Amanhã, Dia da Consciência Negra, o mercado financeiro estará praticamente parado no Brasil. É feriado na cidade de São Paulo, onde estão as sedes dos grandes bancos e a BM&FBovespa que abriga a bolsa de valores brasileira e o mercado futuro e de opções de juros e câmbio -- uma das maiores praças de negociação de derivativos do mundo. A paralisação do mercado doméstico nesta quarta-feira é um evento importante porque investidores e instituições não terão brecha para abrir novas posições, sair do mercado ou mudar de opinião quanto à trajetória dos preços dos ativos, caso sejam surpreendidos por alguma informação econômica, financeira ou política ao longo do dia. E não dá para contar com a sorte porque a agenda desta terça-feira –especialmente a política-- é da pesada.
A presidente Dilma Rousseff reúne o conselho político. A Câmara e o Senado e suas comissões têm um dia cheio. E, no plenário do Congresso Nacional, deputados e senadores terão uma longa e talvez tumultuada noite de votação. Amanhã, feriado em Sampa, Brasília continua operante e a agenda de indicadores americanos é de amargar. Tem inflação ao consumidor, vendas no varejo e vendas de imóveis usados. O dia termina com a publicação da ata do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed), o BC americano, que é o dono da bola no momento. É do Fed que se espera sinalização sobre o momento em que os estímulos monetários à economia começarão a ser retirados. E a sua ata deverá detalhar os argumentos que prevaleceram para que a instituição não começasse a normalizar sua política monetária no mês passado.
Em um explícito esforço para evitar pautas com impacto nas contas públicas, a presidente Dilma comanda hoje, às 16 horas, a reunião do conselho político – formado pelos presidentes e líderes de partidos governistas na Câmara e no Senado e alguns ministros. A última reunião formal desse conselho ocorreu em maio de 2012. E o encontro de hoje só confirma a importância e a necessidade de ser firmado um compromisso (político) coletivo pela responsabilidade fiscal. Estão no pipeline para votação na Câmara o projeto que estabelece o piso nacional dos agentes de saúde e a proposta de emenda constitucional que fixa um piso nacional para os policiais militares e bombeiros. A aprovação de ambos, já batizados de “bombas fiscais”, terá um impacto nas contas públicas estimado em R$ 46 bilhões.
Frear a aprovação de projetos que elevem despesas ou reduzam receitas envolve conceitos simples. No entanto, a dificuldade para se chegar a um compromisso é imensa e cabe à presidente Dilma tentar costurar acordos com o Parlamento. Inclusive, porque o cenário econômico internacional não está sereno o bastante para que o Brasil corra riscos que pode evitar. Neste momento, o mais perturbador deles é a possibilidade de uma agência de rating rebaixar a classificação do país. E isso pode acontecer em caso de leniência na busca e no cumprimento de metas que o próprio governo elegeu como as adequadas para que nossa economia esteja blindada, especialmente, de petardos externos. Já temos “bombas” de fabricação própria e armadas para explosão a qualquer tempo.
Mentor de Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com a possibilidade de rebaixamento da dívida brasileira no primeiro trimestre de 2014, informam os jornalistas Cristiano Romero, editor-executivo, e Vera Brandimarte, diretora de Redação do Valor. “Se isso sair, é muito grave”, teria comentado Lula numa conversa recente, segundo relato de um interlocutor.
O ex-presidente continua com o propósito de viabilizar a reeleição de Dilma e, portanto, de não se candidatar em 2014. Mas já não esconde inquietação com os problemas do governo e a chance de um downgrade é um exemplo.
Em reportagem antecipada ontem à tarde no Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, e publicada na edição impressa desta terça-feira, os jornalistas relatam que o ex-presidente, de certa maneira, se sente impotente. Ao longo do ano, protagonizou três movimentos para tentar ajudar o governo a superar aquilo que é considerado o ponto fraco da gestão Dilma: a credibilidade da política econômica.
No primeiro movimento, Lula liberou a presidente para substituir Guido Mantega no Ministério da Fazenda, uma vez que o ministro fora indicado por ele.
No segundo movimento, realizado há três meses, manifestou explicitamente o desejo de que Dilma demitisse Arno Augustin do comando do Tesouro Nacional.
Mais recentemente, Lula articulou, no Congresso, a aprovação de projeto que daria autonomia formal ao Banco Central. Mesmo sabendo da iniciativa, e concordando com ela, a presidente abortou a missão depois de ver o assunto vazar na imprensa, dando a ideia de que o ex-presidente estava tutelando sua administração.
“Lula calculou que a aprovação da autonomia do BC não teria custo algum para Dilma. Seria algo que viria do Congresso”, conta um aliado. “Seria a reforma mais barata [do ponto de vista político] que o governo ia fazer. Jogava uma pauta que era uma pauta de arrumação. Zero custo.”
Outro petista influente sustenta que Lula até gostaria de voltar à Presidência da República, acha inclusive que venceria a eleição, mas que só fará isso se Dilma desistir da candidatura, o que todos consideram improvável.
por: Angela Bittencourt
Fonte: Valor
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