sexta-feira, 28 de junho de 2019

A longevidade das empresas no Brasil

A continuidade e a longevidade de uma empresa estão relacionadas a vários pressupostos importantes, que merecem maior atenção por parte do empreendedor e em sua preparação para tal. Uma publicação do CRA-SP, na revista Administrador Profissional, março 2014, ano 37, no 333, na matéria “Empresas feitas para durar”, apresentou uma entrevista com executivos de algumas empresas longevas, na qual apontam, segundo suas visões, os principais fatores de longevidade de suas empresas.

Algumas merecem destaque como exemplos:

Recorrendo à pesquisa do IBPT, há no Brasil cerca de 200 empresas com 100 anos ou mais, 148 entre 80 e 99 anos e 813 entre 60 e 79 anos. Com maior ou menor exposição na mídia, há muitas empresas longevas, brasileiras ou estrangeiras, com capitalização aberta ou fechada, com graus diferenciados de profissionalização, frutos de evolução em vários ramos de atividade, que seguiram por caminhos similares e se mantêm competitivas, com várias gerações descendentes no comando.

Seguramente, nem sempre tais empresas encontraram “céu de brigadeiro”, mas souberam manter-se e evoluir de forma equilibrada e sustentável, com destino certo, apesar de todas as turbulências e obstáculos.

Em resumo, há um campo conceitual invisível e poderoso, com eixos centrais, claros, transparentes, disseminados e mantidos de significação, valores, convicções e propósitos, bem como visão de futuro compartilhada e um forte alinhamento entre a visão, a cultura, as competências e a ação.

Tais eixos e a própria longevidade não seriam possíveis sem lideranças adequadas a cada estágio e momento na existência dessas empresas, não fosse a flexibilidade e a capacidade de adaptação às mudanças necessárias, por processos sucessórios ou de profissionalização da gestão bem definidos e, finalmente, preocupação e cultivo do futuro.

Isso não significa que tais empresas sejam invulneráveis, que nunca tiveram altos e baixos; são empresas que, como quaisquer outras, enfrentaram as mesmas dificuldades, porém algo as diferenciou: a postura do empreendedor, a cultura da empresa, os propósitos, os valores, a resiliência, a adaptabilidade e a flexibilidade.

Uma empresa é uma instituição social dinâmica, estruturada em torno de propósitos, crenças e valores, com a finalidade de se valorizar, gerando resultados, sob os pontos de vista econômico, social e ambiental, através de um grupo de interessados (stakeholders) – investidores, colaboradores, fornecedores, parceiros, clientes e sociedade –, visando a sua continuidade pela competitividade, pela excelência e pelos resultados.

Do estudado até aqui se constata, para desenvolvimento, reflexão e reconhecimento das armadilhas, algumas premissas que serão estudadas nos capítulos seguintes:

1. Condições competitivas globais mostram que o único caminho viável das empresas é ter agilidade, flexibilidade e competências adequadas, e isso só é possível com visão, mudanças e grau de adaptabilidade da empresa.

2. Tanto o ambiente global como o brasileiro implicam riscos sistêmicos, oportunidades e ameaças inerentes a todos, com diferentes graus de intensidade, o que recomenda reavaliações realistas constantes.

3. O empreendedor não está convenientemente preparado para o mundo dos negócios, quanto à complexidade, notadamente nos aspectos humanos e intangíveis.

4. A importância determinante do papel do empreendedor como líder, suas intenções, ambições, emoções e comportamentos e de seus papéis na construção de uma empresa sustentada em visão, significados, valores, crenças, convicções, ambiente de trabalho e cultura organizacional.

5. Problemas técnicos e operacionais, independentemente da tecnologia ou dos recursos, se analisados às últimas consequências, são efeitos e não causas. Invariavelmente, encontra-se algo relacionado a pessoas, ambições, comportamentos, atitudes, clima, ou seja, fatores relacionados ao ambiente e à cultura.

6. Sustentabilidade e continuidade através do equilíbrio entre a busca de resultados, em que o lucro não é o único objetivo, e a humanização da gestão.

O complexo contexto do empreendedorismo, portanto, envolve:

  • três cenários de negócios: ambiente global, do país e do ramo de atividades;
  • quatro personagens: a pessoa, o empreendedor, o empresário e o líder;
  • dois impulsionadores: motivos e motivações;
  • duas condições primordiais: vocações e propósitos;
  • incertezas, riscos, tomada de decisões, mudanças e pessoas;
  • seis interessados: sociedade, funcionários, investidores, fornecedores, parceiros e clientes;
  • contextos internos: estratégia, recursos, competências, operações, cultura,
  • ambiente de trabalho e clima organizacional;
  • inteligências envolvidas: racionais e lógicas, emocionais, sociais e culturais.

Motivações, comportamentos e emoções definem a qualidade da gestão, até antes mesmo daquilo que seria considerado racional ou de inteligência racional, tendo como efeitos os resultados tangíveis, lucro, produtividade, entre vários outros indicadores operacionais, econômicos e financeiros.

Resultados são consequências de um trabalho bem feito pelo modelo de negócios, e isso é consequência de muitos fatores intangíveis, até mais do que recursos tecnológicos e financeiros.

Infelizmente na prática, não no discurso, tais aspectos são relevados ou considerados como teorias, filosofia, perda de tempo, algo que em nada contribui, custos desnecessários ou assuntos de grandes empresas.

Discute-se no texto algo mais profundo, os empreendedores que têm objetivos maiores e mais elevados do que meramente ganhar dinheiro, suprir necessidades pessoais ou somente realizar sonhos mundanos, e a importância determinante dos aspectos emocionais e comportamentais na decadência e mortalidade das empresas. Equilibrar adequadamente todas as variáveis racionais e emocionais envolvidas no empreendedorismo, com sabedoria, flexibilidade e fluidez, conforme as situações exigem, embora não garanta, abre as portas às oportunidades e ao sucesso (Figura 1.3).

Finalizando, iniciar espontaneamente um negócio, incentivar, formar ou treinar pessoas a empreender, somente com pautas técnicas e operacionais, sem o cuidado de avaliar profundamente as motivações, vocações, propósitos e ter um bom grau ou compreensão de inteligência emocional, é encaminhamento ao cadafalso ou condenação ao fracasso, em algum momento.

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