O processo de incorporação e fusão, com empresas maiores “engolindo” as menores, tende a crescer rapidamente entre os escritórios de contabilidade do país. A pulverização de pequenas empresas explica esse fenômeno: das 82.622 organizações contábeis atuantes no Brasil, das quais 20.544 instaladas no Estado de São Paulo, apenas mil escritórios se classificam como de grande porte. O restante se divide entre pequenos e médios. Outra razão para essa disputa de mercado é a receita líquida operacional que ficou em expressivos R$ 238 bilhões em 2011, representando 6,47% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o último dado divulgado pelo IBGE.
Diferentemente de outros setores, o processo de aquisição nessa área tem um elemento complicador: a fidelidade e a confiança da “empresa cliente”. Muitas vezes, quando o escritório muda de dono, o cliente muda de escritório, o que vem se resolvendo com novos arranjos no próprio mercado. “A média anual de crescimento em número de escritórios foi de 3% nos últimos dez anos, somando 4,5 milhões de empregos diretos”, afirma Mário Berti, presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon)
Esse crescimento no número de escritório, no entanto, não é sinônimo de qualidade na prestação de serviços, na opinião de Sebastião Luiz Gonçalves, coordenador da 3ª Câmara de Fiscalização do Estado de São Paulo. “Estamos assistindo a uma mudança cultural enorme no setor. Temos uma grande quantidade de escritórios, mas com baixa qualidade. A tendência é que, em um curto prazo, os maiores e melhores escritórios incorporarem os pequenos.”
Cerca de 80% dos escritórios são pequenos e médios. “Mesmo em São Paulo, dá para contar nos dedos os grandes escritórios”, afirma Gonçalves que também integra o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo. Para o conselheiro, “o número de escritórios tem crescido ano a ano, mas com baixa qualidade”. “As pessoas se formam e abrem seus próprios escritórios. A tendência, a médio e curto prazo, é que muitos deles fechem as portas. Tenho visto muitos escritórios sumindo e vendendo a sua carteira, porque não conseguem assimilar as mudanças que estão ocorrendo”, reforça.
A compra de novas carteiras requer cuidado e uma pesquisa aprofundada, na opinião de especialistas. “Esse segmento está vivendo um momento de consolidação. Há uma grande procura por parte das empresas de porte em adquirir carteiras de clientes das pequenas e médias empresas. Também estamos sondando o mercado, mas é preciso ter cuidado”, observa Silvinei Toffanin, diretor da Direto Contabilidade, Gestão e Consultoria, há 17 anos no mercado.
Segundo Toffanin, há uma relação muito próxima entre o cliente e o dono da empresa. “A aquisição pode resultar em uma perda imediata do cliente”, diz. Nesse caso, observa o diretor, é necessário que seja feito um trabalho muito bem elaborado.”
A Direto começou a analisar esse mercado em junho de 2013 e está buscando oportunidades”, relata. “Um dos alavancadores do processo de fusão e aquisição tem sido as empresas de auditoria, que estão entrando nessa área de consultoria, que engloba outsourcing contábil”, diz o diretor, que conta hoje com 120 clientes distribuídos entre as áreas de outsourcing – equipes operando dentro das empresas, numa espécie de terceirização – e de insourcing, que inclui a coleta de informações dos clientes para ser processadas dentro dos escritórios. “O faturamento da companhia tem crescido entre 15% e 20% ao ano e o Imposto de Renda Pessoa Física representa algo ao redor de 2%. A maior parte do nosso faturamento vem do outsourcing por conta das nossas especializações na área”, informa.
Marcelo Lico, sócio-diretor da Crowe Horwath Brasil, acrescenta que nos dias de hoje não se fala mais em “escritórios de contabilidade, mas em empresas de contabilidade”. “As estruturas são montadas não apenas para prestar serviços de contabilidade, mas praticamente para ser um consultor. A contabilidade no Brasil está passando por um momento de transformação por causa do International Financial Reporting Standards (IFRS) -, normas internacionais de contabilidade que são seguidas no país”, completa Lico, que conta com 300 clientes e se especializou na área imobiliária.
“Todas as grandes empresas do setor imobiliário são nossas clientes. Atendemos ainda companhias de médio e grande porte e internacionais. Somos uma empresa de auditoria e consultoria, e a contabilidade é um dos produtos que oferecemos”, afirma. Ainda segundo o diretor da Crowe, “há um movimento forte de consolidação do mercado” e o escritório vem analisando possíveis negócios para futuras fusões e aquisições. “Já tivemos várias conversas nesse sentido, mas ainda não fechamos nenhum negócio”, diz.
Na Crowe Horwath, o ritmo de crescimento do faturamento, nos últimos três anos, atingiu 35%. “Prestamos serviços extras para ‘apagar incêndio’, e isso alavanca a receita. Temos 160 colaboradores, dos quais 60 na área de contabilidade”, diz. De acordo com a Fenacon, as empresas contábeis de menor porte faturam, por mês, em média, R$ 50 mil.
Por Rosangela Capozoli | Para o Valor
Via CFC
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