As micro e pequenas indústrias (MPIs) de São Paulo vivem um momento difícil, a exemplo do setor em geral, com baixo nível de investimento, crédito caro e excesso de burocracia, mas a percepção desses empresários a respeito da situação atual vai na contramão do desânimo que as sondagens de confiança fazem supor.
A pesquisa "Panorama da Micro e Pequena Indústria de São Paulo", encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi-SP) ao Datafolha, mostra que apenas 19% das MPIs realizaram investimentos nos 12 meses entre março de 2013 e fevereiro de 2014. O dado envolve aquisição de máquinas e equipamentos, reforma ou ampliação do espaço físico. O emprego adicional de mão de obra também tem sido baixo. Apenas 12% abriram novas vagas (outras 13% demitiram) no período e 43% informaram ter percebido alta significativa nos custos de produção.
Segundo o presidente do Simpi-SP, Joseph Couri, o percentual de MPIs que estão investindo é muito pequeno e denota a dificuldade por que passa o setor. "O normal é que pelo menos 25% das empresas façam investimentos a cada ano, assim, a cada quatro anos teríamos uma renovação do parque fabril."Couri vê nesse cenário também uma ameaça ao emprego industrial. Em São Paulo, embora responda por apenas 25% do PIB industrial do Estado, as micro e pequenas representam 95% do total de empresas e empregam 1,5 milhão de pessoas, ou 65% da mão de obra do setor.
A principal dificuldade citada pelos empresários na pesquisa é a burocracia, com 27% das respostas, percentual acima do crédito (20%), dos impostos (12%) e da mão de obra especializada (7%);
Apesar das dificuldades relacionadas ao crédito não terem sido muito citadas, as condições das MPIs nesse quesito são adversas. Segundo a pesquisa, pelo menos 26% dessas empresas têm como fonte de recursos linhas de crédito caras e de curto prazo, como empréstimo pessoal, cheque especial e empresas ou pessoas que fornecem empréstimos. Apenas 36% acessam linhas de crédito para pessoal jurídica.
O presidente do Simpi-SP destaca o restrito acesso que essas empresas têm a linhas de crédito subsidiadas, como as do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "São empresas com baixo faturamento, que necessitam de valores pequenos. E empréstimos abaixo de R$ 15 milhões não acessam o BNDES de forma direta, mas sim o agente financeiro, que é mais caro", afirmou.
Couri afirma que benefícios como a desoneração da folha de pagamento não chegam a essa fatia do setor produtivo. Segundo ele, enquanto os setores beneficiados pelas políticas do Plano Brasil Maior, do governo federal, pagam o equivalente a 1% ou 2% do faturamento a título de contribuição previdenciária, nas MPIs esse percentual é equivalente a 4,6%.
"As empresas que estão no Simples foram excluídas dessa redução de tributos", disse. Embora, teoricamente, as empresas paguem menos por estarem em um regime tributário diferenciado, Couri defende que isso não impede o governo de conceder um alívio maior da carga de impostos.
Se a pesquisa do Simpi-SP mostra um setor que enfrenta fortes dificuldades com o atual panorama macroeconômico, as respostas revelam micro e pequenos empresários mais satisfeitos do que se poderia supor. Questionados sobre como avaliam a situação da empresa, 46% deles responderam "ótima ou boa" e 37% "regular". Apenas 17% afirmaram "péssima". Os dados revelam que 56% das pequenas empresas estão em ótima ou boa situação, o que acontece com 44% das micro.
Na parte dedicada ao perfil dos empresários, a pesquisa mostra que 62% deles deixaram o emprego para abrir um novo negócio e 68% se consideram em situação financeira melhor em relação ao período em que não eram empresários; 69% consideram que a vida de um modo geral está melhor que antes. "Percebemos que, na média, o empresário está satisfeito em ter aberto um negócio", afirmou Couri.
Avaliações um pouco menos positivas ocorreram em quesitos como faturamento (36% ótimo, 37% regular e 19% ruim) e margem de lucro (33% ótimo, 37% regular, 28% ruim). Disponibilidade de capital de giro é considerada boa (51% responderam ser exatamente o que precisam) e o endividamento é de moderado a baixo.
O empresário da micro e pequena indústria é predominantemente masculino (77%), com idade entre 35 e 59 anos (71%). Dos entrevistados, 45% têm curso superior e, 39%, o ensino médio. A renda predominante é de R$ 3.620 a R$ 7.240 (32%). Outros 12% têm renda acima de R$ 7.240. Segundo o presidente do Simpi-SP, um dos objetivos do levantamento é mudar a imagem do setor. "Não somos frágeis ou despreparados. Somos 280 mil empresas no Estado, responsáveis pelo emprego de um 1,5 milhão de trabalhadores".
A pesquisa foi feita entre cerca de 3,1 mil micro e pequenos empresários e apresenta dados consolidados entre março de 2013 e fevereiro de 2014. A idade média das MPIs é de 16 anos e o faturamento médio mensal é de R$ 120 mil.
Fonte: Valor Econômico
Via Seteco
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