segunda-feira, 9 de julho de 2012

09/07 Quando nem uma desoneração resolve

Faço referência a um filme de 1970, cujo título conta (quase) tudo sobre seu monótono roteiro naqueles tempos de repressão sexual e, dizem as más línguas, reflete um hábito lusitano, cujo pior exemplo seria, é claro, o clássico “Psicose” de Hitchcock (1960) que, em Portugal foi batizado de “O Filho que Era Mãe”.

É perceptível que a crise europeia (e americana) aos poucos chega aqui. Europeus produzem e consomem menos em razão de uma taxa de desemprego que oscila entre 10% e 48% – uma verdadeira violência – e, mais do que uma década perdida, poderemos presenciar uma geração perdida na Europa.

Começamos o ano ouvindo que teríamos um crescimento do PIB da ordem de 4,5% e, com o reajuste forçado das expectativas, o governo, humildemente, concorda com 2,5%. O mercado prevê conservadores 2%, o que certamente configura um período de mediocridade econômica pela frente, que vai contrastar fortemente com outros países emergentes e vizinhos.

O governo brasileiro, herdeiro da estrutura (e mentalidade) do anterior, insiste em atacar a crise pelo lado da demanda, isto é, incentivando os consumidores a comprar mais, seja pela desoneração fiscal (que reduz preços) ou financeira (aumentando o crédito) ou aumentos de renda (reajuste do salário mínimo, novos programas sociais etc.). Interessante notar que antes de 2004 o governo reprimia fortemente a demanda e o consumidor era punido e responsabilizado pelo descontrole inflacionário.

Não se pode deixar de estranhar que certos setores (indústria automobilística, produtores da linha branca, construção civil etc.) se beneficiem com incentivos generosos enquanto produtores rurais e cooperativas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul entram em acelerado processo de falência, extensas comunidades do Nordeste padeçam com a sede e lavouras arruinadas e alguns setores econômicos menos vistosos marchem para uma inglória e silenciosa destruição.

Há muito de ensaio e erro na política atual e economistas concordam que governa-se por meio de desonerações fiscais e pacotes pontuais. Falta uma política macroeconômica que reforce os fundamentos da economia e promova as velhas, efetivas e necessárias reformas.

O BNDES opera no atacado, privilegiando pouco mais que uma dúzia de grandes empresas; a gradual ascensão das prioridades do pré-sal ocorre em detrimento do Proálcool, e tentativas de reduzir o custo de um sistema financeiro parasitário resultaram em fogos de artifício. O País continua a trabalhar sob a lógica dos privilégios e, enquanto isso, o que o Congresso faz? Ora, além de uma vistosa CPI, ocupa-se de aumentar salários e benefícios de parlamentares e funcionários públicos. 



por MIRO HILDEBRANDO | DOUTOR EM ECONOMIA


Fonte: A Notícia

Nenhum comentário:

Postar um comentário