No Brasil, as pequenas e médias empresas não são obrigadas a aplicar o IFRS completo. Para essas firmas, há uma regra própria, a resolução CFC nº 1.418/12, que aprova o Modelo Contábil para Microempresas e Empresas de Pequeno porte. Ainda assim, a prática da contabilidade como instrumento de gestão está longe de ser uma realidade nesse segmento.
As PMEs que adotam as regras buscam mais facilidade no relacionamento com investidores e o estreitamento com pares que atuem no exterior. Para elas, o balanço contábil é uma ferramenta de visibilidade, tornando-as mais atraentes, por exemplo, aos olhos dos administradores dos fundos de private equity.
O professor Eliseu Martins, um respeitado consultor na área de contabilidade, que integrou o Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) durante a preparação do mercado para adoção das normas do IFRS, afirma que as pequenas e as médias empresas brasileiras enfrentam dificuldades para se adaptar às novas regras. Segundo ele, isso é um reflexo cultural.
"No Brasil, os escritórios de contabilidade passaram décadas dando atenção quase que somente à contabilidade tributária e agora enfrentam dificuldades na adaptação aos padrões internacionais. Os próprios empresários não foram ensinados pelos contadores a utilizar a boa contabilidade para fins de gestão", comenta.
Marcelo Gonçalves, sócio da KPMG, também considera que a baixa adesão de pequenas e médias empresas às novas normas é uma questão cultural. "Ainda que o CFC venha desenvolvendo um trabalho muito bom, com palestras e seminários para disseminar a importância dessas mudanças, existe uma quantidade expressiva de contadores que não se atualizaram. Houve também uma evolução na qualidade do ensino superior, mas ainda não é o suficiente", afirma.
Gonçalves alerta que a adoção das novas regras contábeis pelas empresas de menor porte não é mais uma escolha. "Cada vez mais temos um ambiente com menos espaço para informalidade. Quem ficar fora desse movimento vai perder vantagens competitivas e ter mais dificuldades na captação de recursos financeiros e na relação com clientes", diz.
Para John Auton, sócio da área de auditoria da Deloitte, as empresas interessadas em usar a contabilidade como instrumento de gestão são de médio porte, como faturamento anual acima de R$ 20 milhões. Auton diz que a maioria delas nunca passou por um processo de auditoria, mas quer melhorar sua relação com o universo contábil, e o primeiro passo é adoção das regras internacionais.
Fonte: Valor Econômico
Via Seteco
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