Por meio de testes que levaram em conta períodos de até dez anos, Malheiros mostra que não só estratégias baseadas em análise gráfica podem ser lucrativas como também podem ser utilizadas por investidores de longo prazo. A mais bem-sucedida estratégia relatada em seu livro “Operando com trading system na Bolsa de Valores” acumulou rentabilidade de nada menos que 690% de 1º de janeiro de 2001 a 30 de novembro de 2010, período em que o Ibovespa subiu “apenas” 339%. Seu nome não poderia ser mais sugestivo: São Tomé, o santo que precisou “ver para crer”.
Mesmo neste ano, o desempenho da carteira que utiliza esta estratégia supera o Ibovespa. Entre 1º de dezembro de 2010 e 27 de outubro de 2011, a carteira cai apenas 7,5%, frente a uma queda de 14,5% do índice. Estratégias como essa tem o mérito de eliminar o emocional do investidor e discipliná-lo, a fim de que ele não caia na tentação de sair de fazer algo diferente do estabelecido. Assim, ele pode programar as ordens de compra e de venda com base em determinados parâmentros, operar comprado ou vendido, e em diferentes janelas de tempo.
Veja três exemplos de estratégias bem-sucedidas para o curto, o médio e o longo prazo:
No curto prazo, a estratégia para as ações da Itaúsa (ITSA4) usando gráfico intraday de 120 minutos bateram o desempenho dos papéis tanto de 2007 a 2010, quanto em 2011. Essa estratégia usa o conceito de osciladores (Estocástico lento).
Estratégia StocLento | ITSA4 | |
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01/01/2007 a 30/11/2010 | 157% | 84% |
01/12/2010 a 30/09/2011 | 7,6% | -23,6% |
No médio prazo, a estratégia Squeeze não consegue bater o índice no longo prazo, apenas em 2011. Essa estratégia utiliza o conceito de Bollinger Bands sobreo gráfico diário.
Estratégia Squeeze | Ibovespa | |
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01/01/2001 a 30/11/2010 | 271% | 339% |
01/12/2010 a 27/10/2011 | -10,0% | -14,5% |
Já no longo prazo, a estratégia São Tomé, que opera uma carteira de dez papéis entre os 22 mais negociados, supera com folga o Ibovespa tanto no longo quanto no curto prazo. Esta estratégia utiliza médias móveis sobre o gráfico semanal.
Estratégia São Tomé | Ibovespa | |
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01/01/2001 a 30/11/2010 | 690% | 339% |
01/12/2010 a 27/10/2011 | -7,5% | -14,5% |
Em seu livro, o professor Rivadavila testa quinze estratégias, para exemplificar como elas podem ser montadas e testadas. “A ideia é explicar para o leitor que antes de pôr dinheiro em jogo, ele deve construir sua estratégia, simulá-la no passado e tirar as estatísticas, para saber se ela é bem-sucedida e qual foi o risco”, diz Malheiros. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
EXAME.com - As estratégias relatadas no livro são apenas para operar no curto prazo? Ou podem ser utilizadas para períodos mais longos?
Rivadavila Malheiros - Há estratégias para curto, médio e longo prazo. A primeira coisa que o investidor deve fazer é escolher o seu perfil, pois isso determinará o tipo de gráfico que será utilizado, se intraday, diário ou semanal. Se o investidor só tem tempo de acompanhar o mercado uma vez na semana, não faz sentido montar uma estratégia para day trade. Também não faz sentido operar no curto prazo se a pessoa não tem emocional para aguentar as oscilações diárias. A estratégia tem que ser compatível com as condições do investidor.
As pessoas têm uma ideia errônea de que a análise gráfica é para operar no curto prazo e a análise fundamentalista, para o longo prazo. Mas você pode usar a análise gráfica para montar estratégias de longo prazo também, e a análise fundamentalista pode ser usada até para day trade. Por exemplo, dados sobre o desemprego nos Estados Unidos são informações fundamentalistas que vão surtir efeito na manhã do dia em que ocorre a divulgação. Sabendo disso, eu posso operar com base naquela informação.
EXAME.com - Fale um pouco sobre a estratégia São Tomé.
