sábado, 7 de julho de 2012
07/07 Tributação e felicidade
O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) lançou, em 2012, a segunda versão do seu estudo sobre a Carga Tributária Brasileira versus o IDH, resultando assim na criação do Índice de Retorno de Bem-estar à Sociedade (IRBES). A edição 2012 do estudo da relação da carga tributária versus retorno dos recursos à população em termos de qualidade de vida se deu com a utilização de índices recentes e atualizados sobre a arrecadação tributária nacional e o IDH pátrio.
O estudo teve por objetivo mensurar os 30 (trinta) países de mais elevada carga tributária (arrecadação tributária em relação à riqueza gerada - PIB) e verificar se os valores arrecadados estariam voltando à população, através de serviços públicos de qualidade, que viessem a gerar bem estar à população.
Para tanto, o IBPT utilizou dois parâmetros considerados essenciais para o tipo de comparação pretendida: A Carga Tributária (arrecadação em relação ao PIB), obtida junto à OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, referente ao ano de 2010 (última atualização) e também o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, conforme dados do PNUD - (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), com a previsão do índice final para o ano de 2011.
Conforme registrado no estudo, a carga tributária é a relação percentual obtida pela divisão do total geral da arrecadação de tributos do país em todas as suas esferas (federal, estadual e municipal) em um ano, pelo valor do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, a riqueza gerada durante o mesmo período de mensuração do valor dos tributos arrecadados, sendo, como exemplo, no Brasil: (Ano de 2010 / Arrecadação tributária em R$ mil = R$ 1.291.000 / PIB: R$ 3.674.922 / Carga Tributária = 35,13%).
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), por sua vez, é uma medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores para os diversos países do mundo. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população, especialmente bem estar infantil. O índice foi desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês Mahbubul Haq, e vem sendo usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, em seu relatório anual.
O IDH é um índice que serve de comparação entre os países, com o objetivo de medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais. O IDH vai de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, pode-se afirmar que esse país é o que atingiu maior grau de desenvolvimento.
Para atingir o objetivo do estudo sobre Carga Tributária versus IDH, o IBPT providenciou a criação de um índice que pudesse demonstrar o nível de retorno à população dos valores arrecadados com tributos, em cada país. Tal índice, denominado IRBES – Índice de Retorno De Bem Estar à Sociedade, é resultado da somatória da carga tributária, ponderada percentualmente pela importância deste parâmetro, com o IDH, ponderado da mesma forma.
Dentre alguns dos resultados encontrados, afirma-se que ao se considerar os 30 países com a maior carga tributária, o Brasil continua sendo o que proporciona o pior retorno dos valores arrecadados em prol do bem estar da sociedade. Ademais, a Austrália, seguida dos Estados Unidos, da Coréia do Sul e do Japão, são os países que melhor fazem aplicação dos tributos arrecadados, em termos de melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos. Tem-se ainda que o Brasil, com arrecadação altíssima e péssimo retorno desses valores, fica atrás, inclusive, de países da América do Sul, como Uruguai e Argentina.
O IRBES é decorrente da somatória do valor numérico relativo à carga tributária do país, com uma ponderação de 15%, com o valor do IDH, que recebeu uma ponderação de 85%, por entender o IBPT que o IDH elevado, independentemente da carga tributária do país, é muito mais representativo e significante do que uma carga tributária elevada, independentemente do IDH. Assim sendo, o IDH teve um peso bem maior para a composição do índice.
Um estudo deste tipo pode ser útil de diversas maneiras. Determinados investimentos da arrecadação tributária em políticas sociais, por exemplo, implicam custos para alguns indivíduos e, dessa forma, faz-se necessária uma avaliação dos efeitos líquidos dessas ações realizadas pelos governantes em termos de utilidades individuais (felicidade).
Além do resultado fático apontado pela criação do IRBES, tal índice merece ser tido por nossos governantes, especialmente, como uma importante variável determinante no cálculo da felicidade de nossa sociedade, mantendo-se em linha de raciocínio que as medidas de felicidade consistem numa nova maneira de avaliar os efeitos de mudanças nas atividades de gasto do dinheiro arrecadado pelo governo.
As atividades do Estado brasileiro são realizadas dentro de um modelo de bem-estar social, Estado este que preceitua postulados fundamentais pautados por um conjunto de princípios republicanos, tais como igualdade, liberdade e fraternidade, os quais, quando entabulados para sustentar o direito ao desenvolvimento social, dão margem à caracterização da felicidade social como importante valor de justificação das finalidades do Estado.
O resultado do estudo feito pelo IBPT, com a criação do IRBES, evidencia a falha do Estado brasileiro em proporcionar um elevado bem-estar e felicidade social, o que pode ser justificado, por exemplo, com a constante propagação das negligências dos serviços públicos, consideradas por Amartya Sen como fator limitador do desenvolvimento social.
Nossos governantes, que atuam no uso do dinheiro fruto da arrecadação tributária, devem interpretar o resultado do estudo do IBPT e o IRBES pensando na felicidade como fim característico do Estado social contemporâneo, sabedores de que uma das proposições fundamentais da filosofia política clássica é a de que o fim dos governos não é somente a maior liberdade possível, mas também a maior felicidade possível num contexto republicano.
Referências bibliográficas:
IBPT: ESTUDO SOBRE CARGA TRIBUTÁRIA/PIB X IDH - CÁLCULO DO IRBES (ÍNDICE DE RETORNO DE BEM ESTAR À SOCIEDADE) - EDIÇÃO 2012 – COM A UTILIZAÇÃO DE ÍNDICES RECENTES, disponível em http://ibpt.com.br/img/_publicacao/14191/196.pdf?PHPSESSID=40dd015595e1e7b9438da2515365513c
GABARDO, Emerson. A felicidade como fundamento do interesse público. In: GABARDO, Emerson. Interesse público e subsidiariedade. Belo Horizonte: Fórum, 2009, p. 325-371.
CORBI, Raphael Bottura; MENEZES FILHO, Naércio Aquino. Os determinantes empíricos da felicidade no Brasil. Revista de Economia Política, v. 26, n. 04 (104), out/dez. 2006, p. 518-536.
Fonte: Impostômetro
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário