Falta de estrutura e pressão de alguns segmentos, através de mecanismos medievais e da ameaça de demissões de trabalhadores, fazem o governo tomar atitudes que geram dúvidas quanto ao impacto no futuro. Um exemplo é a redução de impostos para automóveis, como o IPI zero para os carros nacionais de até mil cilindradas, que valerá até 31 de agosto próximo. Neste caso, os compromissos das montadoras é de que haja redução nos preços de aproximadamente 10% e de não ocorrerem dispensas de funcionários. A tese é de que a “marolinha” de plantão somente dure por tempo determinado.
O governo também reduziu o IOF sobre financiamentos para pessoas físicas, de 2,5% para 1,5% e diminuiu o compulsório dos bancos para financiamentos de veículos. Essa manobra perigosa busca manter o crescimento, inicialmente previsto em 4,5%, mas que, conforme Brasília já reconhece, será menor até o final do ano.
As justificativas sempre são as mesmas: os problemas da Zona do Euro, a redução do crescimento norte-americano e a retração do PIB Chinês. Por consequência, o governo estimula as pessoas mais humildes a consumirem, como fazem os Estados Unidos ao incentivarem o consumo como mecanismo de recuperação. Contudo, não podemos aplicar soluções similares em economias diferentes.
A preocupação do governo, ignorando uma redução de arrecadação em torno de R$ 900 milhões até agosto próximo, é manter o nível de emprego. Entretanto, a situação que se apresentou favorável em 2008 poderá não ser em 2012, em virtude dos problemas conjunturais dos países em crise.
Estimula-se o crédito de maneira agressiva. Com isso, cria-se uma grande bolha, em virtude do aumento da inadimplência que vem ocorrendo. Portanto, isso prejudicará o sistema financeiro, e o governo será o principal responsável pela falência das pessoas físicas altamente endividadas e à mercê dos bancos. Estes, embora reduzam os juros, aumentam as tarifas de serviços, e muitos, na prática, talvez não tenham o benefício da queda das taxas, em virtude de já estarem totalmente endividados por obrigações assumidas anteriormente. Ou, ainda, devido ao fato de a análise dos bancos para concederem crédito imputar uma taxa de risco maior, compensando a diferença dos juros reduzidos.
Está na hora de medidas estruturais que solucionem problemas como a infraestrutura precária, que encarecem os produtos e seu transporte... e o governo querendo que as pessoas comprem mais carros, tornando mais caótico o trânsito. Gestão de país tupiniquim faz-se com política tupiniquim. Se o povo não abrir o olho, ficaremos em situação pior do que os norte-americanos quando estourou a bolha do crédito imobiliário. No entanto, em nação emergente só tem uma saída: moratória! E esta é a pior situação que a população poderá vivenciar, com carestia generalizada, retorno da inflação e desemprego em massa.
por Reginaldo Gonçalves é coordenador de Ciências Contábeis da FASM (Faculdade Santa Marcelina).
Fonte: INCorporativa
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