Rivadavila Malheiros - Esse trading system utiliza o conceito de médias móveis em um gráfico semanal sobre uma cesta de papéis que formam uma carteira, onde nenhuma ação tem peso maior que 10% do patrimônio. Assim, é possível comparar seu desempenho com o do Ibovespa. O sistema operava as 22 ações mais líquidas dos últimos anos, mas só mantinha em carteira no máximo dez papéis por vez, seguindo uma estratégia de compra com determinados parâmetros.
Entre maio e novembro de 2008, por exemplo, todos os papéis só caíram, e o sistema disse “fique fora”. Assim, nesse período, não foi gerada nenhuma operação. Houve momentos em que havia indicação de alta para apenas cinco papéis, o que significa que o dinheiro que teria sido aplicado nos demais cinco papéis ficou em caixa, e poderia ter sido usado para comprar títulos de renda fixa, por exemplo.
EXAME.com - Para o senhor, o objetivo de operar usando estratégias não é necessariamente bater o mercado, mas conseguir operar de forma consistente e sem improvisação. O que isso significa, exatamente?
Rivadavila Malheiros - Significa ter disciplina. Depois de determinar o tempo gráfico em que você quer operar – se curto, médio ou longo prazo – o investidor escolhe se vai operar só comprado, só vendido, ou se vai montar uma estratégia que aproveite tendências de alta e de baixa. A partir daí, ele monta uma estratégia que vai obrigá-lo a comprar ou vender sempre que as condições pré-determinadas forem atingidas.
Montar a estratégia antes de o mercado abrir é fácil, mas quando o mercado está em funcionamento, muitas vezes o investidor é traído pelo psicológico. A ação que ele está operando pode estar subindo 5% e o computador vai dizer “compre”. Mas o investidor vai ficar em dúvida sobre se não é hora de vender. O emocional pode contaminar as decisões. Por isso é melhor automatizá-las. Pode ser que ao final do dia aquela ação tenha subido 10%.
EXAME.com - O senhor fala em testar todas as estratégias antes de pô-las em prática. Como essa testagem é feita?
Rivadavila Malheiros - Às vezes o investidor têm ideias que parecem ótimas a partir da observação dos gráficos, mas não sabe se elas vão de fato funcionar. Por isso é preciso testá-las. Vamos supor que você monte um sistema que compra ações de uma determinada empresa toda segunda-feira e as vende toda sexta-feira. Será que isso dá dinheiro? Você então testa essa estratégia utilizando o desempenho passado do mercado, para gerar uma série histórica de como aquela estratégia teria performado até ali – se ela teria sido lucrativa ou não.
Para isso, o investidor utiliza um software gráfico de back test, que lhe permite estabelecer os parâmetros da sua estratégia e testá-la no tempo. Você pode programar um período, por exemplo, de dez anos – de janeiro de 2001 a janeiro de 2011 – e tirar as estatísticas de erros e acertos. Hoje esse tipo de software já está disponível para qualquer investidor. Foi daí que veio a motivação para eu escrever o livro. Hoje em dia, essas estratégias são acessíveis para qualquer um.
EXAME.com - Mas rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura...
Rivadavila Malheiros - Realmente não é, e a testagem não é garantia nenhuma. O que o back test faz é filtrar as más estratégias, aquelas que têm sido mal sucedidas. Se a estratégia que o investidor montou não funcionou no tempo, ele já pode descartá-la. E ele não precisa descobrir isso perdendo 20% de seu patrimônio.
EXAME.com - Alguma das estratégias mostradas no livro foram testadas e obtiveram sucesso de 2008 para cá?
Rivadavila Malheiros - As estratégias boas para médio e longo prazo foram testadas de 2001 até o final de 2010, e aquelas para o curto prazo, de 2007 em diante. De 2008 para cá, as estratégias para operar vendido tiveram desempenho fantástico. Por outro lado, para um investidor que opera comprado, uma queda de apenas 8% na sua carteira num ano em que o Ibovespa recua 24%, significa que sua estratégia é boa. Quando o Ibovespa se recuperar, sua carteira vai ter alta.
EXAME.com - Que tipo de estratégia seria interessante para um momento volátil e incerto como o do mercado atual?
Rivadavila Malheiros - Este ano tem sido ótimo para testar estratégias. As melhores para um período como esse são as de curtíssimo e curto prazo – day trade ou swing trade. Como a volatilidade está alta, dá para lucrar com essas oscilações, independendo se é para operar comprado ou vendido. O mercado este ano subiu e desceu, com altas e baixas amplas, mas de curto prazo.
Fonte: Exame
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