sábado, 26 de maio de 2012

26/05 Governo força queda de juros, mas crédito fica ileso


Como endividamento das famílias e inadimplência estão altos, seletividade dos bancos está maior, limitando a expansão.
O crescimento de 1,2% do crédito brasileiro em abril decepcionou os analistas e mostrou que o esforço de redução dos juros pelo governo não está impulsionando o mercado como o esperado.
De acordo com dados do Banco Central divulgado nesta sexta-feira (25/5), o estoque total de crédito subiu para R$ 2,1 trilhões, enquanto a taxa média de juros caiu 2 pontos percentuais, para 35,3%.
"Aliado à diminuição da taxa Selic, o impacto do recente movimento, liderado pelos bancos públicos, de redução mais agressiva nas taxas de juros das diversas modalidades de crédito, e posteriormente seguida pelos bancos privados, se mostrou eficaz no sentido de diminuir a taxa de juros", notou a economista da Rosenberg Consultores Associados, Thaís Marzola Zara.
Segundo ela, também houve redução na taxa de captação, o que levou à queda do spread bancário - diferença entre a taxa de captação dos bancos e os juros cobrados dos clientes.
Também para o economista da LCA Consultores, Wermeson França, as medidas do governo têm surtido efeito de uma maneira geral, já que a queda dos juros foi bem acentuada na passagem mensal.
Porém, se ambos os economistas concordam nos reflexos nos juros, eles também têm visões semelhantes em relação ao impacto limitado na concessão de empréstimos.
"O crédito não reagiu com essa redução, o que reforça a expectativa de que o que está limitando a expansão do mercado é o elevado endividamento das famílias", explicou França.
Essa alta proporção de dívida se reflete em processos mais rígidos na concessão de crédito, devido ao temor dos bancos em relação à inadimplência, cuja taxa média aumentou 0,1 ponto percentual, para 5,8%.
A seletividade é outro ponto que merece atenção, já que o ganho de participação de mercado dos bancos públicos indica uma possibilidade de relaxamento das restrições no processo de concessão de empréstimos.
Nesse ponto, Thaís fala em ingerência política e diz que "a tentativa do Governo de impulsionar a demanda interna via aumento ainda maior na oferta de crédito incorre num risco já que a inadimplência segue em patamares acima do habitual".
Por sua vez, França acredita que, além da pressão do governo, o perfil de crédito dos bancos públicos também é menos arriscado: boa parte da carteira da Caixa Econômica Federal é de crédito habitacional, enquanto a do Banco do Brasil tem forte foco em crédito consignado.
Segundo França, a inadimplência a pessoa física, que subiu 0,2 ponto percentual para 7,6% em abril, não é tão preocupante porque não está muito acima da média histórica, em torno de 7,1%.
O que chama a atenção, no entanto, é o segmento de financiamento de veículos, que teve o terceiro mês consecutivo de recorde na inadimplência, com queda de 0,8% na concessão de crédito.
Perspectivas
Com o resultado de abril, o economista da LCA reduziu a expectativa de crescimento de crédito em 2012 de 18% para 17%.
No entanto, França acredita que a economia brasileira deve melhorar no segundo semestre deste ano, seguindo as medidas anunciadas pelo governo. Dessa forma, a inadimplência deve cair para 6,5% até o final de dezembro.
"O Brasil vai reagir às medidas do Ministério da Fazenda. O único erro tem sido apostar tanto no mercado de crédito de veículos, que está saturado e com elevado nível de inadimplência, ainda em tendência de aceleração", conclui o economista
por Giulia Camillo

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