Embora não sejam obrigatórios, os balanços de responsabilidade social
e ambiental ganham cada vez mais importância no mundo corporativo.
Todas as modalidades de empresas, de qualquer porte, podem obter
vantagens com a produção do documento, que reflete ganhos, também, para
sociedade. Afinal, o balanço socioambiental nada mais é do que a
prestação de contas de ações promovidas por companhias comprometidas em
minimizar impactos negativos, tanto para sociedade quanto para o meio
ambiente.
Para o coordenador da comissão responsável pelo
balanço social do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do
Sul (CRCRS), Marco Aurélio Bernardi, o comprometimento com ações
socioambientais é uma exigência da própria sociedade. “Quem dá resultado
para a empresa? Basicamente, o cliente. O empresário deve retribuir os
resultados que obtém investindo em ações sociais. É o dividendo social”,
defende, lembrando que os consumidores querem ter relacionamento com
marcas que tenham esse viés. “O foco principal é fidelizar o público, e o
empresário que quer manter o cliente sempre tem de ter responsabilidade
social”, argumenta Bernardi.
Entre a ação empresarial e a
expectativa social, está o trabalho do contador. Responsável por
identificar as boas práticas da empresa, é o profissional de
contabilidade quem organiza todas as informações e as relaciona,
apresentando um relatório completo, que contempla desde informações
básicas sobre o negócio até os resultados obtidos com programas e ações
de cunho socioambiental.
Como não existe lei específica sobre a
elaboração desses balanços, o Conselho Federal de Contabilidade divulgou
duas resoluções (1.003/2004 e 1.409/2012) para orientar os
profissionais sobre as informações que devem ser apresentadas no
documento. Outra iniciativa para promover a adesão aos balanços (que
podem ser apenas sociais ou ambientais – ou unir as duas perspectivas)
foi a soma de esforços de toda a rede CFC-CRC para que as regionais
vinculadas apresentassem seus balanços. Embora várias unidades já
tivessem a prática, a adesão foi total, e pela primeira vez neste ano
todos os conselhos regionais, juntamente com o federal, divulgaram
balanços relativos ao ano-calendário 2012.
Empresas que têm o
intuito de participar de prêmios de responsabilidade social devem não só
que elaborar o balanço, como mostrar, a partir dele, que o discurso e a
prática da empresa estão alinhados. “O balanço tem que representar a
filosofia da administração, seus princípios e valores”, sintetiza
Bernardi, que elabora o balanço social do CRCRS. “O nosso relatório
basicamente mostra para o contador o que o conselho faz pela categoria”,
explica. Outra fonte de consulta para os profissionais de contabilidade
são duas publicações do CRCRS : “Demonstração da Responsabilidade
Social” e “Manual de Incentivos Fiscais” (ambos disponíveis para
download no site do CRCRS).
Relatório integrado é tendência futura
Tão
importante quanto identificar o nível de comprometimento social das
empresas, acompanhar de que forma as ações de responsabilidade impactam o
desenvolvimento financeiro das companhias é outra necessidade do
mercado econômico e uma tendência futura, que deve culminar com a
elaboração de balanços integrados – que concentrem tanto informações
financeiras quanto socioambientais.
O presidente do conselho
deliberativo do Instituto Ethos, Sérgio Mindlin, explica que a proposta
já está em debate em esfera internacional. O desenvolvimento de um
modelo que possa ser adotado pelas empresas é estudado pelo Conselho
Internacional do Relatório Integrado (em inglês, International
Integrated Reporting Council – IIRC), que tem, entre as empresas
integrantes, nove brasileiras.
“Consideramos muito importante
ter relatórios que transmitam a todos os interessados informações claras
que permitam não só entender o que está acontecendo com as finanças,
mas também as estratégias, os riscos que a empresa enfrenta, sejam
riscos de mercado ou de obtenção e variação de preços das
matérias-primas. É importante que haja mecanismos de informação e que
olhem para todas essas questões”, destaca Mindlin. O maior desafio em
conseguir unificar esses dados está justamente na forma de gestão das
empresas, que, em geral, trabalham separadamente temas financeiros e
sociais.
