas de Minas Gerais sobre suas práticas em inovação. A primeira conclusão desse estudo foi a de que a inovação em Minas Gerais ainda é muito tímida e pouco disposta a fazer inovação de fato. No Estado, a inovação era olhada para trás e não para a frente, uma inovação com retrovisor. Inovação é criar uma agenda de futuro, criar novas oportunidades de ideias. A empresa mineira investia em inovação para compensar perdas anteriores.

Você não acha que as empresas hoje pensam a inovação com ideias interessantes, mas com pouca capacidade de aplicação?

O tomador de decisão está buscando responder uma pressão que ele sofre de resultados de curto prazo. Nosso modelo organizacional é muito orientado para o presente. Os grandes gestores são cobrados por resultados curtos.

Por que é tão difícil conectar as universidades às indústrias?

É difícil em todo lugar no mundo. As grandes universidades que fazem pesquisa e desenvolvimento no Brasil são públicas e as empresas são privadas então há um conflito de percepção de valor. Quando você olha para outras universidades no exterior, como a NorthWest, nos Estados Unidos, por exemplo, a pesquisa dela tem um único propósito, gerar valor econômico e riqueza para a sociedade. Na universidade brasileira o conhecimento é uma coisa pública. A universidade tem que usar dinheiro público para gerar valor privado para a sociedade. Porque quem opera a economia é o setor privado.

A outra dimensão é a questão do longo e curto prazo. A universidade tem uma visão mais de curto prazo. Ela gera um conhecimento e precisa publicar artigos, por exemplo. A empresa, por sua vez, precisa transformar conhecimento em valor. Quando o professor faz uma pesquisa, o mérito é divulgar o resultado. Na empresa, o mérito é transformar em nova tecnologia, em produto, e, posteriormente, em ganho financeiro.

E as pequenas empresas? A inovação pode vir também delas?

Quem vai fazer a revolução das inovações no mundo digital não são as grandes empresas e, sim, as pequenas. A capacidade de gerar inovação está nas pequenas empresas. O jovem universitário precisa pensar: qual conhecimento posso desenvolver para gerar valor para alguém? Qual é oferta de valor disso para a nossa sociedade? Qual é a aplicação desse conhecimento para a sociedade?

Fonte: simi.org.br

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