Para Mindlin, ter os dados financeiros e sociais
relativos às práticas das empresas cruzados é fundamental para dar maior
transparência às informações prestadas e, principalmente, evitar
distorções. “Uma coisa que se diz e se encontra nos relatórios é que as
empresas têm como o maior patrimônio os empregados. Mas, depois, o
relatório financeiro contém uma previsão alta de pagamento com ações
trabalhistas. Isso é contraditório”, adverte.
Embora ainda
esteja em fase de elaboração, algumas empresas já tendem a apresentar
informações cruzadas nos relatórios para facilitar a compreensão das
informações, conforme defende Mindlin. “A expectativa é de que logo elas
comecem a aplicar esse modelo de relatório integrado. É um processo, e
vai levar tempo para que ganhe escala até que seja normatizado em forma
de lei. Tem um caminho longo ainda.”
Informações seguem estrutura padrão
Além
de estar alinhado com as práticas empresariais, o balanço social
precisa seguir uma metodologia simples, mas que facilite a compreensão
dos dados, explica o presidente do CFC, Juarez Domingues Carneiro. O
modelo é o mesmo independentemente do tipo de organização. “Na primeira
parte, apresentam-se a instituição, sua missão, o que é a empresa, o que
faz, os níveis de relacionamento, o tipo de ação institucional que
distingue essa empresa, se obteve destaque em uma ação específica.
Preciso saber quem é a empresa, conhecê-la”, explica Carneiro.
Ainda
tratando do negócio, a segunda parte destaca o que a instituição faz.
“A primeira missão social da empresa é cumprir com a atividade pela qual
ela foi instituída, mostrar a atividade operacional. Se ela estiver
cumprindo a atividade operacional, arcando com seus impostos, ela está
cumprindo um preceito social”, orienta o presidente do CFC.
Na
terceira parte, o relatório detalha os recursos humanos da empresa e o
que ela faz pelos seus funcionários. As ações externas, sejam sociais,
sejam ambientais, são expostas apenas na quarta parte do documento, na
qual são descriminadas as práticas de responsabilidade socioambiental.
“Por fim, o balanço deve apresentar um demonstrativo financeiro, e o
resultado através de cômputos contábeis que possa ser compreendido mesmo
por quem é leigo em contabilidade”, finaliza Carneiro, lembrando que o
balanço tem que ter como prerrogativa a transparência.
Iniciativa pode ser revertida em melhorias
As
ações de responsabilidade social, mais do que expor comprometimento,
têm um reflexo amplo na visibilidade da empresa, avalia o presidente do
CFC, Juarez Carneiro. “O que eu ganho fazendo o bem? Satisfação pessoal,
gero exemplo, tenho a condição de ser uma empresa diferenciada de uma
comum, o que leva ao respeito, à credibilidade, e ainda deixa algo
positivo para uma geração futura”, menciona. No entanto, ressalta,
companhias que têm programas de responsabilidade social acabam tendo
preferência em licitações públicas e na obtenção de investimento.
Os
ganhos, segundo o presidente do conselho deliberativo do Instituto
Ethos, Sérgio Mindlin, vão além da visibilidade e podem ser revertidos
em melhorias de processos, com consequências positivas para a sociedade.
“Muitas dessas questões sociais e ambientais com as quais as empresas
se defrontam são efeitos que elas provocam externamente e cujos custos
elas nem sempre assumem”. Como exemplo, ele cita o aumento de trânsito
como uma das implicações sociais decorrentes da construção de um
empreendimento empresarial. Segundo ele, se, contabilmente, a empresa
tivesse que reconhecer e se responsabilizar pelo efeito que ela provoca,
esse efeito estaria refletido nos negócios.
“O presidente de
uma empresa pediu para a equipe fazer um cálculo dos custos gerados
pelos impactos ambientais que a empresa provoca e pelos quais ela não
era responsabilizada. Esse custo era de algo em torno de 45% do lucro
naquele ano. Se ela tivesse que arcar com essa responsabilidade, teria
que informar no balanço financeiro”, exemplifica Mindlin, concluindo que
essa prática pode levar empresas a alterar processos e a minimizar
efeitos que provocam.
por Marina Schmidt
Fonte: JCRS
Nenhum comentário:
Postar um comentário